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Ouça na íntegra a conferência – parte 1 / parte 2
A integração da América do Sul foi o tema central da conferência de Eduardo Duhalde no Memorial da América Latina. Duhalde foi o segundo conferencista da série Presidentes da América Latina, que tem como tema central o a evolução do processo democrático na região.
“A pauta integração não nos ocorreu agora. É que atualmente está mais forte, o mundo vive este momento”, disse Duhalde. “É o espírito da época”, comentou, citando o filósofo espanhol Ortega y Gasset. O ex-presidente argentino lembrou que um dos primeiros a pensar na união da América Latina foi o brasileiro Barão de Rio Branco, que, em 1906, já falava da necessidade de integrar Brasil, Chile e Argentina, para depois integrar todo o continente.
Para ele, a Alca e outros blocos econômicos não representam nenhum tipo de integração. “São apenas acordos comerciais que nada têm a ver com uma proposta real de integração, como é a da União Européia. Se fosse, o Nafta, por exemplo, uniria os EUA e o México, e não haveria um muro para evitar que os mexicanos cruzem a fronteira”, disse o ex-presidente.
Ele criticou a atuação dos EUA na América Latina em geral, principalmente no que diz respeito à Operação Condor, que financiou e apoiou as ditaduras nos países do Cone Sul. A recente tentativa de golpe na Venezuela, em 2002, e a intervenção na Colômbia também foram alvos de protesto. “Não podemos deixar a Colômbia sozinha e depois acusá-la de se aliar aos interesses norte-americanos”, disse. Ainda no tema da soberania nacional, Duhalde afirmou que ela é necessária para o avanço dos processos de integração regional.
Duhalde foi o primeiro presidente da Comissão do Mercosul. Ele assumiu a presidência da Argentina, em 2002, quando o país se encontrava em estado de falência, depois de um longo período em que o país apostava na paridade entre o dólar e o peso. A deterioração social tinha atingido níveis alarmantes. O presidente Duhalde viu o Brasil como um sócio fiel, pois este investiu em empresas argentinas enquanto as de outros países se retiravam (EUA, Espanha, Itália). Esse apoio foi um sinal de que o Brasil desejava uma boa relação bilateral, além de aprofundar uma aliança estratégica no Mercosul.
Duhalde criticou o regime presidencialista e a política econômica neoliberal – embora lembre que hoje dificilmente governos de partidos diferentes exercem políticas muito diferentes no setor econômico, já que todos seguem um capitalismo de mercado. “A crise argentina, após o período Menem, foi na verdade o início da derrocada do modelo neoliberal. A Argentina era aplaudida como exemplo nos meios que cultivavam o Consenso de Washington, e deu no que deu. Hoje acredito no desenvolvimento passo a passo.”
Ao final, Duhalde participou de um debate com Marcos Macari, reitor da Unesp e mediador do debate, o embaixador Sérgio Amaral, o professor José Augusto Guilhon, da USP e Universidade São Marcos, Tullo Vigevani, da Unesp, Sérgio Fausto, do Instituto Fernando Henrique Cardoso e o jornalista Roberto Lameirinhas, de “O Estado de São Paulo”.
Em março, no dia 28, o evento recebe o ex-presidente colombiano César Gavíria e, em abril, já está confirmada a presença do atual presidente do Chile, Ricardo Lagos, que estará em São Paulo depois de fazer a transmissão do governo à presidente eleita Michelle Bachelet. Entre os ex-presidentes convidados para participar estão Oscar Arias (Costa Rica) e Ernesto Valadares (Panamá). Ao final do projeto, a Fundação Memorial produzirá um DVD e um livro sobre a série.
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Conheça os debatedores:
Mediador
Marcos Macari
Reitor da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Vice-Presidente do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e Diretor da Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas. Exerceu os cargos de Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da UNESP, de Chefe do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal e de Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Campus de Jaboticabal.
Formado em Ciências Biológicas, modalidade médica, pela Universidade de São Paulo – USP, concluiu seu Mestrado e Doutorado em Ciências nessa mesma universidade. O título de Livre Docente foi alcançado na UNESP.
