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“Foi bom matizar a visão romântica do processo de produção de um filme”, disse Daniela Teixeira, sobre a oficina Marketing e Investigación de Mercado, que acabara de concluir na Sala dos Espelhos do Auditório Simón Bolívar. “É que nos esquecemos que a película virou um produto depois de pronta e como tal tem que ser trabalhada no mercado”. Daniela está no último ano do curso Imagem e Som, da Universidade Federal de São Carlos e está envolvida na organização de um cineclube no campus da UFSCAR. Suas palavras resumiram bem o que foi o taller ministrada pela Argentina Patrícia Marcela Primón, nos dias 8 e 9 de julho de 2008, dentro das atividades do 3º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. “Foi um banho de realidade, nunca tínhamos visto isso na faculdade”, confessa.
Patrícia Marcela Primón representa uma empresa argentina que detém a distribuição de 80% dos filmes produzidos por seu país. Ela é gerente de marketing da Primer Plano Film Group S.A. Sua oficina partiu de uma premissa: “quanto mais informações melhor para se tomar decisões na hora de lançar um produto no mercado”. Ela conta que os realizadores costumam se preocupar em financiar-se para filmar e esquecem a comercialização posterior. Esse é um erro que vem desde a concepção do roteiro.
O que fazer com o filme depois de feito era a preocupação de algumas das pessoas que se inscreveram na oficina. Cynthia Alario, por exemplo, fundou a Brazucah Produções (www.brazucah.com.br), que atual em rede no que ela chamou de “guerrilha cultural”: “somos contratadas para conceber estratégias paralelas de divulgação de filmes que até tiveram lançamento comercial razoável para os padrões brasileiros”, conta. A Brazucah agora está envolvida na divulgação alternativa do novo filme de Breno Silveira, “a história de amor entre um menino pobre do morro carioca e uma menina rica”, que estréia no próximo dia 25 de julho.
Patrícia Primon reconhe as dificuldades de se exibir filmes na América Latina, onde o mercado está dominado pelo cinema norte-americano. Em seu país, uma nova lei garante 2 semanas de exibição em 5 salas de Buenos Aires para filmes de baixo orçamento que saem com até cópias. Caso não haja público suficiente, o INCAA (Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales banca os ingressos. Essa resolução da lei do audiovisual argentina procura criar uma rede alternativa de exibição.
A comercialização, distribuição e exibição dos filmes produzidos pela região é a preocupação dominante dos realizadores latino-americanos. Uma forma de romper o implacável domínio norte-americano é por meio de circuitos alternativos, como os cineclubes. Esse é um trabalho de resistência cultural. É o que faz Rosana Martins, professora de antropologia cultural do Departamento de Multimeios da Unicamp. Ela procurou Patrícia Primon interessada em exibir filmes argentinos em um novo cineclube que está criando na Universidade Belas Artes, também em Campinas.
Primon saúda esse tipo de iniciativa. “É para isso que serve um festival de cinema latino-americano como esse do Memorial – colocar as pessoas em contato para que compartilhem êxitos e aprendizagens”, conclui.
fotos: Fábio Pagan