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São Paulo, 15 de fevereiro de 2009.
O Pholia no Memorial se encerrou neste domingo mais uma vez honrando sua tradição de 19 anos como Pré-Carnaval animadíssimo, democrático, plural e sem preconceito. Tudo o que deve ser a essência do Carnaval, sem competição vã, cheia de regras e burocratizada nem excesso de comercialismo. No Pholiódromo montado na Praça Cívica do Memorial da América Latina desfilaram em comunhão 13 blocos de diferentes origens sociais, econômicas, etárias e geográficas. Cada bloco ou escola de samba atraia seu próprio público e trazia sua gente para brincar.
O destaque de domingo, sem dúvida, foi o Bloco Unidos da Melhor Idade, com mais de mil componentes devidamente fantasiados à antiga, como palhaços de circo, pierrôs e colombinas, arlequim e piratas. Com direito a salva de fogos, os fuliões de 60 e 70 anos (alguns passavam dos 80) fizeram desfile impecável, alegre e descompromissado. Lotaram as arquibancadas. Estavam lá seus filhos, netos e até bisnetos. Todos receberam uma cópia do samba-enredo “Dalva de Oliveira… A melhor idade vem contar”, de autoria de Denílson Benevides, Arnaldo Teixera e Misturinha. Os velhinhos da bateria do bloco foram ensaiados por uns ritmistas da Vai Vai, entre eles mestre Zuza. A Vai Vai também mandou alguns sambistas da sua bateria para dar uma força.
Mas quem deu um show à parte, exibindo o samba no pé apenas para brincar com a família e os amigos foi a comunidade do bairro da Saúde que formou, há apenas 2 anos, o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Quilombo. Fundado basicamente por famílias de negros que, após uma briga, deixaram a tradicional Escola de Samba Barroca Zona Sul, ela trouxe para o Pholiódromo 720 componentes muito bem ensaiados. O Quilombo é presidido pelo Mestre Thiago Praxedes, neto de Pé Rachado, mitológico fundador da Vai Vai e da Barroca Zona Sul. Segundo João Sampaio, vice-presidente da Quilombo, a “gente não pretende entrar em nenhuma disputa ou competir no sambódromo, a escola foi formada apenas para termos onde brincar o carnaval”.
Navio Negreiro e Alegria da Área, com seu mestre de bateria que é deficiente visual (foto acima, à esquerda), também mostraram um carnaval enraizado, provando que – ao contrário do que dizia o poeta Vinícius de Moraes – São Paulo não é o “túmulo do samba”, mas carrega consigo tradição que se renova a cada geração. Isso ficou evidente também pelo que rolou no “Botequim do Pholia”. Pelo segundo ano consecutivo, o cantor Marquinhos Dikuã e a banda Na Descida do Morro receberam bambas do samba no intervalo entre um desfile e outro. Do alto do trio elétrico, eles cantaram com as Velhas Guardas da Vai Vai, Camisa Verde e Branco, Tom Maior e Peruche, entre outras agremiações tradicionais do samba paulista.
No camarote, além de sambistas importantes no meio, toda a corte eleita do carnaval 2009 de São Paulo: o Rei Momo Robério Theodoro de Souza, da Mocidade Alegre, a Rainha do Samba Camila Silva, da Vai Vai, além de princesas e outros membros da nobreza negra. Que venha o Carnaval.
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Musas do Pholia se preparam para puxar os blocos da festa
Por Eduardo Rascov
Fotos de Fábio Pagan