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Futebol arte é tema da obra de Julio Leite na mostra Transfronteiras Contemporâneas
De longe, parece uma pintura multicolorida. Ao se aproximar, pensa-se que é um grande painel de tecidos quadriculados, uma espécie de fuxico chique. O expectador prepara-se então para prestar atenção no padrão da estampa, na textura, no ponto de costura e no bordado. Ao chegar mais perto, no entanto, ele percebe que não é nada disso. Um certo estranhamento lhe toma o peito: ele está diante de um quadro de 300 X 600 cm formado por fotos de camisas de pequenos times de futebol, desconhecidos da torcida, digo, do público. Elas estão justapostas, formando uma espécie de abstracionismo geométrico tropical. Não adianta procurar a camisa do Flamengo ou do Corinthians. Time grande não está lá. Para justificar o tamanho de sua obra, Julio explica que pensou na grandeza do Memorial, afinal, “ao expor em um espaço tão monumental temos que tomar cuidado para que nossa obra não seja sugada pela magnitude do lugar.”
Simples assim, esta é a obra do paraibano Julio Leite, parte integrante da mostra coletiva “Transfronteiras Contemporâneas” – em exposição na Galeria Marta Traba, do Memorial da América Latina, até 17 de outubro. “Zona de Fronteira”, é assim que ela se chama, mexe simbolicamente com as localidades brasileiras nas quais surgiram esses times e destaca a tradição histórica e a representatividade local dessas equipes pequenas, como o Clube Atlético Juventus, do Bairro da Mooca, em São Paulo. Mais que isso, “Zona de Fronteira” “organiza/desorganiza” as fronteiras afetivas do torcedor/público, uma vez que se adentra aqui, antes de mais nada, em uma “zona de paixão”.
Julio Leite prefere não trabalhar com times de grandes torcidas. Assim ele limita a rivalidade e aguça a curiosidade. “Quando alguém vê um trabalho com camisas e não identifica os grandes clubes, sente uma inquietude”. Depois dessa inquietude inicial o público está mais aberto para admirar detalhes plásticos presentes nos uniformes, como cores, fontes, costuras e outros elementos que no geral não são observados.
Julio Leite já expôs na Bienal de Havana e na do Mercosul, em Porto Alegre. Ele está feliz em participar de mostra “Transfronteiras Contemporâneas”, especialmente por ela fazer parte do Pólo São Paulo de Arte Contemporânea. O Pólo é uma iniciativa da Fundação Bienal de São Paulo no sentido de articular 28 instituições culturais da cidade em prol de objetivos artísticos e culturais comuns. O Memorial faz parte desse Pólo São Paulo de Arte Contemporânea e organizou exposições especiais para gravitarem em torno da Bienal.
Foto: Mônica Saraiva