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Paulinho da
“Porém, ai porém. Há um caso diferente que marcou num breve tempo…” O maestro faz um sinal. Pára. O maestro pede para repetir. Repete o “porém”, que dá o tom e encaminha a orquestra. Ao som de “Foi um Rio que Passou em Minha Vida” e outros sambas, o ensaio de Paulinho da Viola com a Orquestra Jazz Sinfônica – na tarde de 22 de maio, no Auditório Simón Bolivar, deu uma pequena mostra do que será o show de quarta-feira, dia 24.
Após 12 anos da primeira apresentação, o encontro de Paulinho da Viola com a Jazz Sinfônica prometer ser muito mais que um show. Uma nova parceria entre o artista carioca e o músico paulista Eduardo Godim, idealizador da Jazz (ao lado de Arrigo Barnabé), por exemplo, já está resgatada. E a mistura do popular com o erudito, segundo Paulinho, é ótima para quebrar preconceito que possa haver de qualquer lado.
A idéia deste show foi do maestro João Maurício Galindo. “Queria trazer o samba tradicional e fazê-lo dialogar com uma orquestra deste tamanho (cerca de 80 integrantes). Ao fazer os arranjos para orquestra, estamos ao mesmo tempo inovando e preservando a memória musical. São partituras novíssimas, que criamos agora”, diz o regente.
O repertório foi decidido em conjunto. De Paulinho , entram, além de “Foi um Rio que Passou em Minha Vida ”, “Coração Leviano’ e “Timoneiro”. As outras são sambas e choros de compositores que vão de Monarca a Zeca Pagodinho. A banda de Paulinho acompanha a orquestra e ele mesmo tocará cavaquinho em algumas canções.
Na entrevista que concedeu após o ensaio, Paulinho se mostrou calmo e evitou entrar em polêmicas envolvendo música popular e erudita. Disse que já tem seis ou sete músicas para um novo álbum – uma delas já gravada por Marisa Monte -, mas que não tem pressa para concluí-lo. “A Marisa me pede para eu gravar logo, ela me incentiva muito”.
Paulinho se define como sendo essencialmente um sambista, embora grave choros e outros tipos de música. Para se apresentar acompanhado de orquestra, disse que não muda sua forma de cantar. “A minha voz mudou com o tempo, antes era mais aguda”, disse.
Falou dos diferentes gostos musicais da família – são sete filhos – e da diferença de sotaque entre os sambas paulista e carioca. “Eu acho que tem diferença, mas acho isso ótimo. Eu já fiz e farei parcerias com paulistas”, disse, apontando para o maestro Eduardo Godim, que aguarda uma letra para uma música.
Para não esquecer
Em um trabalho de fôlego, desde a sua fundação, em 1990, a Orquestra Jazz Sinfônica preserva a memória da música brasileira. Seu arquivo, com arranjos orquestrais de diversos gêneros do nosso cancioneiro, já soma mais de 800 partituras. Dele fazem parte adaptações, recriações e composições inéditas. Entre elas, sambas.
Segundo João Maurício Galindo, “há um esquecimento muito rápido do samba antigo, mais lento”, que cede lugar ao andamento do samba-enredo das escolas de samba que “são todos muito parecidos”. Esse é um dos motivos dele convidar Paulinho da Viola, acompanhado da velha guarda da Portela.
Em junho a Jazz Sinfônica faz o mesmo com o chorinho, ao homenagear o compositor Pixinguinha. Desta feita, o convidado será o músico Proveta, líder da Banda Mantiqueira. “Costumo perguntar ao público se alguém conhece alguma outra composição de Pixinguinha, além de “Carinhoso”. Ninguém conhece!”, preocupa-se Galindo.
Em agosto, será a vez do frevo. A Jazz Sinfônica convida um compositor pernambucano chamado Spok, que criou uma interessante “big band” do frevo. E assim a Jazz Sinfônica, ao dividir o palco com Paulinho da Viola, Proveta, Spok, entre outros expoentes, segundo Galindo, “refresca a riqueza da música popular brasileira, ao mesmo tempo que mostra e preserva o que ninguém conhece”.
Fotos: Adriano Capelo
Serviço:
A música da Velha Guarda da Portela apresentada pela JAZZ SINFÔNICA em arranjos especialmente escritos para orquestra, traz Paulinho da Viola como o elo entre a tradição e a modernidade.
Concerto da Orquestra Jazz Sinfonica com Paulinho da Viola
Série Jazz+ com Paulinho da Viola
Quarta-feira, 24 de maio
Horário: 21 horas
Memorial da América Latina – Auditório Simón Bolívar (1609 lugares)
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda (ao lado do metrô)
Telefone: (11) 3823-4600
Ingressos R$ 30,00
Acesso pelos portões 12 a 16