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São Paulo, 4 de março de 2009.
“Chame as crianças para assistir aos ensaios, as partes que elas rirem, você corta!”, disse José Renato, na mesa-redonda que inaugurou o ciclo de debates do II Festival Ibero-Americano de Teatro. O diretor reproduziu a sugestão que escutou do dramaturgo Silveira Sampaio depois deste ter assistido ao ensaio de sua montagem para a comédia ‘Só o faraó tem almas’. José quis ressaltar a necessidade de filtros qualitativos para as encenações teatrais, um dos temas abordados na tarde, desta quarta-feira, dia 4 de março.
Além do idealizador do teatro arena, participaram da discussão autoridades da área, como o crítico teatral e ator, Alberto Guzik; a diretora e dramaturga Graça Berman, da Cia Letras em Cena e a argentina Mariela Asensio, que veio para o festival com a peça Crudo, todos sob mediação da experiente Renata Pallottini. E na platéia, alunos, interessados e professores de teatro ocupavam os lugares da aconchegante e intimista Sala dos Espelhos do Memorial da América Latina.
A mesa, que propunha analisar o “panorama atual do teatro paulista frente à América Latina, Portugal e Espanha”, foi aberta com um otimista discurso de José Renato: “noto que estão aparecendo novos e inúmeros bons autores que tem como resultado a formação de grupos de dramaturgia consistentes”. Segundo Renato, o maior entrosamento das companhias é um fator muito importante para a qualidade da montagem teatral.
Alberto Guzik, que a 60 anos está em contato direto com o teatro, faz parte atualmente da Cia Satyros e está em cartaz com “O monólogo da velha apresentadora”, contou um pouco de sua trajetória: “comecei aos 5 anos de idade, fiquei 36 anos afastado dos palcos, trabalhando com crítico, nesse tempo todo pude registrar e teorizar muita coisa”, e continua, “sempre tive bons contatos, depois que recebi minha carta de alforria, recebi convites para participar de produções mais comerciais, mas não aceitei”.
Mariela Asensio falou sobre a situação da Argentina. Segundo a diretora, em seu país as cias teatrais estão divididas em três circuitos: o oficial, que tem incentivo do governo; o comercial, bancado pelo investimento privado; e o independente que nasce e sobrevive como pode. “Acho que em comum, o Brasil e a Argentina têm o teatro intimamente ligado às crises sociais e econômicas“, acrescenta.
Graça Berman, por sua vez, não se mostrou tão esperançosa em relação à situação do teatro na capital paulista e problematizou algumas questões: “a qualidade das peças caíram demais, antigamente as apresentações ficavam em cartaz de quarta a domingo, com duas apresentações na sexta, no sábado e no domingo, hoje acontecem só nos finais de semana! Cadê o aumento de público?”, questiona a diretora.
Segundo Berman, diminuir as sessões dos espetáculos foi uma solução encontrada para combater a escassez de público. Foi consenso entre os presentes que o grande vilão da falta de interesse pelo teatro da população brasileira, não só paulista, é a televisão – mal este que ao mesmo tempo em que propõe um divertimento a baixo custo, incita o medo à violência, às ruas e a vida noturna.
A programação do Festival de Teatro segue com debates. Na quinta-feira, às 16h, a mesa-redonda composta pelos convidados Nancy Fernandes Manzano, José Manuel Lázaro e o diretor espanhol Jorge Sánchez-Cabezudo, aborda o tema “O papel das escolas de teatro”.
Por Gabriela Mainardi
Fotos: Fábio Pagan
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