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México Contemporâneo: Curadora quer ampliar o intercâmbio cultural
São Paulo, 24 de setembro de 2009
No início do século XX o México viveu um período revolucionário sem precedentes. A máxima maiakovskyana “não há arte revolucionária sem forma revolucionária” era então mais do que uma frase. Os artistas plásticos mexicanos daquela época que o digam. Eles refletiram essa efervescência sócio-cultural melhor do que ninguém. Uma mostra disso pode ser conferida na exposição “Expressões Gráficas – México Contemporâneo”, que se abriu na noite da quinta, 24 de setembro de 2009, na Galeria Marta Traba, deste Memorial, e fica em cartaz até 25 de outubro.
Estão expostas gravuras exemplares do acervo de 12 mil peças do Museo Nacional de la Estampa (MUNAE), do Instituto Nacional de Belas Artes, do México, escolhidas pela curadora Llúvia Sepúlveda (foto à esquerda). “São 40 obras representantes do que se chamou Escola Mexicana de Pintura. Sua expressão mais conhecida é a arte mural, eivada de forte crítica social e política”, contou Sepúlveda, cujo pré-nome, poético, significa chuva.
Logo na entrada da Marta Traba se vê, por exemplo, litografia de José Clemente Orozco Flores (1883 – 1949), que remete a dilacerante detalhe do seu mural “Duas cabeças”, em meio a ferros retorcidos (imagem na primeira página do site). A obra expressionista de Orozco – ao lado da produção dos outros dois grandes muralistas Diego Rivera (1886-1957) e David Alfaro Siqueiros (1896 – 1974) – era pública e procurava contar ao povo mexicano sua história soterrada, sem abdicar da linguagem moderna que explodia na Europa.
“A gravura é uma arte marcadamente utilizada em nosso devir histórico e tem impactado de forma significativa nossas sociedades. Em grande medida, isso se deve ao fato de os principais autores e movimentos terem usado a gravura como instrumento de denúncia, propaganda e comunicação, porque a entenderam como o meio mais efetivo, preciso e convincente para enfrentar a realidade”, escreveu Octavio Fernández, diretor do MUNAE, no catálogo da exposição.
A partir de Orozco, quem vier à Marta Traba conhecerá a linha de desenvolvimento da gravura mexicana, passando pelo americano Pablo O´Higgins e o russo Vlady, ambos radicados no México, até chegar nas água-forte de José Luis Cuevas, um dos mais reconhecidos artistas contemporâneos vivos e desembocar na pop serigrafia a cores de Arnold Belkín (abaixo).
Uma das motivações de Llúvia Sepúlveda em sua estadia no Brasil é aumentar o intercâmbio artístico entre o Museo Nacional de la Estampa e instituições brasileiras. “Os gravadores brasileiros são pouco conhecidos no México”, lamentou. Ora, a gravura é largamente usada em nossa arte popular desde sempre (basta ver os cordéis). E Llúvia não via a hora de conhecer pessoalmente a obra de Maria Bonomi, por exemplo, uma de nossas grandes gravadoras (ela ficou muito feliz ao saber que o Memorial dispõe de dois grandes trabalhos da artista: os painéis “Futura Memória” e “Etnias – do primeiro e sempre Brasil”).
Francisco de Blas, Chefe de Atividades Culturais do espanhol Instituto Cervantes, prestigiou a abertura da exposição mexicana. Ele tomou posse de seu cargo há apenas uma semana (estava antes na Bélgica) e já veio conhecer o Memorial para estudar novas parcerias culturais com o Memorial. Estava acompanhado do diretor do Instituto Cervantes, Pedro Benítez Pérez, velho amigo da casa, com quem desenvolvemos o projeto de ensino de espanhol a distância a partir do Memorial. (na foto acima são os dois primeiros, à esquerda, na comcpanhia do Memorial, Fernando Leça, da artista plástica e gerente da Galeria Marta Traba, Ângela Barbour, e da curadora e editora executiva do Memorial Leonor Amarante).
A mostra fica aberta para visitação de terça a domingo, das 9 às 18h. A entrada é franca.
Por Eduardo Rascov
Fotos: Fábio Pagan