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DORA FERREIRA DA SILVA
Dora Ferreira da Silva nasceu no dia 1ºde julho de 1918, na cidade paulista de Conchas, e faleceu em São Paulo no dia 6 de abril de 2006.
A vocação poética surgiu na infância, através das leituras na biblioteca de poesia de seu pai, que não conhecera. Theodomiro Ribeiro havia morrido quando Dora tinha um ano de idade. Com dois anos, mudou-se com a família para a Capital do Estado, onde mais tarde estudou no Instituto de Educação da então recente Universidade de São Paulo.
Casou-se aos 19 anos com o filósofo Vicente Ferreira da Silva (1916-1963), com quem viveu por 23 anos não apenas uma história de amor e admiração, mas também uma intensa e fecunda parceria intelectual. Ao lado de Vicente, relacionou-se com intelectuais do mundo inteiro, como Agostinho da Silva, Eudoro de Souza e Ernesto Grassi, assim como Guimarães Rosa e Oswald de Andrade, que freqüentavam a casa da rua José Clemente, referência cultural na cidade de São Paulo.
Em 1955, o casal fundou, ao lado de Milton Vargas, a revista Diálogo, interrompida em seu décimo sexto número pela morte prematura de Vicente num acidente de carro. Dois anos depois, com a colaboração de Vilém Flusser e Anatol Rosenfeld, Dora lançou a revista Cavalo Azul, voltada especialmente à poesia e à literatura, e que teve 12 números editados. Dora publicou sistematicamente artigos, traduções e poemas nas duas revistas.
Entre as atividades docentes, lecionou História da Arte na EAD e História das Religiões na Faculdade Tereza Martin. Ao longo de sua vida reuniu e orientou vários grupos de alunos que estudavam principalmente psicologia, mitologia e poesia. A criação do Centro de Estudos Cavalo Azul, em 2003, incorporou outros professores e poetas, como Rodrigo Petrônio e Cláudio Willer, que integraram o último grupo de estudos de Dora, ainda em atividade.
A poesia foi vivência, paixão e prática de toda a sua vida. Porém a primeira publicação em livro ocorreu apenas em 1970, com a coletânea Andanças, que reuniu a poesia produzida a partir de 1948. Publicou depois outros dez volumes, além de traduções, artigos e ensaios. Recebeu três prêmios Jabuti pelos livros Andanças, Poemas da Estrangeira e Hídrias, a Menção Honrosa PEN CENTRE por Talhamar, e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pela publicação da Poesia Reunida, em 2000. Integrou a comissão responsável pela publicação da obra completa de Carl Gustav Jung em português, da qual foi responsável por várias traduções, além do clássico Memórias, Sonhos, Reflexões.
Em 2006, aos 87 anos, Dora preparava-se para lançar mais um livro. Estava em plena atividade, trabalhando em três séries de poemas – Appassionata, O Leque e Transpoemas, esta última um mergulho na fonte originária da poesia, que no entanto ficou inconclusa. Os poemas serão lançados em meados de 2007. Seu acervo documental e bibliográfico será incorporado ao Instituto Moreira Salles, onde, depois de catalogado, será disponibilizado para pesquisa e divulgação, figurando ao lado de nomes como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Rachel de Queiroz, dentre muitos outros escritores brasileiros.
Bibliografia
1 – Livros
Andanças. São Paulo: edição da autora, 1970.
Uma via de ver as coisas. São Paulo: Duas Cidades, 1973.
Menina seu mundo. São Paulo: Massao Ohno, 1976.
Jardins (esconderijos). São Paulo: Edição da autora, 1979.
Talhamar. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1982.
Retratos da origem. São Paulo: Roswitha Kempf, 1988.
Poemas da estrangeira. São Paulo: Massao Ohno, 1996.
Poemas em fuga. São Paulo: Massao Ohno, 1997.
Tauler e Jung: o caminho para o centro. São Paulo: Editora Paulus, 1997. Co-autoria com Hubert Lepargneur.
Poesia Reunida. São Paulo: Topbooks, 1999
Cartografia do Imaginário. São Paulo: T.A.Queiroz, 2003.
Hídrias. São Paulo: Odysseus editora, 2004.
2 – Artigos
Nota sobre Quarta-feira de cinzas. São Paulo, Diálogo nº 7, julho de 1957.
O demoníaco em Grande Sertão: Veredas. São Paulo, Diálogo nº 8, novembro de 1957.
A temática da poesia de Vínícius de Moraes. São Paulo, Diálogo nº 11, agosto de 1959.
Os principais temas do Livro de Horas. Diálogo n° 13. dezembro de 1960.
Duas experiências do Angélico (prefácio). In. HILST, Hilda. Sete Poemas do Poeta para o Anjo. São Paulo: Massao Ohno editor, 1962.
Nota sobre Amers. Diálogo nº 15, abril de 1964.
O duplo reino da vida e da morte. Diálogo nº 15, abril de 1964.
3 – Traduções
CRUZ, San Juan de la. A poesia mística de San Juan de la Cruz, S.P., Cultrix, 1982.
ELIOT, T. S. Quarta-feira de cinzas. Diálogo nº 7, julho de 1957.
JUNG, C. G. Aurora Consurgens. Volume complementar de Mysterium Conjunctionis. Petrópolis: Vozes, 1997.
JUNG, C. G. Memórias, sonhos, reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1978.
JUNG, C. G. Estudos alquímicos. Petrópolis: Vozes, 2002. Tradução em conjunto com Maria Luiza Appy.
JUNG, C. G. Os arquétipos do inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2002. Tradução em conjunto com Maria Luiza Appy.
JUNG, C. G. Psicologia e alquimia. Petrópolis: Vozes, 1991. Tradução em conjunto com Maria Luiza Appy e Margaret Makray.
JUNG, C. G. e WILHELM, R. O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês. Petrópolis: Vozes, 1997. Tradução em conjunto com Maria Luiza Appy.
LAWRENCE, D. H. O barco da morte. Diálogo nº 5, outubro de 1956.
PERSE, Saint John. Estreitos são os barcos. Diálogo, nº16, abril de 1964.
RILKE, R. M. Elegias de Duíno. Porto Alegre: Editora Globo, 1972.
RILKE, R. M. Vida de Maria. Petrópolis: Vozes, 1994.
SILESIUS, A. Angelus Silesius (em colaboração com Hubert Lepargneur), S.P., T.A. Queiroz, 1986.