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Certo saudosismo marcou o primeiro debate do Festival de Cinema Latino-Americano, que discutiu o Novo Cinema do continente. Mas não foi um saudosismo melancólico, daqueles que afirmam que tudo era melhor antes, e sim uma forma de apontar novos caminhos, a partir da recordação de como era o cinema no final dos anos 50 e anos 60, época do Cinema Novo, e da atualização da problemática postulada por aqueles cineastas.
Para falar sobre isso, o festival reuniu um time campeão: Miguel Littin, do Chile, Nelson Pereira dos Santos e Orlando Senna, do Brasil, Edmundo Aray, da Venezuela, e Octavio Getino, da Argentina. A mediação do debate foi feita pelo documentarista e curador do festival Sérgio Muniz.
Quase todos estiveram no encontro de cineastas latino-americanos que houve em Viña Del Mar, no Chile, em 1967, quando, em plena efervescência do Cinema Novo (ou Nuevo Cine ou Cine Liberación – o nome varia de acordo com o país em questão), os cineastas latino-americanos puderam discutir sobre seus filmes, sobre a busca da identidade latino-americana e o que pretendiam, política e esteticamente.
Este encontro foi tão importante para eles que se repetiu em outros festivais em Mérida, em Havana e outras cidades do continente. A nova reunião da trupe, neste 1º Festival de cinema Latino-americano de são Paulo, deixou a todos entusiasmados.
“O novo cinema latino-americano foi apressadamente denominado de político”, disse Miguel Littin, para quem o rótulo é superficial, já que os países passavam por momentos políticos muito distintos, assim como os cineastas queriam experimentar linguagens diferentes.
Já Orlando Senna apontou algumas semelhanças entre o passado e o presente, como o surgimento de novas tecnologias (no passado, as câmeras portáteis e som direto proporcionaram uma revolução no fazer cinematográfico) e o momento político do continente, em que governos de esquerda chegam ao poder.
Nelson Pereira dos Santos se disse saudosista do tempo em que ele era criança, em São Paulo, e via os filmes mexicanos em cartaz na Avenida São João, no que os brasileiros da mesa se puseram de acordo com o cineasta de “Rio 40 Graus” e “Vidas Secas”. Feliz com a iniciativa do festival, ele declarou: “Ontem, com a linda abertura deste Festival, fiquei revigorado, com vontade de fazer outros filmes. Eu ia me aposentar, não vou mais”. Foi longamente aplaudido.
Para Octavio Getino, o melhor de festivais como este é mesmo o contato dos cineastas. “No cinema novo, o sentido de latino-americanidade estava presente nas produções, havia um diálogo entre os cineastas”, disse, querendo retomar esta interlocução.
Mas o mais inflamado na defesa da união latino-americana foi o venezuelano Edmundo Arya, que conclamou os presentes a criarem uma distribuidora continental de filmes, propôs um fundo de Fomento Cinematográfico Continental, um Banco de Desenvolvimento para o Cinema. Foi ele quem resumiu o sentimento comum frente ao festival de São Paulo: “Estamos eufóricos, cheios de otimismo, com perspectivas enormes. É como se tivéssemos 50 anos a menos”.
Fotos: Paloma Varón