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Para concluir o ciclo de debates sobre a imigração japonesa na América Latina, a professora Berta Waldman, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, falou sobre a representação do imigrante japonês na literatura brasileira produzida por brasileiros.
Diferentemente do enfoque histórico abordado até então, o literário permitiu uma avaliação complementar do que representou, no caráter sócio-cultural brasileiro, a chegada dos imigrantes orientais. A literatura possibilita um entendimento mais amplo e aprofundado das relações que se deram entre esses dois povos distintos si que somente a exposição numérica não permite.
Waldman, para ilustrar sua abordagem, analisou três obras significativas da literatura brasileira: “Amar Verbo Intransitivo” de Mário de Andrade, “Marco Zero” de Oswald de Andrade e “O sol se põe em São Paulo” de Bernardo Carvalho.
O modernista Mário de Andrade aborda o tema através da caracterização da personagem de Tanaka, criado japonês de uma família burguesa do bairro Higienópolis. Tanaka é referido no livro como o tigre japonês e tem como “qualidades” a disposição para o trabalho e a obediência. O romance publicado em 1927 mostra um Brasil em transformação e traz na figura do japonês um agente modernizador.
“Marco Zero II – Chão” de Oswald retrata a sociedade em crise após a ruína do cultivo de café e a Revolução Constitucionalista de 30. O romance aborda questões como o êxodo rural, a trajetória dos imigrantes, o crescimento urbano, o desenvolvimento do comércio e da indústria.
Inserido neste painel, o imigrante japonês aparece como aquele que “ocupa a terra de maneira estratégica”, relata a conferencista, “possui uma visão voltada para o desenvolvimento”. Outro aspecto interessante é quanto à questão lingüística. Oswald, para melhor caracterizar suas personagens, deixa de lado o padrão formal do português e transcreve literalmente a língua oral carregada de sotaque imigrante.
Para finalizar, Waldman teceu uma rápida análise sobre o recente romance de Bernardo de Carvalho, “O sol se põe em São Paulo”, publicado no ano passado. A professora destacou o fato que, diferente dos anteriores, no livro de Carvalho todas personagens são nikkeis. O narrador personagem propõe um resgate de sua origem e cultura oriental a medida em que vai desvendando a história de Setsuko, uma senhora japonesa, caixa de um restaurante na Liberdade.
A professora explicou que, com as três publicações, abarca-se um período de 80 anos de representação literária ligado ao tema da imigração japonesa vista pela perspectiva de brasileiros. Desta maneira Waldman traçou um painel da chegada japoneses ressaltando a interação.
O Memorial da América Latina e seus parceiros aproveitaram o Simpósio Internacional Presença Japonesa na América Latina para homenagear instituições e personalidades que contribuíram para o fortalecimento das relações entre Brasil e Japão. Entre elas o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, Aliança Cultural Brasil Japão, Associação Panamericana Nikkei do Brasil, entre outras. Entre as personalidades homenageadas estavam a Arlinda Rocha Nogueira, professora doutora da Universidade de São Paulo, especialista em imigração japonesa, e Fábio Riodi Yassuda, ministro da Indústria e Comércio do Brasil, em 1969.
Veja como foi o simpósio sobre imigração japonesa
Foto1: Profª. Berta Waldman
Foto 2: mesa composta pela Profª Nana Yoshida (USP), Minoru Sakate (Unesp), Berta Waldman (USP) e Francisco Assis de Queiroz (USP)
Foto 3: Profª Arlinda Rocha Nogueira recebe homenagem das mãos do Prof. Adolfo Melfi (Diretor do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina)
Por Gabriela Mainardi
Fotos por Fábio Pagan