Dez países da América Latina e do Caribe estiveram representados no II Encontro de Bibliotecários Latino-americanos no Memorial, que aconteceu no dia 17 de março, no auditório do Anexo dos Congressistas. Organizado pela Fundação Memorial da América Latina, em parceria com a Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e Instituições, IFLA, o colóquio traçou um diagnóstico atualizado da biblioteconomia na América Latina, bem como propôs uma série de medidas para aperfeiçoar a Biblioteca Latino-americana Victor Civita, deste Memorial. Na ocasião foi anunciado oficialmente o 2. Congresso Internacional de Arquivos, Biblioteas, Centros de Documentação e Museus, que se dará de 25 a 29 de junho de 2006, no Auditório Simón Bolívar, deste Memorial.
Durante o evento, ficou claro que a preocupação com a sua própria língua e o incremento da leitura não é só brasileira. A diversidade lingüística e cultural da região latino-americana foi ressaltada. Cabe à biblioteconomia dar conta dessas variáveis, num contexto contemporâneo de riqueza e dinamismo cultural. Não por acaso, o bibliotecário peruano Cesar Castro sugeriu que o próximo encontro de Bibliotecas Indígenas do subcontinente seja realizada no Memorial, proposta que foi prontamente aceita pelo presidente do Memorial, Fernando Leça. Ainda sem data marcada, o congresso acontecerá no segundo semestre, provavelmente em outubro, e envolverá pelo menos 10 países, entre eles, Brasil, Peru, Colômbia, Equador, Bolívia e Venezuela.
A IFLA, Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e Bibliotecas, foi criada em 1927 com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de todo tipo de bibliotecas e serviços de informação no mundo todo. É uma organização independente e sem fins lucrativos. São associados à ela mais de 1750 membros de 150 países, incluindo bibliotecas, associações de bibliotecas nacionais e internacionais, de caráter público, privado ou voluntário.
Entre as atividades, foram indicados livros para o acervo da biblioteca, atualmente composto por 30 mil títulos, apresentados catálogos das principais editoras e de publicações universitárias, um panorama das bibliotecas e da literatura de cada país e também as perspectivas e caminhos da digitalização dos acervos na América Latina.
O primeiro encontro havia se dado em 6 de junho de 2005, ocasião em que as principais autoridades bibliotecárias do Brasil puderam trocar experiências e dar sugestões para o aprimoramento dos serviços da Biblioteca Latino-americana Victor Civita, desta Fundação. Na ocasião, sentiu-se a necessidade de ampliar o intercâmbio entre os profissionais da mesma área para toda a região latino-americana.
Ao final, os participantes redigiram o seguinte documento:
“Com a presença de bibliotecários latino-americanos, membros da Seção da América Latina e do Caribe, da IFLA, Federação Internacional de Associações de Bibliotecas e Instituições e de representantes de instituições bibliotecárias no Brasil, realizou-se no mini-auditorio do Memorial da America Latina, São Paulo, Brasil, o II Encontro de Bibliotecarios Latino-americanos, como parte das Comemoracoes do aniversario do Memorial, em 17 de marco de 2006.
Compuseram a mesa dos trabalhos, o presidente do Memorial, Fernando Leça, Eliseu Rizzo de Oliveira Carvalho, coordenador do Centro de Estudos da America Latina ,e Elisabet Ramos de Carvalho, gerente do Escritorio Regional para a America Latina e Caribe, da IFLA.
Estiveram representados no evento Argentina, Colombia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Peru e Venezuela e representantes de paises do Caribe, Martinica e St Marten, especialmente convidadas para a reuniao. As palavras iniciais foram proferidas pelo presidente do Memorial que, acolhendo os presentes, discorreu sobre a finalidade do evento, ou seja, o entrosamento e o intercambio de informação e de idéias entre os representantes. A necessidade de iniciativas como essa foi enfatizada pelo dr. Leça ao lembrar as palavras de Darcy Ribeiro, ideólogo do Memorial, para quem o Brasil e a América hispânica são constituídos de “pueblos que viven de espaldas”. Quando o Memorial foi fundado era preciso inverter essa situação e muito já foi feito neste sentido.
Marcia Rosseto, presidente da FEBAB – Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições, representante do Brasil no evento, apresentou um panorama do livro e da leitura e em especial as últimas medidas governamentais, como a instituição do Plano Nacional do Livro e da Leitura e dos projetos do Viva Leitura.
