“A América Latina não é pobre, ela é profundamente injusta.” Essa foi uma das frases ditas pelo escritor cubano Luis Suárez Salazar, que começou sua palestra no Memorial lembrando a primeira vez em que esteve aqui, quando veio acompanhar o presidente de seu país, Fidel Castro, em visita ao Brasil por ocasião da posse de Fernando Collor, em 1990.
Ele se disse encantado com a beleza da arquitetura e principalmente com o significado que o Memorial tem, de unir os povos latino-americanos. A escultura A Mão, de Niemeyer, também foi comentada pelo escritor, por representar o sangue derramado durante o processo de colonização, a violência contra os povos latino-americanos, que é justamente o tema do seu mais recente livro, “Madre América: Um Siglo de Violencia y Dolor (1898-1998)”, e da palestra.
Publicado em 2003, o livro “Madre América” já se converteu em um clássico da história das intervenções dos Estados Unidos no hemisfério ocidental. O título abarca os principais acontecimentos das relações interamericanas, assim como entre os países deste continente até meados de 2002 (posteriormente, o escritor fez um epílogo para tornar o livro ainda mais atual). O livro recebeu o Prêmio da Crítica Técnico-Científica da Academia de Ciências de Cuba e menção honrosa na primeira edição do Prêmio Libertador al Pensamiento Crítico, na Venezuela, mas sua edição brasileira ainda não está prevista.
Além dos Estados Unidos, grandes potências como França, Reino Unido e Holanda estão no rol dos países que mais exploraram o povo e as riquezas naturais do continente latino-americano. “Mas não podemos esquecer também da responsabilidade das classes dominantes de cada país, dos setores oligárquicos que sempre fizeram tudo para que a dominação se perpetuasse”, disse.
Suárez destacou a importância de se conhecer a história do seu país e de sua região para não repeti-la. “É importante ver a história para compreender o presente e transformar a realidade, com um olhar no futuro”, afirmou para uma platéia formada principalmente por estudantes universitários e de pós-graduação de diversas áreas.
Formado em Ciências Políticas pela Universidade de Havana, pós-graduado em Filosofia e doutor em Ciências Sociais, Suárez Salazar é professor titular da Faculdade de Filosofia e História da mesma universidade e do Instituto Superior de Relações Internacionais do Ministério de Relações Exteriores de Cuba. Tem uma vasta produção literária, sendo autor, editor e co-autor de cerca de 25 livros. O escritor é também professor da Cátedra Ernesto Che Guevara, da FLACSO e atualmente se dedica a um site em que compila a história do terrorismo de Estado.
Fotos: Eduardo Rascov