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Um diálogo estético entre os artistas argentinos radicados em São Paulo e os que não saíram de sua pátria está dando os primeiros passos nesta exposição. Julia Vallejo Puszkin é uma jovem artista que tem ganhado alguma evidência em Buenos Aires. Neste ano ela expôs no Centro Cultural Recoleta um trabalho, em dupla com Federico Puiggrós, bastante interessante – o aclamado “Los Aparatos”, que fez parte do Fase 3 Festival de Arte e Tecnologia. São obras tridimensionais, verdadeiras engenhocas que misturam arte e tecnologia antiga. Os nomes das peças são impagáveis: “El Desintelectualizador”, “El Acelerdor de Tramitaciones psíquicas” e “La trituradora de sentimentos de culpa”…
Se em seu país ela trabalhou com bom humor a intersecção homem/máquina, para o Brasil trouxe o lado mais lírico da sua produção: “Quando penso nos bosques, imagino todo um mundo encantado, de contos, histórias clássicas, o verde, o ar. Mas algo também evoca em mim uma incerta sensação de ameaça. Ameaça ou temor que revela que isso que sabemos essencial para nosso planeta, se mostra frágil.”
Para expressar essas sensações contraditórias, Julia Vallejo desenha delicadamente essa fragilidade, conforme ela explica: “a recordação, a sombra, a nostalgia, a infância, as bordas dos abismos… temas reunidos através de um fio condutor: o Outono, que torna presente certo frescor melancólico do tempo que nos atravessa e nos lembra que devemos nos desprender de velhas roupagens.”
Julia Vallejo traz ao Memorial quatro obras em formato pequeno (30 X 40 cm). Duas a nanquim e duas a grafite. A artista escolheu o outono como tema, “a tristeza do bosque que recorda seu verdor, as sombras do que não está, mas que também, mesmo desnudado na espera, sabe que alguma primavera virá”.
A composição limpa, o claro/escuro, o uso inteligente do vazio contribui para evidenciar a mensagem da artista. O traço preciso, sensível, livre mas contido, obsessivo no seu hiper-realismo criam folhas que deixam as árvores mas não balançam levadas pelo vento, não têm mais a naturalidade de antigamente. Estão penduradas no varal, como que para secar depois de lavadas; ou então formam uma nuvem ameaçadora pairando sobre uma árvore pelada. Esse não é o dilema dos nossos dias?
Eduardo Rascov
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