/governosp
O Memorial da América Latina comemorou o aniversário da cidade de São Paulo em grande estilo. As duas sessões do filme São Paulo, a Symphonia da Metróplole, às 17h e às 20h do dia 25 de janeiro, levaram mais de mil pessoas ao Auditório Simón Bolívar. O filme foi acompanhado de uma orquestra formada por alunos do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, que executaram a trilha do filme, composta em 1997 por Livio Tragtenberg e Wilson Sukorski, que acompanhavam a trilha com barulhos computadorizados e efeitos de sonoplastia inspirados nas novelas de rádio dos anos 40.
A orquestra de 16 músicos tocou ao mesmo tempo que foi exibido, no fundo do palco, o filme São Paulo, a Symphonia da Metrópole, de Adalberto Kemeny e Rudolph Lustig, empolgando o público. Filmada nos 20, a obra foi feliz em captar precocemente a pujança da cidade. Numa segunda tela, em paralelo à primeira projeção, foi apresentado um pequeno documentário contemporâneo com locações iguais às do primeiro filme. Foi interessante comparar as mesmas locações ontem e hoje e perceber como isso se refletiu nos novos arranjos de Tragtenberg e Sukorski.
O filme que fez o contraponto entre o passado e o presente da cidade, é uma produção do coletivo Sonoroscópio, do qual participam Celso Massola, Joana Cancio, Lucas Gervilla e Renato Hirsch, além de Livio Tragtenberg. Mas o que realmente chamou a atenção dos presentes foi ver cenas da cidade quando aqui ainda circulavam bondes e os habitantes eram pouco mais de 1 milhão.
Concertos com projeção do filme São Paulo, a Symphonia da Metrópole acontecerão este ano em Portugal, Finlândia e Alemanha. Em 2005 houve apresentações no auditório do Museu do Louvre, em Paris, de 7 a 9 de outubro, durante o Festival d´Automne. “O público francês ficou impressionado em saber que existe um filme sobre São Paulo feito naquela época sem ser uma coisa passadista, de museu”, conta Tragtenberg. “De fato, a principal característica do filme é ele ser vibrante e atual”, complementa.
Como sua música, aliás. A trilha sonora do filme foi concebida não apenas para dialogar com a proposta futurista do filme mas também como um “passeio” pelas diferentes formas da música de cinema ao longo do tempo. Como num percurso retrospectivo, a música se inicia com “ruidagem” sincronizada, passando pelas atmosferas dos pioneiros até ganhar maior independência, inclusive crítica, em relação às imagens.
Inspirado no filme alemão de 1927 Berlin, Sinfonia de uma grande cidade, de Walter Ruttman, a obra brasileira de Lustig e Kemeny celebra a moderna vida urbana e seus principais elementos: lá estão os atarefados homens de negócios, as fábricas e seus trabalhadores, as grandes avenidas e os distantes bairros operários. Ao acompanhar o ritmo forte da cidade em um único dia, do nascer ao pôr-do-sol, o filme e a música constróem um poema sonoro e visual à maior cidade do Brasil.
Os realizadores desses filmes foram influenciados pelo movimento cultural denominado Futurismo. Lançado pelo poeta italiano Filippo Tomaso Marinetti (1876 – 1944), em 1909, suas premissas alcançaram grande repercussão e influência nas primeiras décadas do século 20. Marinetti exaltava o dinamismo da vida moderna, a velocidade. O pintor futurista Giacomo Balla dizia que “um ferro elétrico é mais belo do que uma escultura”.
A fim de criticá-la, essa concepção foi levada às últimas conseqüências por Fritz Lang (1890-1976), também em 1927. O cineasta austríaco filmou uma cidade imaginária no futuro (2027) – Metropolis – na qual a humanidade vive escravizada justamente por máquinas.