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São Paulo, 22 de outubro de 2008.
O professor venezuelano Carlo Romero, catedrático do módulo “Comércio e desenvolvimento” da Cátedra Memorial da América Latina, encerrou no dia 21 de outubro um ciclo de três conferências sobre América Latina na USP para comemorar os 20 anos do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina – Prolam/USP.
A última palestra tratou sobre um tema espinhoso e polêmico: as relações entre Estados Unidos e América Latina. “Os Estados Unidos são um fato para a América Latina, para o bem ou para o mal”, introduziu o professor, para começar a falar da desaceleração do consumo e das importações e do baixo crescimento por que toda a região está passando agora. “O que acontece lá vai repercutir aqui, 36% do comércio de lá é feito com a América Latina”, disse.
A relação da América Latina com os EUA passa pelas exportações e pelas relações internacionais, mas passa também pelas remessas dos imigrantes latino-americanos que moram lá. O México recebe boa parte destas remessas, mas os outros países do bloco também são afetados.
“Cidadãos cubanos que têm parentes em Miami já estão sofrendo com a falta de remessas. Na Argentina, a questão são as commodities (no caso deles, produtos agrícolas e pecuários), que não são mais bem negociadas com os EUA; na Venezuela, é o petróleo: o preço do barril estava a US$ 130 em julho e agora caiu para US$ 67”, exemplificou. Entre 1996 e 2006, o comércio entre os EUA e a América Latina cresceu 118%. O México tem um papel crucial nisso.
Desde que se tornaram independentes, em 1776, os EUA sempre tiveram uma política para a América Latina. Eles foram contra os processos de independência de muitos países e entraram em guerra contra o México, por exemplo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946, a aliança antifascista, liderada pelos EUA, rapidamente se converteu numa aliança anticomunista.
Com isso, a Revolução Boliviana de 1952 e a intenção de nacionalizar as minas, as tentativas de reforma agrária na Guatemala em 1954 soaram como um desafio à política estadunidense. A Revolução Cubana de 1959 foi o ponto-chave, que nunca foi engolido pelos EUA. Foi uma derrota importante na sua área de influência. “Desde então, a revolução é um tema permanente na agenda entre EUA e os países latino-americanos”.
Durante as ditaduras na América Latina (na década de 70, apenas Colômbia, Venezuela e Costa Rica não se encontravam sob ditaduras), os EUA apoiaram essas ditaduras.
Na década de 90, os EUA promoveram o capitalismo liberal, preconizado no Consenso de Washington, na América Latina. Como a Alca – Área de Livre Comércio das Américas não foi aprovada por todo o continente, os EUA fizeram o que o professor chama de “Alca à la carte”, fechando acordos bi-laterais com países como Peru e Colômbia.
Atualmente, segundo o professor, a América Latina perdeu importância na dinâmica política e econômica dos EUA. Ao mesmo tempo, habitam os EUA cerca de 40 milhões de hispanos, consolidando uma sociedade hispana no país. Para finalizar, o professor abordou as eleições presidenciais entre Barack Obama e John McCain. Ele acha que a relação com a América Latina não mudará muito caso um ou outro ganhe.
Sobre o catedrático
Carlos Romero é politólogo e doutor em ciências políticas nascido em 1953, na Venezuela. Se formou em Estudos Políticos e Administrativos na Universidade Central da Venezuela em 1978 e encerrou seu mestrado em Ciências Políticas na Universidade de Pittsburgh (EUA), no ano seguinte. O doutorado, na mesma área, foi concluído na Universidade Central da Venezuela, em 1989.
É professor titular do Instituto de Estudos Políticos da Faculdade de Cências Jurídicas e Políticas da Universidade Central da Venezuela. É autor de cinco livros, colaborador em outros cinco e autor de mais de 60 artigos acadêmicos. Já foi conferencista e painelistas em mais de 200 eventos em todo o mundo.
Entre outros cargos, Romero ocupou o de assessor do Ministério de Relações Exteriores da Venezuela (1991-1992 e 1999) e coordenador de três projetos internacionais de caráter acadêmico com o Social Science Research Council (1989) e a Fundación Tinker (1992 e1993).
Foi professor visitantes nas universidades de Salamanca (Espanha), USP, (São Paulo – Brasil), Católica Andrés Bello de Caracas, Metropolitana de Caracas, ambas na Venezuela, no Institut des Hautes Études d´ Amérique Latine, (IHEAL), Universidad de la Sorbonne III, “Nouvelle”, de Paris (França) e no Institute de Sciences Politiques, (Sciences Po), Programa Iberoamericano, em Poiters, também na França.
Fotos e texto: Paloma Varón