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A Cerimônia da Paz do XII Revelando São Paulo transcorreu na manhã desse domingo, 14 de setembro de 2008, no Memorial da América Latina, com muito fervor, música, dança e diversidade cultural, étnica e religiosa. Comandada nos mínimos detalhes por Toninho Macedo, a celebração teve apresentações de grupos folclóricos, cantoria, discursos de líderes de diferentes denominações religiosas e nova bandeira branca hasteada em troca da velha. O ponto alto foi a chegada da Imagem Peregrina de Nossa Senhora Aparecida, diretamente do Santuário de Aparecida, pelas mãos do padre Alberto Pascoto (“às 5h30 da manhã de hoje eu já celebrava missa para uma Catedral de Aparecida incrivelmente lotada”, contou o prelado).
O pesquisador da cultura tradicional paulista, idealizador e alma do Revelando, Toninho Macedo, explicou que é muito importante o Revelando São Paulo começar com a Cerimônia da Paz no Memorial, pois aglutina diversas culturas, tradições e pensamentos e garante um ambiente pacífico e espiritualizado para o resto da semana. Além de padres católicos, participaram mulçumanos, anglicanos, plesbiterianos e da Assembléia de Deus, Perfect Liberty, budistas, espíritas kardecistas, espiritualistas, ortodoxos bielo-russos e gregos, Hare Khrisna, membros do Candomblé e umbandistas. Os umbandistas, aliás, estavam especialmente representados, pois comemoravam 100 anos de sua fundação.
A partir das 9 da manhã a esplanada do Memorial foi sendo tomada por carros de bois (puxados por Jessé, vaqueiro experiente cuja voz é reconhecida e obedecida pelos ruminantes), por rapazes e moçoilas da colônia boliviana em São Paulo da Fraternidad Caporales San Simon (vestiam trajes típicos das Caporales de seu país, com os quais cantam e dançam no carnaval), por imigrantes portugueses da Casa Ilha da Madeira, por curumins guaranis, pela Congada de Santa Ifigênica, de Mogi das Cruzes, pelo Grupo Folclórico Caiapó, de Joanópolis, pelo Maracatu Nossa Senhora do Rosário, pelo Império Divino, da Freguesia do Ó (bairro de São Paulo), por moçambiques, tropeiros e carroceiros paulistanos, catadores de recicláveis abençoados por São João Bosco e pelas bandas Filho do Cacique (Umbanda) e a do município de Sarapui, além de cerca de 60 folcloristas e pesquisadores de vários estados brasileiros (como Amazonas, Amapá, Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro), entre muitos outros participantes e o público em geral.
Com a Praça Cívica cheia, Toninho Macedo deu a ordem para soar os tambores “para entrar em sintonia com a pulsação da cidade”. Seguiu-se uma sucessão de danças de origem afro-brasileiras congadas e outros folguedos que permeiam o ciclo natalino tradicional de festas e comemorações. A chegada da Imagem Peregrina de Nossa Senhora Aparecida deu ares ainda mais sagrados à celebração. Explicações como “Nossa Senhora simboliza a natureza mãe, a deusa da fertilidade dos antigos, que gera a vida desde os primórdios da humanidade” eram proferidas por espiritualistas que procuram “a síntese entre todas as manifestações religiosas”. “A religião do nosso povo em diálogo com outras tradições”, dizia Toninho Macedo
“Não adoramos um objeto material, é claro. Mas ele é um símbolo que nos apresenta ao sagrado”, explicava Tonimo Macedo, ele mesmo um mestre em revitalizar símbolos e cultivar, re-significar e criar ritos em uma época tão dessacralizada. Por exemplo, à maneira indiana, todas as pessoas presentes foram marcadas na testa por uma tinta feita à base de argila do Parque da Água Branca. “Quero destacar que essa mesma cidade que a televisão diz que só tem violência, pode realizar algo tão complexo, profundo e pacífico quanto o que estamos vemos”, repetiu Toninho Macedo algumas vezes. “Queremos fazer germinar as sementes boas que temos guardadas dentro de nós”.
Lá pelo meio do dia, saiu o cortejo inspirado na Caminha do Sal, de Ghandi, em direção ao Parque da Água Branca. A Imagem de Ogum, trazida pelos umbandistas, foi em um carro da Defesa Civil. Toninho Macedo e os outros líderes religiosos subiu em uma espécie de trio elétrico do Revelando São Paulo. De lá, qual um maestro, ele pode orquestrar todo o desenvolvimento da caminhada. Cada grupo ia fazendo seu som característico, dançando e cantando suas tradições.A Santa seguiu em carro de boi, ao lado de Fernando Calvozo, diretor de atividades culturais do Memorial e da assessora Myrian Christofani. Os carros de bois fechavam a procissão, com o chiado das rodas anunciando a boa nova da chegada da Santa. Moradores acenavam, a cena era flagrada pelas câmeras de segurança das portarias dos prédios de classe média alta de Perdizes. Um grupo do interior, de pá em punho, ia catando na hora o estrume produzido pelos animais na andança. Encheram dois carrinhos de mão.
Ao entrar na arena do Parque da Água Branca, onde está montado o palco, a Santa foi muito aplaudida. Algumas senhoras choravam. A arquibancada estava cheia e nos corredores, correntezas de pessoas iam e vinham em busca de artesanato e comida interiorana. Em frente ao palco, dezenas de violeiros se concentravam. Eram das Orquestras de Violas de São José dos Campos, Araras, Taboão da Serra e Monte Alegre do Sul. A multidão abriu passagem para a Santa, que chegava nas mãos do padre Arnaldo, do Santuário de Aparecida do Norte. A Imagem Peregrina entrou ao som de “Romária”, de Renato Teixeira, executada por aquela miríade de violeiros. Uma mulher vestida de branco jogou pétalas de rosa sobre a Santa.
Veja como foi a abertura do Revelando
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Fotos: Fábio Pagan