A seguir os editores das universidades oficiais do Estado de São Paulo, USP, UNESP, UNICAMP, discorreram sobre suas linhas editoriais e programas de publicacao, incluindo ações de promocao como a Feira anual com descontos de ate 80%. Convidaram os presentes a visitar o stand das mesmas universidades na Bienal Internacioal do Livro.
Ana Maria Peruchena, representando a Argentina, apresentou uma base de dados elaborada pela Câmara Argentina do Livro contemplando a produção literaria contemporanea do pais. Sugeriu que o mesmo formato fosse, caso necessário, utilizado pelos diferentes paises da regiao para criar no Memorial um centro de referencia dos nossos paises.
Gloria Rodrigues, representando a Colombia apresentou o panorama do desenvolvimento das bibliotecas nos ultimos anos e os principais programas, incluindo o Plano Nacional de Leitura e Biblioteca e algumas das ações, como o
Desenvolvimento da Bibliored com três grandes bibliotecas em Bogota, e mencionou a Campanha Leer Libera e a de Libros al Viento. O plano teve uma de suas novas bibliotecas com projeto e financiamento pelo Japao.
Elsa Ramirez do Mexico, dissertou sobre os planos de incentivo à leitura, o estímulo à formação de círculos de leitura, campanhas por meio áudio-visuais e novas estratégias que incorporam a participacao da familia e a concepção da leitura como uma atividade prazeirosa. Sua ação extrapola os limites do pais atingindo os imigrantes mexicanos nos Estados Unidos.
Cesar Castro, do Peru, apresentou alguns dados sobre seu país, enfatizando a diversidade lingüística da populacao da qual 30-40% são de origem indígena.
Mencionou a recente Lei do Livro, a implantação do Conselho Nacional do Livro, altamente necessários num pais onde a compreensão da leitura situa-se em ultimo lugar dentre 41 paises estudados (Estudo PISA). Informou ainda sobre a instalação de cabines públicas, de iniciativa privada, que respondendo à demanda da população, estao retirando usuários da biblioteca publica, carente de recursos tecnologicos.
A representante de Costa Rica, Alice Miranda, discorreu sobre a produção editorial de seu pais, desde os primórdios. Enfatizou o problema do país que sempre priorizou como modelo a população branca, o que se refletiu na produção que só recentemente esta sendo objeto de mudancas com literatura campesina e indigena.
Mercedes Falconi, do Equador, discorreu sobre a concentracao de bibliotecas em duas cidades, a capital Quito e Quaiaquil, tendo tambem mencionado Cuenca. Não existe politica de estado para o promocao do livro, leitura e desenvolvimento de bibliotecas. Os planos existentes são na sua maioria voltados à producao editorial e não à leitura. Mencionou o projeto de desenvolvimento do setor bibliotecário em um estado amazônico. Terminou discorrendo sobre a importancia da interação bibliotecas, livrarias e escolas. Apresentou a convidada Lucia Montenegro de Mejia, presidente do Patronato da Prefeitura de Morona Santiago, grande interessana na promoção do livro e da leitura.
Olinda Gomes, de El Salvador, discorreu sobre a situação geográfica, histórica e demográfica de seu país. Mencionou o desenvolvimento bibliotecário incipiente, e o esforco para a implantação recente de 14 bibliotecas públicas, com apoio internacional.
Stela Maris Fernandez, da Argentina, apresentou a ação da Sociedad de Investigacion Bibliotecologica, suas publicações, a revista Infodiversidad, conferências patrocinadas, lancamentos de livros e a Pena do Livro, com reuniões mensais que contam com a presenca de 50-60 pessoas.
Loly D’Elia e Maria Elena Zapata, da Venezuela, apresentaram uma visão da situação em seu pais, introduzindo as ações do Banco do Livro e da Biblioteca Nacional na criação e desenvolvimento da rede de bibliotecas públicas e escolares. Foram mencionados o papel de incentivo e promoção da leitura e a produção de livros por instituições do setor público e privado. O projeto Formemos leitores compreende uma coleção de titulos sobre a promoção do livro e da leitura, útil para a formação de mediadores de leitura. Todos os representantes entregaram ao Memorial catálogos das publicações de seus paises, bem como algumas amostras de sua producao editorial.”
Conheça o programa do 2. Congresso Internacional de Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação e Museus no site www.febab.org.br