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Recuperar, identificar, catalogar, e preservar as mais de mil peças pertencentes ao acervo de arte indígena da Cid Collection. Esta foi a missão atribuída ao Memorial em dezembro de 2005.
Por ordem judicial – depois de cinco meses trancafiada em um depósito na Lapa, sujeita às mudanças bruscas de temperatura, à umidade e às constantes chuvas – a coleção pessoal do banqueiro Edemar Cid Ferreira (a Cid Collection) passou para a guarda provisória do Memorial. As peças, supostamente adquiridas por meio de desvio de recursos do Banco Santos, puderam finalmente receber os cuidados necessários para sua conservação.
A Fundação aceitou o grande desafio de receber e recuperar esses objetos e contratou dois especialistas no assunto: o engenheiro químico Sérgio Magno Soares Floriano e a restauradora Daisy Estrá. Os dois, em conjunto com a equipe de restauro do Memorial, criaram métodos específicos de tratamento para cada classe de peças.
“Quando a Cid Collection chegou ao Memorial, foi constatada a manifestação de insetos e fungos”, lembra Daisy, “o trabalho de conservação é multidisciplinar, pessoas que atuam em reserva técnica precisam conhecer desde o processo de higienização até a confecção de embalagens”.
Foi assim que o Espaço 2 da Galeria Marta Traba, até então utilizado para exposições temporárias e algumas oficinas de criação, foi repensado para comportar a Reserva Técnica do Acervo Indígena. A sala subterrânea de 8 X 15 metros ganhou um medidor de umidade e ventiladores para garantir a circulação de ar.
Agora o Memorial se prepara para, no próximo dia 28, inaugurar a exposição “Viagem Noturna – Arte Indígena: Preservação”, quando irá “subir” o acervo para a área nobre da galeria. Trata-se de um suntuoso passeio à meia-luz, que sugere uma viagem noturna por entre os traços das diversas etnias presentes. “Certos objetos são fotossensíveis e gostam do escuro por conterem pigmentos que se modificam à ação da luz, escurecendo ou desbotando”, explica a restauradora.
Com a exposição o Memorial quer, como o próprio nome já sugere, colocar em evidência a questão da preservação. “Entendemos que as coisas não estão congeladas no tempo, preservar é reter uma pequena mostra daquilo que era, daquilo que foi, podemos estar preservando peças que as próprias comunidades indígenas já não fabricam mais”, conclui Estrá.
Por Gabriela Mainardi