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O segundo dia do seminário 1968: Ecos na América Latina abordou o tema da resistência à Ditadura Militar sob três diferentes perspectivas, porém complementares: a de um estudante, um operário e um jovem que recorreu à luta armada.
A mesa foi coordenada pelo também ex-militante Raphael Martinelli. O ex-operário José Ibrahim abriu a sessão contando sobre as conseqüências diretas do golpe Militar sobre os trabalhadores: foi-lhes tirado o direito de greve e imposto o arrocho salarial.
Além disso, a nata do movimento sindical foi duramente perseguida pelo aparato militar, que atuava em nome do governo. Com isso, novos líderes foram surgindo. Ibrahim é um desses. Foi presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Osasco e líder da Greve de Osasco em 1968. Ele foi eleito presidente aos 18 anos.
Ibrahim lembrou o evento promovido pelos trabalhadores no 1º de Maio daquele ano, na Praça da Sé, em que se juntaram a estudantes para protestar contra a ditadura, contra o imperialismo. Em julho do mesmo ano, os operários realizaram a Greve de Osasco: ocuparam e paralisaram as fábricas da região.
“Houve uma repressão fortíssima. A cidade foi sitiada, casas foram invadidas e o exército ficou na cidade até desmobilizar os grevistas”, lembra ele, que viveu intensamente essa experiência.
Já o atual professor de Filosofia da USP Leonel Itaussu de Melo, à época estudante da mesma universidade, falou sobre a mobilização dos estudantes na luta contra o governo autoritário.
O então estudante de Filosofia da USP participou da Batalha da Maria Antônia, contra a facção de CCC (Comando de Caça aos Comunistas) instalados no Mackenzie. No mesmo ano ele, que também estudava Direito, participou da tomada da Faculdade de Direito (foi preso nesta ocasião), foi delegado do Congresso de Ibiúna (onde também foi preso) e, na prisão, foi eleito presidente do DCE da faculdade.
Para ele, o século XX teve dois grandes momentos de transformações, de mobilização das massas e surgimento de idéias em todo o planeta: os anos de 1917/18 e 1967/68. Porém, Itaussu disse achar problemático isolar o ano de 1968 e discuti-lo separadamente. “O passado tem de ser colocado em perspectiva. É claro que 1968 foi um momento privilegiado deste processo histórico, mas ele tem de ser visto em conjunto”, disse.
O ex-guerrilheiro Ivan Seixas também evocou o processo histórico, além da luta de classes, para explicar por que a luta armada foi uma das vertentes da resistência à Ditadura Militar no Brasil. A luta armada, aliás, começou bem antes do Golpe de 1964. Ele fez um histórico das guerrilhas, que já existiam no campo desde a década anterior.
“Você não detona nenhum processo por decisão de alguém. O processo acontece dentro de uma perspectiva histórica. No Brasil, a luta veio da necessidade de reorganização dos partidos revolucionários”, explicou.
Para Leonel Itaussu de Melo, “o Golpe Militar trouxe um governo ilegítimo que praticava terrorismo de Estado. Nós tínhamos o sagrado e natural direito à resistência e foi o que fizemos. Demorou, mas conseguimos restaurar a democracia no Brasil. Ainda existe, porém, uma grande dívida social neste país e, neste quesito, estamos só começando”, afirmou. Para concluir, disse que, apesar das prisões, torturas, mortes, exílio, tudo valeu a pena.