Com Pós-Doutorado realizado na Inglaterra, no Japão e no Canadá, o professor Marcos Macari tem uma vultosa produção acadêmica, sendo autor de 134 artigos completos em periódicos indexados, de 257 trabalhos em anais de eventos, 5 livros e 31 capítulos de livros, entre outros trabalhos publicados.
Debatedores
Sérgio Silva do Amaral
Bacharel em Direito e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo – USP, fez o Doutorado na Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne), recebendo nessa universidade o Diploma de Estudos Especializados em Ciência Política e o Certificado de Ciência Política. Cursou, também, o Instituto Rio Branco. Entre 1981 e 1999, foi Professor Assistente de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
Em sua longa carreira diplomática, serviu em Paris (1974 e 2003), Bonn (1978), Genebra (1990) e Washington (1984 e 1992), exercendo diversos cargos de destaque como Embaixador do Brasil em Paris e Representante do Brasil junto à OCDE, no período de 2003-2005, e Embaixador do Brasil em Londres, entre 1999-2000. Atuou, representando o país, junto a vários organismos internacionais, entre os quais podemos citar: GATT, FMI, Banco Mundial e o Clube de Paris.
No âmbito nacional, o Embaixador Sergio Amaral também foi detentor de cargos relevantes como, dentre outros, Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Presidente do Conselho do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no período 2001-2002; Ministro de Estado da Comunicação Social e Porta-Voz do Presidente da República (1995-1998); e Secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda (1988-1989).
José Augusto Guilhon Albuquerque
Bacharel em Filosofia pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (UFRJ), Mestre e Doutor em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, da Bélgica. Graduou-se Livre Docente em Ciência Política na Universidade de São Paulo, atuando nessa universidade também como Professor Titular de Ciência Política.
Entre os principais cargos acadêmicos que exerce atualmente destacam-se: Coordenador do Bacharelado em Diplomacia e Relações Internacionais da Universidade São Marcos, desde 2005; Coordenador Científico do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da USP, desde 1990; e Professor Titular Departamento de Economia, FEA-USP, desde 2001.
Lecionou também no exterior, em diversas instituições de ensino de excelência, como a Université Catholique de Louvain (1968-1973), a Georgetown University (1992-1993), a Cátedra Brasil da Universidad Central de Venezuela (2001), e a Cátedra Rio Branco, no The Royal Institute Of International Affairs, Chatham House, Londres (12/2001 – 07/2002).
Tullo Vigevani
Diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no Campus de Marília.
É professor, com o título de Livre Docente, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas dessa mesma faculdade e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais mantido conjuntamente por três importantes universidades paulistas: UNESP, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Foi, também, professor visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), no período de 1993 a 1995.
Da vasta produção editorial do Prof. Tullo Vigevani, podemos mencionar, dentre outras obras de destaque : O contencioso Brasil x Estados Unidos da informática: uma análise sobre formulação da política exterior (São Paulo: Alfa-Omega/EDUSP, 1995, 349 p.); Mercosul: impactos para trabalhadores e sindicatos (São Paulo: LTr/FAPESP/Cedec, 1998, 312 p.); e A dimensão subnacional e as relações internacionais (São Paulo: EDUC, Editora UNESP, EDUSC, FAPESP, 2004, 462 p.), organizada conjuntamente com Luiz Eduardo Wanderley, Maria Inês Barreto e Marcelo Passini Mariano.
Sérgio Fausto
Bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), cursou pós-graduação em Ciência Política nessa mesma universidade.
Exerceu diversos cargos no Governo Federal, como Assessor da Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda (1999-2002), membro titular do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (2000 – 2002) e Assessor do Gabinete do Ministro do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (1996-1998).
Na área de pesquisa, atuou junto ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP (1986-1991) e ao Instituto de Estudos Sociais, Políticos e Econômicos – IDESP (1985), tendo produzido vários trabalhos de destaque, dentre estes: A Política Brasileira de Promoção Comercial (Fundação Alexandre de Gusmão); A Agroindústria Paulista (Secretaria de Planejamento do Governo do Estado de São Paulo); O Sindicalismo de Classe Média e a Democratização (CEBRAP); e A FINEP e o Financiamento da Pós-Graduação no Brasil (IDESP).
Atualmente, é Assessor do Instituto Fernando Henrique Cardoso.