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Com o Festlatino, o Memorial da América Latina se transformou em ponto de encontro para a discussão do cenário cinematográfico do nosso continente. No dia 10 de julho, a sessão de debates foi aberta com a mesa “Nova Geografia”, composta pelo crítico brasileiro Alessandro Giannini, o diretor peruano Alejandro Legaspi, o argentino Sergio Wolf (diretor do BAFICI – Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente) e o diretor venezuelano John Petrizelli.
Apesar de não ser novidade, o tema abordado é ainda uma dura realidade a ser enfrentada e merece toda a atenção dos envolvidos com cinema. Trata-se da falta de incentivo e da dificuldade de manter uma produção audiovisual nacional e autêntica em meio à invasão hollywoodiana.
É senso comum que as políticas de Estado são necessárias para o fortalecimento da área. Petrizelli aproveitou a oportunidade e expôs algumas das soluções encontradas pelo governo venezuelano para garantir a sobrevivência do cinema nacional: “No meu país, existe uma portaria que obriga as salas a exibirem filmes venezuelanos por pelo menos duas semanas, mesmo que com baixa audiência e, quando esses filmes conseguem atingir a média de bilheteria da sala, são obrigados a ficar em cartaz”.
O caso argentino é um pouco mais complicado, como lembra Wolf, lá 95% do mercado é dominado pelas produções norte-americanas: “os filmes de Hollywood são como um exército que desembarcam no país, chegam com 100, 150 cópias, o mesmo Indiana Jones é exibido em todas as partes!” Como um possível paliativo, o diretor continua: “é necessário construir uma fortaleza para o cinema frágil, exibi-lo por mais tempo, em horários e salas adequadas”.
Uma outra questão importante é quanto à formação de um público preparado para receber o cinema nacional. Para formá-lo, o papel da escola é muito importante. “Na Venezuela, a educação audiovisual é uma matéria obrigatória, nessas aulas os alunos tomam conhecimento não só dos filmes produzidos no país, mas também dos grandes clássicos mundiais”, relata Petrizelli.
A mesa estendeu a discussão para as novas formas de produção como, por exemplo, o cinema digital. O surgimento de novos e mais baratos recursos cinematográficos aponta para uma mudança de mercado. Porém, uso da captação digital como substituto do tradicional 35mm ainda encontra muitos obstáculos, “são poucas as salas de projeção equipadas digitalmente”, lembra o brasileiro que continua: “no final cairemos no mesmo lugar, o cartel formado pelas salas de projeção”.
“Por que não salas de cinema virtual?”, levanta uma voz na platéia. Com o avanço tecnológico e a realidade cada vez mais ligada ao mundo virtual, é impossível deixar de pensar em novas maneiras de exibição que não se prendam a essa estrutura afunilada imposta pelo mercado. Estaríamos presenciando a transformação do cinema tal como o conhecemos hoje, que implica em película de prata, sala escura e tela grande?
Por Gabriela Mainardi
Fotos: Fábio Pagan