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São Paulo, 26 de janeiro de 2009.
Os 75 anos da Universidade de São Paulo foram comemorados pelo Conselho Universitário da USP em Sessão Solene realizada no Auditório Simón Bolívar da Fundação Memorial da América Latina, na tarde desta segunda-feira, 27 de janeiro de 2009. A cerimônia homenageou os ex-reitores vivos da Universidade, bem como os diretores das unidades fundadoras da instituição e representantes do conjunto de professores, alunos de graduação, pós-graduados e funcionários.
A Sessão Solene também serviu para inaugurar a exposição "USP em Obras – A Construção da Cidade Universitária", com fotos de obras e prédios representativos do campus, como a FAU, a FFLCH, a Poli, a FEA e a Torre do Relógio. A mostra fica no foyer do auditório até 1º de fevereiro. Ainda na solenidade os Correios lançaram selo e carimbo comemorativos do jubileu de diamante da maior universidade brasileira.
Os 876 assentos do auditório foram tomados por professores, pesquisadores, cientistas, representantes de graduação e de pós graduação e de funcionários, bem como diretores de instituições, de faculdades, de centros de pesquisa e de museus – boa parte da inteligência paulista e brasileira estava ali para reverenciar os 75 anos da USP. As comemorações dos 75 anos da USP incluíram concerto e uma programação acadêmica e cultural. Confira no site www.usp.br.
No fim do ano passado, a reitoria criou a Medalha Armando de Salles Oliveira, que passa a ser outorgada a personalidades cuja atuação engrandeceram a Universidade. Os primeiros a serem contemplados com a nova comenda foram 8 ex-reitores vivos da USP. O mestre de cerimônia chamou para receber as medalhas e os diplomas das mãos da reitora atual, Suely Vilela, as seguintes pessoas: profº dr. Waldir Muniz Oliva (reitor entre 1978 e 1982), António Hélio Guerra Vieira (1982 – 1986), José Goldenberg (86 – 90), Roberto Leal Lobo e Silva Fº (90 – 93), Ruy Laurenti (vice-reitor que assumiu a reitoria em 1993), Flávio Fava de Moraes (93 – 97), Jacques Marcovitch (97 – 2001) e Adolfo José Melfi, que dirigiu a USP entre 2001 e 2005. O professor Melfi ocupa atualmente o cargo de diretor do Centro Brasileiros de Estudos da América Latina, deste Memorial.
A Sessão Solene foi aberta pelas palavras do diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Antonio Roque Rechen, saudando a USP como uma “universidade consolidada e reconhecida”. O professor lembrou que, sob iniciativa do governador Armando Salles de Oliveira, a USP foi fundada em 25 de janeiro de 1934, poucos anos após a crise de 1929 e a derrota paulista na Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo já era o centro econômico do Brasil, devido ao café e a uma incipiente indústria têxtil. “A criação da USP se insere num plano maior de, no longo prazo, recuperar a liderança política e formar quadros – cientistas – para a plena industrialização do Estado”.
Falando em nome dos mais de 213 mil alunos já formados pela USP, o dr. Fernando Penteado Cardoso contou que “no início, a USP abraçou São Paulo, hoje estende os braços para o Brasil e está preparada para, no futuro, se estender para o mundo”. Quando a USP foi fundada, integrando faculdades antes isoladas, o dr. Penteado Cardoso já cursava o 2º ano da Escola Superior de Agricultura prof. Luiz Queiroz. Ele graduou-se em 1936.
A reitora Suely Vilela, em seu discurso finalizando a Sessão Solene, disse que a garra paulista transformou a derrota em impulso para uma revolução intelectual e científica. “A USP estabeleceu um novo paradigma de ensino superior, no qual o ensino e a pesquisa se integram nas diversas áreas do saber”. Segundo a reitora, não é por acaso que essa cerimônia se dá no Memorial. “Por ser a principal universidade latino-americana, a USP escolheu o Memorial por ser um importante centro de integração de toda a região.” Além da exposição no Memorial, a reitora anunciou uma outra mostra, esta em outubro na OCA do Parque Ibirapuera, com peças e objetos da Universidade, muitos deles raros e desconhecidos do grande público. A reitora Vilela ainda agradeceu e entregou um troféu ao funcionário uspiano Laércio Evangelista dos Santos que, com a habilidade de um artesão, talhou o bastão projetado pelo arquiteto Washington Rodrigues, em 1935. “Era para ser um símbolo da USP, mas nunca tinha sido feito. Nele estão esculpidos os emblemas das instituições fundadoras da USP”.
Uma das falas mais emocionantes da tarde foi a da professora Berta Lange de Morretes, do Instituto de Biociências. Sua intervenção não estava prevista no protocolo. Ela apenas receberia um troféu em nome de todos os professores da USP desde o início, mas fez questão de tomar o microfone. Contou que entrou em 1938 no então curso de História Natural. Todos os professores eram estrangeiros. Alguns eram bem impacientes. “Lembro que a gente não compreendia bem um professor italiano, mas entendíamos o suficiente para perceber ele “xingando” em italiano os alunos de “rocha sedimentar” (risos).
Berta formou-se em 1941 e logo foi lecionar no Instituto de Botânica. A professora Berta hoje se locomove com dificuldade numa cadeira de rodas, mas continua ensinando na graduação e na pós graduação. “A USP me deu tudo. Que outro lugar eu teria livros, bibliotecas e professores à disposição para me ensinar tudo o que sei. Nós temos que trabalhar muito para devolver à Universidade e à sociedade tudo o que elas nos deram”. A professora Berta leva tão a sério suas palavras que não se contenta em ensinar apenas os alunos regulares. Quando vê um funcionário interessado, o apóia até ele também cursar a universidade. “Adotei para estudos serventes, vigias, pessoas que limpavam as privadas. Nove já estão formados e sete estão estudando. Hoje eles trocaram de profissão. São dentistas, enfermeiros, advogados e professores de Educação Física…” Foi o melhor resumo do espírito uspiano nesses 75 anos. Foi aplaudida de pé.
Por Eduardo Rascov
fotos por Fábio Pagan