ARTIGO

Foto: Adobe Stock
A cultura é de todo mundo
Por Guilherme Bryan e Leila Rabello de Oliveira
A definição do que é cultura é bastante vasta, já rendeu vários livros e foi mudando ao longo do tempo. Mesmo assim, ainda há uma elite intelectual e financeira que se considera detentora do que é mais nobre e, portanto, superior às outras classes sociais e povos. Esse pensamento, ao qual se deu o nome de etnocentrismo, impede a compreensão de que as pessoas e os povos são diferentes e, por isso, não são superiores ou inferiores.
No início do século 20, o antropólogo Franz Boas (1858-1942), nascido em Minden, na Alemanha, e falecido em Nova Iorque, nos Estados Unidos, tornou-se um dos criadores do que ficou conhecido como Antropologia Moderna. Ele questionou a visão de que determinados países, classes sociais e pessoas são detentoras de mais cultura do que outros e, por isso, superiores e capazes de reduzir ou até mesmo aniquilar o que não consideram como sendo digno de apreciação e valorização.
Franz Boas colocou em prática o denominado relativismo cultural, ou seja, um dos pilares do pensamento do antropólogo é o de que um povo não tem mais cultura do que outro, uma vez que ela é identificada por meio das práticas, crenças e valores em comum. Esse conceito foi bastante importante na época e se contrapôs ao denominado etnocentrismo que caracterizou a visão de colonizadores exploradores europeus.
Vale destacar aqui também um pensamento mais contemporâneo do filósofo e antropólogo colombiano Jesús Martín-Barbero e que demonstra como o etnocentrismo continua sendo praticado até os dias de hoje. O pensador criou uma analogia que associa a cabeça com o pensamento europeu, representando a cultura erudita, a razão, a intelectualidade e a cultura hegemônica, em contraposição a parte inferior do corpo, relacionada às classes populares, simbolizando o instinto e os saberes menosprezados pela elite e vistos como irracionais ou inferiores em relação à cultura hegemônica.
Nesse sentido, basta refletirmos que, se os colonizadores, em seus relatos, muitas vezes associavam as práticas culturais dos povos originários como sendo demoníacas, indignas e que, por isso, deveriam ser destruídas, nós muitas vezes só valorizamos determinados criadores e/ou manifestações artísticas quando elas são reconhecidas pela elite financeira e intelectual, oriunda principalmente dos países dominantes do hemisfério norte ocidental, principalmente os Estados Unidos e a Europa.

