
São Paulo, 24 de outubro de 2008.
Nicholas Petrus tem 30 anos, é formado em geografia pela Universidade de São Paulo, nasceu e cresceu na capital paulista. Sempre gostou de desenhar, mas foi durante o estágio que realizou na Galeria Marta Traba do Memorial da América Latina, entre os anos de 1999 e 2002, que descobriu que poderia transformar seu talento artístico em profissão. Agora, Nicholas retorna a casa com a curadoria da exposição “PAR AVION – Exercícios de Espistolografia”, que será inaugurada no dia 28 de outubro, às 19h, no espaço da Galeria.
Durante uma das pausas na montagem da exposição, Petrus pode explicar melhor os objetivos da mostra: “O tema epistolofráfico é muito abrangente, nesta exposição tentaremos ultrapassar o denominador comum, optando por uma abordagem que traga elementos históricos, mas desemboque na contemporaneidade”. O curador continua: “hoje, quando falamos epistolografia como material artístico, lembramos primeiro da mail art, ou arte postal – o que queremos é ampliar esse conceito”.
Nicholas conta que foi esse o motivo que o levou a dividir a exposição em três núcleos. O primeiro é o de caráter histórico, que traz os manuscritos de personalidades importantes da literatura e história mundial: será possível ler a carta que Lasar Segall escreveu a Murilo Mendes, a de Mário de Andrade à sua amiga Anita Malfatti, um poema de Guilherme de Almeida, “Carta à minha noiva”, e ainda a última carta de Ernesto “Che” Guevara, que terá o áudio original da leitura de Fidel Castro, em 1965. É um mergulho na intimidade de cada autor.
A segunda parte engloba a mail art, ou arte postal. Segundo o curador, a troca de correspondências que valorizam a arte visual começou nos anos 50, com agilidade e modernização dos Correios e mantém-se viva até hoje, mesmo com o aparecimento da Internet e novos veículos de comunicação. Trata-se da troca de cartas entre artistas, onde o envelope, o conteúdo da correspondência, o selo e o carimbo ganham uma função estética. Para a mostra do Memorial, Nicholas escolheu alguns exemplares de mail art da coleção pessoal de dois artistas brasileiros, Hugo Pontes e William A.
No terceiro núcleo, Nicholas propõe um diálogo entre epistolografia e arte contemporânea, através do trabalho de 14 artistas plásticos. A revelação da intimidade, a troca de experiências, a des/reconstrução de si a partir do outro, o mecanismo de fazer epístolas, o material e a forma são temas centrais que refletem nas obras desses artistas de maneira variada.
Fotografia, vídeos, desenhos e outras técnicas se misturam na tentativa de interação com o próximo. Os trabalhos desses artistas traduzem de modo muito particular a necessidade humana de compreensão e aceitação do/pelo outro, como se a angústia de existir se tornasse tão sufocante que precisasse ser compartilhada.
A artista chilena Angie Saiz, por exemplo, trabalha com a sobreposição de slides da sua infância e propõe, desta forma, um encontro entre o tempo passado e o presente. Ângela Barbour trouxe para a exposição seus cadernos de artista, obra ainda em processo que só pode ser realizada com a participação do outro: a artista brasileira envia para os amigos seus cadernos de desenho para que eles intervenham na obra.
A exposição “PAR AVION – Exercícios de Epistolografia” fica em cartaz na Galeria Marta Traba, de 29 de outubro até 27 de novembro, com entrada franca.
Por Gabriela Mainardi
Fotos 1: Fábio Pagan
Fotos 2 e 3: divulgação