A exposição “Memorial Revisitado, 20 anos”, na Galeria Marta Traba, encerra seu período neste domingo, 26 de abril. A mostra foi inaugurada em 19 de fevereiro, com a presença de artistas plásticos, intelectuais e autoridades. Trata-se de uma pequena, mas consistente, antologia das melhores exposições que passaram pelo Memorial em seus 20 anos de vida.
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Vieram prestigiar o evento que integra o calendário de comemorações do aniversário do Memorial, entre outros, o historiador e membro do Conselho Editorial da revista Nossa América, professor Ulpiano Bezerra de Menezes, o jornalista e escritor Audálio Dantas, o editor Carlos Haddad (na ocasião representando o presidente da Imprensa Ofical do Estado de São Paulo, Hubert Álqueres), os artistas José Roberto Aguilar (autor da marcante obra "Pessoas", de 1998, na primeira página deste site), Mônica Filgueiras, Tereza Salazar e Nele Azevedo.
O maior mestre da gravura brasileira, Mario Gruber, também estava presente, na companhia de seu filho, o igualmente artista talentoso Gregório Gruber. A propósito, Mario Gruber tem uma relação especial e antiga com o Memorial. A convite de Oscar Niemeyer, ele fez um painel, “Homenagem a Clay Gama de Carvalho” (alusão ao escritor que teve um manuscrito inédito, “Literatura Americana no Exílio”, confiscado e distruído pela Ditadura), que se encontra na Biblioteca Latino-americana Victor Civita. Para “Memorial Revisitado, 20 anos”, Gruber mandou uma de suas obras mais belas, uma gravura em metal sem título feita a partir de experimentação com pião chinês. Seu filho, Gregório Gruber, destacou a necessidade de sempre incentivar a arte: “É uma chance única de ter tantos talentos aqui reunidos, é importante sempre promover encontros como esse”. Na cerimônia de abertura, Gruber foi homenageado várias vezes com uma salva de palmas
A noite também serviu para o lançamento do número 32 da revista Nossa América (atualmente trimestral), publicação bilíngüe (português e espanhol), publicada ininterruptamente há 20 anos pelo Memorial em parceria com a Imprensa Oficial. Falando em nome do presidente da Imprensa Oficial, Hubert Álqueres, o editor Carlos Haddad declarou que a leitura da revista “serve de inspiração para a gente e revela a ternura do passado, o valor do presente e a esperança do futuro da América Latina”.
Em seu discurso de boas-vindas aos presentes, Fernando Leça, presidente do Memorial, não só relembrou o passado, mas fez questão de mencionar uma novidade nessa exposição que aponta para o futuro – as telas que compõem a Galeria Virtual da exposição, elaborada por Lucas Schlosinski. Por meio de um simples toque na tela do monitor de LCD de 42 polegadas, o visitante pode viajar por duas das mais importantes exposições já montadas no Memorial: “A dor da Colômbia por Botero”, do colombiano Fernando Botero, e “Descobrindo Guayasamín”, do equatoriano Oswaldo Guayasamín. O recurso computacional permite um tour pela galeria, com aproximação de detalhes das obras, ou distanciamento para visão do conjunto em vários ângulos.
“Esse é o caminho para os nossos dias. Vamos repaginar as exposições e os eventos aqui do Memorial, que passarão a ter cada vez mais esse componente digital”, anunciou o presidente Leça, que citou como modelos o Museu da Casa Brasileira e o Museu do Futebol, recém inaugurado.
A exposição é composta de um núcleo histórico, com obras de grandes nomes latino-americanos, como Roberto Matta, Jesus Rafael Soto, Leon Ferrari, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lasar Segall, entre outros, e um núcleo de arte contemporânea, representado principalmente por Tomie Ohtake, Ernesto Neto, Leda Catunda, Nazareth Pacheco, José Spaniol, José Rufino, Artur Lescher e José Roberto Aguillar.
Em um bate-papo animado na tarde de quinta, artistas, curadores, colaboradores e convidados falaram sobre a sua participação na história estética do Memorial, sobre a experiência de estarem participando dessa mostra coletiva comemorativa e discutiram os caminhos da arte contemporânea.
Fernando Calvozo, diretor de Atividades Culturais e um dos curadores de “Memorial Revisitado”, disse que essa inauguração é uma oportunidade de reviver a história da Galeria: “É um desafio, sem dúvida, estar ajudando na curadoria dessa exposição, mas é gratificante lembrar figuras importantes que já passaram pelo Memorial”.
Ângela Barbour, gerente da Galeria e também curadora da exposição, lembra que a mostra é a centésima do espaço, o que fortalece o trabalho dos artistas que estão expondo “É importante sempre promover, essa conversa com o público antes da inauguração oficial, pois possibilita um intercâmbio de informações. Por coincidência, essa mostra que está sendo exibida é a de número cem, fato que consolida a oportuna idéia de reunir tantos obras significativas”.
“Na Galeria os trabalhos se encaixam no mesmo patamar, de maneira harmoniosa. Por ser um espaço redondo, não há uma hierarquia na forma em que são colocados, o que possibilita uma maior interação entre eles”, afirma Sidney Philocreon, designer da exposição.
A artista Tereza Salazar disse que se sente privilegiada de participar dessa inauguração “Mesmo não expondo o mesmo trabalho de antes, é importante estar inserida nesse momento histórico em que vive o Memorial, duas décadas de desafios e superações”.
“É uma grande oportunidade poder apresentar ao público uma obra minha, em uma instituição como essa, que faz parte do conceito visionário da América Latina”, afirmou curador Saulo Di Tarso.
José Henrique Rossi, filho do falecido artista João Rossi, lembrou que seu pai foi o primeiro artista brasileiro a expor na Galeria; “A exposição foi a última com ele vivo, o que me deixa muito feliz de estar aqui”.
Estava presente também Marisa Berto, representante da Associação Brasileira dos Críticos de Arte. Segundo ela, não poderia haver nome mais apropriado para a Galeria: “Tenho admiração por Marta Traba e sua morte precoce interrompeu o processo de aproximação entre os admiradores e o seu trabalho. Dar o nome dela em um espaço como esse é não deixar morrer sua história”. Até 1997, as exposições no Memorial eram feitas nas galerias do auditório Simón Bolívar. Foi em 1998, na gestão de Fábio Magalhães, que o espaço antes usado como restaurante temático passou a ser a Galeria Marta Traba. A transformação contou com o apoio e projeto de Oscar Niemeyer.
Por Eduardo Rascov e Vanessa de Magalhães
Fotos: Fábio Pagan