Homenagem realizada ao mineiro Darcy Ribeiro na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) reuniu estudiosos e amigos do antropólogo e escritor, que viveu entre 1922 e 1997. Neste ano são lembrados os 20 anos de sua morte.
“Com vocês, um verdadeiro arquivo vivo da História do Brasil”. Foi assim, parafraseando o que dele se diz na imprensa e em tantos compromissos públicos, que o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva apresentou Almino Affonso à plateia que na manhã de 12 de setembro lotava o auditório do prédio histórico da Faculdade do Largo São Francisco.
O convidado estava ali para falar de Darcy Ribeiro, “o político da esperança”, numa das muitas homenagens que circulam pelo país para lembrar os 20 anos da sua morte, em 17 de fevereiro de 1997. No preâmbulo de sua palestra, Almino reverenciou a memória das vítimas da ditadura, ali representadas por familiares, entre eles o próprio mediador, filho do ex-deputado Rubens Paiva.
Ex-ministro do Trabalho do governo João Goulart, cassado no regime militar, Almino foi deputado federal, vice-governador de São Paulo, e há sete anos preside o Conselho Curador da Fundação Memorial da América Latina. Conviveu com personagens capitais da memória política de pelo menos três gerações de brasileiros. Entre eles, Darcy Ribeiro, que Almino, tribuno arguto e de incrível lucidez, resgatou em episódios que ficam muito mais críveis para quem ouve quando relatados pessoalmente por testemunha ocular da História.
Dois tópicos da homenagem a Darcy Ribeiro pinçados da palestra de Almino aguçaram a atenção da plateia. Um, do tempo em que ele e Darcy eram ministros do governo João Goulart, 1963, antessala do golpe militar. “Nunca contei isso a ninguém”. Fez uma pausa estudada, típica do orador calejado, ajeitou-se na cadeira: “Estivemos, Darcy e eu, em lados contrários naquele episódio de decretação do estado de sítio. Ele apoiava o movimento liderado por Brizola, que queria derrubar o Carlos Lacerda, governador da Guanabara. O pedido dos militares foi ao Congresso, mas Jango acabou o retirando”.
Depois de resenhar a vida de Darcy Ribeiro como educador, sociólogo, antropólogo, indigenista, escritor, ministro, senador e “de tudo um pouco”, Almino – de novo na cena da história – reservara, para encerrar a palestra, versão mais atualizada do episódio que originou a criação da Fundação Memorial da América Latina.
“Atrevo-me a dizer, com todo meu respeito à competência e ao talento de Oscar Niemeyer, que sem Darcy Ribeiro e o projeto cultural criado por ele, o Memorial da América Latina não seria o que é hoje. O Memorial é a cara de Darcy”.
Mineiro de Montes Claros, onde nasceu em 26 de outubro de 1922, Darcy Ribeiro era um rebelde com causa, estudioso inquieto, homem que tinha fome de povo, como destacou Almino Affonso. Teimoso, driblou por quase 30 anos o câncer que o matou. No Memorial da América Latina, o Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro é a eterna homenagem de São Paulo ao homem que, por seu desmedido amor à Pátria, foi um verdadeiro filho do Brasil.