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Sob o sol escaldante que brindou a cidade no dia de seu aniversário de 459 anos, as baianas do carnaval paulistano inauguraram no Memorial da América Latina a cerimônia de lavagem da “Mão”, escultura de Niemeyer que é um dos símbolos de São Paulo. O gesto, que replica a lavagem das escadarias da igreja do Bonfim, em Salvador, será repetido todos os anos, agora como evento permanente no calendário do Memorial, como antecipou o cineasta João Batista de Andrade.
A lavagem da Mão foi a apoteose do “Samba de Sampa” – carnaval antecipado promovido pelo Memorial e organizado pela Companhia Tribo de Dança, que trouxe a Corte de 2012 e integrantes de várias escolas de samba da capital, sob a batuta de Mestre Gabi, mestre-sala (com sua eterna porta-bandeira Vivi), também vice-presidente da Federação das Escolas de Samba do Estado de São Paulo).
Cerca de 500 pessoas acompanharam o desfile que saiu de frente ao Auditório Simón Bolivar e seguiu pela passarela até a Praça Cívica, onde está a “Mão” de Niemeyer. O rito de lavagem da escultura, inédito para os paulistanos, exigia um breve discurso explicativo. Foi o que fez Mestre Gabi enquanto as baianas se aproximavam com a água de cheiro amaci e buquês de rosas brancas. A lavagem é um ato simbólico, ecumênico e sincrético que representa a purificação do corpo e da alma. Cantando, as baianas aspergem a água na escultura e depositam as flores – é um momento de muita emoção.
Terminada a cerimônia, elas voltam ao ponto de partida. No meio do caminho, a bateria para: Mestre Gabi chama os compositores Ideval Anselmo e Zelão e começa o samba de roda para o qual também é recebido com aplausos o intérprete da Gaviões da Fiel, Ernesto Teixeira. O samba é contagiante (sempre foi, claro!) e tão envolvente que fez o presidente se desvestir de seu cargo e, de câmera em punho, voltar a ser, por alguns minutos, o diretor de cinema em seu habitat. Na última claquete, Mestre Gabi deixou registrada a promessa: “ano que vem vamos triplicar o número de sambistas e ocupar a praça toda, como quer o presidente João Batista de Andrade”.
Texto: Daniel Pereira
Fotos: Simone Lozano