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Os 17 anos da Fundação Memorial da América Latina – inaugurado em 18 de março de 1989 – foram comemorados com uma noite musical memorável no último sábado. No palco, a Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, com 70 instrumentistas, e o grupo Raíces de América, com nove músicos de diversos países da América Latina, entusiasmaram o público com uma mistura de músicas populares e eruditas.
As duas platéias estavam lotadas, reunindo cerca de 1.600 pessoas. O Raíces de América também tinha motivos para comemorar, já que completava 26 anos de estrada no mesmo dia 18. Logo que entraram no palco, levantaram a platéia cantando o “hino latino” Guantanamera, (composição de José Fernandez Díaz, baseado num poema de Jose Martí), acompanhados da Banda Sinfônica Jovem, sob regência da maestrina Mônica Giardini.
A primeira peça da noite foi a Abertura Cubana, de George Gershwin, executada pela Banda Sinfônica. Depois, a orquestra tocou parte do repertório de Raíces de América, que, nesses 26 anos de história, vem apresentando o melhor da cultura latino-americana ao público brasileiro, por meio dos grandes mestres como Violeta Parra, Pablo Milanés, Nicolas Guillén, Pablo Neruda, Victor Jara, Mercedes Sosa, Chico Buarque, Milton Nascimento, Vinicius de Moraes, entre outros, além de suas próprias composições.
O aniversário do Memorial vem sendo comemorado, na verdade, há mais de uma semana. No dia 11, a Jazz Sinfônica fez um belíssimo concerto em homenagem ao argentino Astor Piazzolla. No dia 17, o concerto da Banda Sinfônica do Estado foi encantador ao executar peças de compositores brasileiros e estrangeiros, incluindo o paulista Osvaldo Lacerda, que estava presente na platéia, com a mulher, a pianista Eudóxia de Barros.
No domingo, 19, foi a vez da inusitada apresentação conjunta de Tarancón e Língua de Trapo. Boa música e muito humor foram a tônica. Tarancón se ocupou da primeira parte do show, embora o seu percussionista, Jica, insistia em dizer que estávamos diante do Língua de Trapo! O Tarancón começou fazendo uma daquelas músicas conduzidas pela flauta andina que nos remetem ao clima bucólica das montanhas nevadas da Bolívia. Em seguida, deu um tratamento “latino-americano” a sucessos de Chico César e Zeca Baeiro.
Em dado momento “invade o palco” o Tarancón, digo, o Língua de Trapo. A confusão é compreensiva pois seus componentes – Laerte Sarrohumor à frente – estavam vestidos à lá paraguaios, mexicanos, peruanos… O vocalista segurava uma garrafa de uísque na mão direita. Acompanhados por Tarancón, o Língua de Trapo começou satirizando o forte preconceito brasileiro em relação aos produtos importados do Paraguai. Relembrando os 25 anos de carreira, o grupo satírico paulista executou suas paródias consagradas, como Country aos brancos, (“meu sonho era ser cowboy”), do disco de 1985. Imitando os trejeitos de um texano, Sarrohumor dedicou sua música a Lulu Santos (“Garota eu vou pra Califórnia…”).
Em seguida, reviveram a “dupla personalidade”, dupla caipira que narra os conflitos de um “comunista defensor da luta armada” que se apaixona por uma “cocotinha”, como eram chamadas as “patricinhas” da época. Ainda para aqueles “que estão amando”, eles entoaram uma música romântica cujo bis é impagável: “mulher de amigo meu é homem/ por isso você é o homem da minha vida”. A tiração de sarro não parou por aí – “Concheta, o Ascendedor da Seicho-no-ie”, e tome sátiras do japonês, do italiano, do argentino, do ex-deputado Roberto Jefferson…
No bis final, Tarancón e Língua de Trapo cantaram emocionados Mira Ira, composição de Lula Barbosa e Wanderley de Castro. Os componentes dos dois grupos estavam felizes por compartilharem o palco do Memorial. A Fundação também estava satisfeita por comemorar seu 17º. aniversário com tanta irreverência, humor e boa música. O público agradeceu. Mas as comemorações do aniversário do Memorial não param por aí. Elas terão seqüência com shows gratuitos nos dias 24 e 25 deste mês, desta feita com a participação das cantoras Maria Alcina, Rosa Marya e Célia.