Do ponto de vista francês, a América Latina aparece como a região que mais pode contribuir para a “mundialização democrática”, por sua dimensão multilateral. Essa é a opinião da pesquisadora francesa Sophie Jouineau, apresentada em palestra sobre o tema “América Latina: uma perspectiva francesa”, na Biblioteca Latino-americana Victor Civita, nessa terça-feira, 10 de outubro. “Uso a expressão mundialização por que esse conceito enfoca Estados e não apenas um processo econômico”, como parece querer indicar a palavra “globalização”.
Sophie Jouineau é diplomata e doutora em Ciências Políticas pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po, France) e atua como membro do Conselho Científico da Revista “Problèmes d’Amérique Latine”. O evento contou com a participação do cônsul-geral francês em São Paulo, Jean-Marc Gravier, e do diretor do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, professor Eliézer Rizzo de Oliveira, deste Memorial.
A intelectual começou por mencionar que as responsabilidades internacionais de seu país – a presença francesa nas Antilhas e na Guiana, o processo de integração continental (a União Européia) – fazem com que a França veja a América Latina como região pacífica, sem conflitos abertos. “Mas é também uma região em transformação no campo da política, cuja forma de governo tende a se democratizar, com maior participação dos cidadãos”.
Exemplo desse dinamismo político é o caso da Bolívia. Jouineau defende que o importante seja identificar lideranças nesses processos de transformação. “O líder ideal é aquele que não quer ser hegemônico, mas trabalha pelo consenso”. Para ela, “o Brasil pode assegurar esse papel, ao conjugar a expansão econômica, a democracia e políticas contra a pobreza.”
Na relação bilateral França/América Latina, o país europeu quer mais do que aumentar as trocas comerciais, desenvolver a economia e manter um intercâmbio cultural. “Almejamos a verdadeira cooperação cultural e não apenas a comemoração histórica: conhecer outras culturas e incrementar a cooperação científica”.
No que toca a relação bilateral França/Brasil, Sophie Jouineau afirmou que ela é estratégica para seu país. Em maio deste ano, os dois países decidiram desenvolver um mecanismo de consulta política entre os dois Estados, com troca de mais diplomatas. Essa parceria visa a ação no mundo, como a cooperação no campo da paz. No ano passado, com a visita do presidente Lula à França, foi assinado um protocolo de intenção no campo da tecnologia, cujo desdobramento foi a criação de seis grupos de trabalho, com reuniões regulares. Concretamente, essa cooperação já resultou em acordos no campo dos radares e dos helicópteros militares.
Jouineau concluiu dizendo que a França é a favor da reforma do Conselho de Segurança da ONU e que o Brasil possa ter o estatuto de membro permanente. A pesquisadora tem participado de vários eventos e publicações que tratam de temas relacionadas à América Latina, por exemplo, no seminário Internacional sobre Missões de Paz, Segurança e Defesa, ocorrido no Rio em 2002 e no Anuário Francês de Relações Internacionais 2005, com o ensaio “Nouvelle intervention internationale em Haïti: le début d’um nouveau cycle politique?”.