Memorial da América Latina lança 56ª edição da Revista Nossa América
Edição homenageia centenário dos escritores Clarice Lispector,
João Cabral de Melo Neto e Mario Benedetti
O Memorial da América Latina lança, em versão digital, o novo número da Revista Nossa América, que é um tributo ao centenário de três escritores latino-americanos: Clarice Lispector, Mario Benedetti e João Cabral de Melo Neto.
A edição nº 56 da Revista Nossa América, publicada pelo Centro Brasileiro de Estudos da América Latina (CBEAL), homenageia os escritores em seus centenários de nascimento, completados em 2020. Cada autor ganhou uma seção na publicação e pesquisadores foram convidados para escrever sobre diferentes aspectos da obra e do universo destes escritores.
As páginas de abertura de cada seção trazem trechos de obras dos escritores. Na seção de Clarice, há notas manuscritas de “A hora da estrela”; na seção de Benedetti, o poema “Por que cantamos”, e na seção dedicada a João Cabral de Melo Neto, um trecho de “Morte e vida severina”.
Além de fotos de acervo dos três escritores, a revista tem imagens do artista Carybé, que ilustrou o clássico “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto; do ilustrador uruguaio Manuel Loayza, e imagens exclusivas do artista e professor Elinaldo Meira, autor de um dos textos da edição.
A Revista Nossa América pode ser acessada, pelo público, a partir do dia 8 de setembro, no endereço www.memorial.org.br, no canal publicações: https://memorial.org.br/publicacoes/.
Edição 56 – tributo aos autores centenários da América Latina
Clarice Lispector
A capa da revista e a primeira seção são dedicadas à escritora brasileira Clarice Lispector com fotos do acervo do Instituto Moreira Salles. A revista é aberta com a entrevista com a professora Nádia Batella Gotlib, professora aposentada de Literatura Brasileira da USP. Nádia é autora de livros sobre Clarice, desenvolveu atividades de pesquisa e ministrou cursos de graduação e pós-graduação em várias universidades brasileiras e do exterior, como Oxford, na Inglaterra, e Buenos Aires e foi convidada pela Academia Brasileira de Letras (ABL) para fazer a conferência sobre Clarice Lispector na série de eventos chamada Cadeira 41.
Em seguida, ainda nessa seção, a crônica da atriz e diretora de teatro Vanessa Bruno conta como é a adaptação das obras de Clarice para o teatro. Vanessa relata, num texto carregado de emoção, como a pandemia da Covid-19 interrompeu as atividades teatrais e como Clarice a inspira para seguir nessa travessia.
Mario Benedetti
A seção do escritor uruguaio traz textos de pesquisadores da Universidad de la República, do Uruguai. O professor Pablo Rocca faz a análise de como Benedetti se tornou um escritor popular dentro e fora do Uruguai, sem contar com os mecanismos de publicidade, graças à universalidade de sua produção, que vai da poesia à prosa, passando pela crítica e pelos roteiros.
Pedro Russi e seu colega Pablo García contam, numa crônica, como o escritor soube eternizar as memórias latino-americanas, sejam as da infância, sejam as dos ciclos históricos do continente. A seção é encerrada com a publicação do poema “Pai nosso latino-americano”, que simboliza essa memória histórica latino-americana.
João Cabral de Melo Neto
O autor de “Morte e Vida Severina” foi homenageado no Memorial da América Latina com o evento “As traduções de João Cabral na América Latina”, mesa redonda realizada na Biblioteca Latino-americana. A Revista Nossa América traz a reprodução dos principais pontos dessa mesa.
Um dos maiores especialistas em João Cabral, o integrante da Academia Brasileira de Letras, Antonio Carlos Secchin mostra as diferentes faces do escritor, que era também diplomata: poeta, de grande qualidade, tradutor e também traduzido para vários idiomas.
O professor da USP, John Milton conta as técnicas e estratégias para traduzir o poema “Morte e Vida Severina” para o inglês. O leitor vai conhecer como o professor e tradutor trabalhou para traduzir para o inglês, expressões típicas do nordeste brasileiro.
O crítico de literatura e professor equatoriano Iván Carvajal Aguirre relata os bastidores da publicação, no Equador, de “Vivir en Los Andes”, poemas escritos sobre os Andes quando João Cabral foi diplomata no Equador. Carvajal comprova que João Cabral sempre levou, como referência para seus versos, o sertão brasileiro. Nestas páginas, o leitor encontrará um fac-símile com anotações do próprio João Cabral.
Publicação em tempos de pandemia
A produção da revista foi feita em meio ao isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Mesmo sendo um ano difícil, com muitas notícias ruins, o Memorial da América Latina não poderia deixar passar o compromisso com a difusão da arte, da cultura e da educação. A publicação da revista marca a particularidade desse ano 2020 tão singular também por reunir os centenários de três escritores tão importantes para a América Latina. Como está na capa, inspirada na paráfrase de textos dos três autores: “podem perguntar por que cantamos, se é difícil defender só com palavras a vida, ainda mais quando ela é severina. Mas é sempre preciso lembrar que é tempo de morangos”.
História da Revista Nossa América
Em março de 1989, nascia a Fundação Memorial da América Latina. E com ela, a Nossa América/Nuestra América, uma das revistas culturais mais antiga do Brasil, de circulação ininterrupta e internacional. Desde o início, Nossa América é um cartão de visita da Fundação para a América Latina. No Brasil ela é distribuída gratuitamente na Biblioteca Latino-Americana do Memorial. A publicação ainda é enviada por correio a cerca de 200 instituições que lidam com o conhecimento, a cultura e as artes, da Argentina até o México. No site da instituição, a versão digital pode ser lida por todos.
Nossa América/Nuestra América teve um início grandiloquente, como o próprio Memorial. Seu Conselho Editorial era presidido por Alfredo Bosi e dele faziam parte Antonio Callado, Augusto Roa Bastos, Darcy Ribeiro, Ernesto Sabato, Eduardo Galeano, Milton Santos, Leopoldo Zea, José Miguel Wisnik, entre outros importantes intelectuais latino-americanos. No rol de colaboradores, fizeram parte Antonio Candido, Gabriel García Márquez, Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gullar, Celso Furtado, João Ubaldo Ribeiro, Juan Carlos Onetti, Cacá Diegues, entre outros.
No segundo número da Nossa América/Nuestra América, de maio/junho de 1989, Alfredo Bosi, presidente do seu Conselho Editorial, escreveu: “nada substitui a informação idônea e a reflexão madura, corpo e alma de um projeto que se quer honesto”. Este é o espírito da revista até hoje. Nos primeiros anos ela publicou belos textos e imagens da hispano-américa. Era uma forma de apresentar ao leitor brasileiro os temas, países, culturas e geografias de seus vizinhos latino-americanos. Também foram editados artigos sobre integração econômica e cultural, ameríndios, direitos humanos, meio ambiente, dívida externa, cinema, artes plásticas, fotografia, dança, entre tantos outros. Uma linguagem que sempre se destacou é a literatura. Nossa América/Nuestra América foi, e ainda é, plataforma para ensaios, contos inéditos e poemas de alguns dos principiais escritores do subcontinente latino-americano.
Confira também os textos das obras dos homenageados na Revista Nossa América que podem ser acessados na Biblioteca Latino-americana Victor Civita: https://memorial.org.br/obras-dos-homenageados-na-nossa-america-podem-ser-lidas-na-biblioteca-latino-americana-victor-civita/
E o texto: Que seria de nós sem a literatura? : https://memorial.org.br/que-seria-de-nos-sem-a-literatura/