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MIRADA
Latino-americanos do MAC USP no Memorial
A arte produzida nos países da América Latina nasce, quase sempre, da busca de uma identidade, provocada pelo surgimento de valores gerados pelos conflitos entre as culturas indígenas e a do colonizador. Tanto para essas culturas nativas, como para as africanas, a arte tinha uma presença integrada à vida cotidiana. Com o povoamento do território e com as trocas culturais, a arte latino-americana, com variações de país para país, se forma. Ao assimilar as referências modernistas, essa arte do século XX penetra no continente por indícios e compassos ritmados pelos horizontes culturais europeus. Emerge uma visualidade voltada às raízes caracterizada a princípio, por uma temática nacionalista nativista. As intenções telúricas e míticas das culturas autóctones, da cultura negra e da mestiça transformam-se em imagens. A própria história da colonização aparece como tema. Também agregam-se a este, os momentos de auto-afirmação e de reconhecimento interno vividos pelas nações latino-americanas com suas lutas políticas e sociais.
Num primeiro momento, o conjunto simbólico da produção cultural refere-se à identidade. Posteriormente, entra em cena a vocação construtiva própria do continente e em seguida, uma dimensão política contestatória da estrutura de poder vigente.
Após a década de 1960, a arte toma inúmeros rumos. Arthur Danto, ao descrever as novas questões da arte atual, diz que a partir dessa data, qualquer universalidade de juízos seria silenciada, ou confrontada, com os novos meios, processos, materiais e suportes presentes nas afirmações artísticas feitas depois dessa época.
A exposição MIRADA: Latino-americanos do MAC USP no Memorial desenha um percurso da arte latino-americana desde o modernismo até a atualidade. Proporciona ao público a oportunidade de ver exposto um conjunto relevante de obras e de artistas da coleção MAC USP. Mais que uma mostra cronológica ou histórico-cultural do continente, MIRADA situa-se como uma exposição de artes visuais. Guiados pelo olhar, os visitantes podem se movimentar pela Galeria Marta Traba, construindo relações situadas no desdobramento de sua circularidade. Não se trata de levantar ou defender uma tese sobre a arte latino-americana, mas de oferecer uma edição de obras que localiza visualmente influências, rupturas, diálogos e temáticas do século XX.
Outras abordagens e escolhas poderiam ser elaboradas a partir do acervo do MAC. Esta é apenas uma delas. MIRADA desvela algo em comum que emerge das diferenças. Refere-se ao ato de ver. É palavra compartilhada nas línguas portuguesa e castelhana: uma observação pensada, um convite ao olhar.
Carmen Aranha – curadora, docente do Museu
Evandro C. Nicolau – assistente de curadoria, educador
Fotos: acima, pintura em têmpera do brasileiro Alfredo Volpi. Depois, observados por Ângela Barbour e Evandro Nicolau, Carmen Aranha faz preleição aos monitores da galeria no âmbiente da exposição.