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Autoridades, gestores públicos e palestrantes participaram desse grande encontro.
São Paulo, 18 de novembro de 2008.
A importância da reflexão sobre o ainda existente aparthaid racial e social de nossa sociedade foi um dos assuntos abordados pelo Seminário “Dos 120 anos da Abolição aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Um retrato das políticas afirmativas no Estado de São Paulo”, que ocorreu na manhã do dia 18 de novembro, no Auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina.
Estiveram presentes militantes do movimento negro, autoridades e gestores públicos de áreas relacionadas a programas e projetos que fazem parte das políticas afirmativas do Estado de São Paulo. Foram relatadas ações concretas de apoio à comunidade negra paulista, como o reconhecimento de 44 comunidades quilombolas, principalmente no Vale do Ribeira, onde as antigas moradias de pau a pique foram substituídas por casas de alvenaria. O evento faz parte da Semana da Consciência Negra do Estado de São Paulo, em comemoração ao feriado do dia 20 de novembro, data da histórica morte de Zumbi dos Palmares, líder da luta contra a exploração e discriminação aos negros.
A mesa era composta pela Profª. Eliza Lucas Rodrigues, Presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, Ricardo Montoro, Secretário Municipal de Participação e Parcerias, Gustavo Ungaro, Diretor Executivo da Fundação Instituto de Terras de São Paulo, Elza Lobo, representando o Secretário Luis Antonio Barradas, Luiz Fagio Neto, Secretário Adjunto da Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Marcos Natonio Zito Alvarenga, Presidente da Comissão do Negro e de Assuntos Anti-Discriminatórios da Ordem dos Advogados do Brasil, Maria Parecida de Laia, Coordenadoria de Assuntos da População Negra do Município de São Paulo, Fernando Leça, presidente da Fundação Memorial da América Latina e Hélio Santos, Professor da Fundação Visconde de Cairu, em Salvador, presidente do IBD e o palestrante do dia.
Para Eliza Lucas, o feriado do dia 20 de novembro nasce da necessidade de fazer uma reflexão não somente sobre o papel do negro, mas de toda a comunidade brasileira, que ainda é excluída de oportunidades: “Como o Brasil se diz um país moreno, se os negros têm os salários mais baixos e o atraso de nossas crianças ainda é gritante nas diferentes classes sociais?” Ela questiona.
Hélio Santos cita Franco Montoro como o percussor das ações afirmativas no Brasil. Porém, para ele, ainda há muito que fazer – “A abolição no dia 13 de maio foi insuficiente para instalar a democracia e a sustentabilidade moral no país. Não são as pessoas que devem ser iguais e sim as oportunidades, o Brasil hoje paga o preço por causa desse atraso de oportunidade a todos”, afirma Santos.
José Henrique Reis Lobo, ex-presidente do Memorial da América, estava presente no evento e cita a importância de Zumbi dos Palmares na história do país. Para ele, a luta de Zumbi deve continuar em todas as gerações, e não somente nas passadas – “É necessário que todos tenham as mesmas chances, infelizmente ainda há poucos negros nas universidades e em grandes cargos. A democracia é acima de tudo uma sociedade que respeita todas as relações entre os seres humanos, sem distinção de cor ou condição econômica. Ainda não concretizamos a abolição da escravidão no país”, diz ele.
Dr. Fernando Leça cita o Memorial como parceiro nesse tipo de iniciativa, já que a instituição sempre esteve à frente para promover a integração dos povos latinos americanos e da comunidade negra e indígena.
Édio Silva Junior, ex Presidente da Comissão dos Direitos Humanos e ex Secretário Estadual de Justiça, cita a eleição de Barack Hussein Obama, à presidencia dos Estados Unidos, uma vitória para a democracia e diz que o Brasil ainda está atrasado em sua política de inclusão: “O negro não é só objeto da história, e sim o sujeito. Não somos somente cultura e festa, queremos participar do meio intelectual, discutir nossas propostas nas universidades. Sou a favor das cotas no ensino superior, pois está provado que os alunos ingressos nas faculdades por meio de cotas têm o mesmo desempenho do que os outros ingressantes pelo sistema universal”, ele diz.
“O legado de Martin Luther King (ícone da luta contra o racismo que foi brutalmente assassinado nos Estados Unidos) deve permanecer em ações concretas, diárias contra a discriminação. Enfrentar a questão do preconceito é dar passos significativos para mudar o nosso sistema de valores, já que, infelizmente, ainda temos um problema racial de exclusão grave no país”, finaliza.
Por Vanessa Magalhães
Fotos: Fábio Pagan