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José Bonifácio de Andrada e Silva moldou as instituições de uma nação chamada Brasil. O 7 de Setembro de 1822 foi possível porque estava em vigor um acordo político, costurado por ele: os republicanos aceitaram uma monarquia comandada pelo herdeiro do trono português, e este, o poder de um parlamento.
Esse contraponto entre fontes de poder tornou-se uma constante na vida brasileira. O Congresso Nacional, com seus 180 anos de funcionamento quase ininterrupto, é o terceiro mais experiente em todo o planeta.
A longa duração no tempo e a variedade de circunstâncias que as instituições brasileiras suportaram são os fatores históricos que tornam importante o conhecimento do projeto original de José Bonifácio de Andrada e Silva.
Ele tinha 59 anos de idade quando foi nomeado ministro, em 1822. Nascido em Santos no dia 13 de Junho de 1763, deixara o Brasil com dezenove anos para estudar em Coimbra. Aluno brilhante, tornou-se membro da Academia de Ciências de Lisboa, ganhando uma bolsa de estudos do governo português para se aperfeiçoar em vários países da Europa.
Começou a viagem em 1970. Viu de perto o início da Revolução Francesa, em contato com iluministas que pretendiam transformar seus ideais em prática social.
Prosseguiu os estudos na Alemanha, enquanto os iluministas locais, sem acesso ao poder político, aplicavam suas idéias nas universidades. Foi à Europa Central e à Escandinávia, onde realizou pesquisas minerais. Suas descobertas deram-lhe fama internacional.
De volta a Portugal, em 1800, dirigiu instituições técnicas; comandou a instalação de siderúrgicas; chefiou o departamento de bosques. Além disso, trabalhou como intelectual, em Coimbra e na Academia de Ciências.
Voltou ao Brasil em 1819. Em Santos, comprou um sítio – e só neste ponto da vida ocupou um cargo político. Em 1822, nomeou-o o regente Pedro de Alcântara, que tinha muito entusiasmo. Já Bonifácio tinha um plano bastante preciso de ação.
Em três meses, a dupla foi longe. Cortesãos formados na crença de um poder de fonte popular, enquanto republicanos ensaiavam os vivas ao monarca. Esses duros exercícios de tolerância permitiram, ainda antes da separação: uma Constituinte, a nomeação de embaixadores, a reunião de forças militares, o afastamento do poder de pessoas que poderiam ser leais a Lisboa. Assim foi possível uma separação rápida entre Brasil e Portugal. Essa parte do plano havia funcionado. Já a seguinte, a divisão do poder nacional com parlamentares eleitos, não foi tão simples. D. Pedro I resistiu ao Parlamento.
O autor do projeto era o ministro encarregado de executar ações de governo e , ao mesmo tempo, o parlamentar que instituía os limites do poder. Tal duplicidade derrubou José Bonifácio. Mas ele caiu em pé, optando pelo Parlamento. Seu período parlamentar foi marcado pela apresentação de alternativas para a inclusão de índios e escravos na vida de cidadãos.
A opção pela utopia dos excluídos lhe valeu seis anos de exílio na França. José Bonifácio voltou em 1982, a tempo de ver o imperador derrubado pelo Parlamento, em 1831. Nomeado tutor de D. Pedro II, foi então, pela segunda vez, afastado do poder. Retirando-se para Paquetá, morreu em 1838.