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A companhia italiana Balletto Dell`Esperia, de Turim, traz a São Paulo o espetáculo de dança Trittico, constituído de três obras-primas do balé do século XX, interpretadas por três coreógrafos contemporâneos. O espetáculo conta com o apoio do Instituto Italiano di Cultura San Paolo e a Associazione Piemontesi nel Mondo. A entrada é franca.
Fazem parte do Trittico "A morte do cisne", coreografia de Thierry Malandain, "L`Aprés-midi d`un Faune", coreografia de Eugenio Scigliano, e "Os quatro Temperamentos", coreografia de Paolo Mohovich.
O Balletto dell’Esperia é uma companhia de dança contemporânea ativa na Itália desde 1999 que tem sede em Turim, formada atualmente por oito bailarinos solistas e dirigida pelo coreógrafo Paolo Mohovich. Uma realidade consolidada em nível internacional, o BdE foi convidado, nesse período, por prestigiados teatros e festivais na Itália, Espanha, França, Chipre, Argentina, Uruguai, Brasil, Chile e Estados Unidos.
Desde outubro de 2006, o Balletto dell’Esperia é uma companhia associada da Fondazione Teatro Piemonte Europa, com residência teatral no Teatro Astra di Torino. Fruto dessa colaboração é o Centro Coreográfico Rettilario, um novo polo para a dança contemporânea, dirigido por Paolo Mohovich, que estende seu raio de ação para as vertentes da programação, da produção e da divulgação da arte da dança.
Atualmente o BdE é sustentado pela Região Piemonte, pelo Ministério da Cultura Italiano, pela Cidade de Torino, pelo festival Torinodanza, pela Fundação CRT e pela Fundação Teatro Piemonte Europa. Os bailarinos fixo da companhia são Davide Di Giovanni, Gonzalo Fernández, Laura Missiroli, Silvia Moretti, Roberta Noto, Elena Rittatore e Davide Valrosso.
A morte do cisne
Uma peça de rara beleza do coreógrafo francês Thierry Malandain, diretor do prestigiado Centre Chorégraphique National Ballet Biarritz: A morte do cisne é a melancólica e esplêndida releitura de Malandain de um dos solos mais famosos da história do balé, composto em 1904 por Michael Fokine sobre a pungente música de Camille Saint-Sa¸ns. Momento de pura dança, a releitura de Malandain não vê em cena apenas uma bailarina, mas propõe um trio feminino para evocar a força e a graça de uma ave, o cisne, que através dos séculos é protagonista de muitos símbolos, entre os quais o da luz: três mulheres que descem dos céus vêm à terra para tomar seu último fôlego antes de se encarnarem em cisnes e retomar um novo vôo.
coreografia: Thierry Malandain
música: Camille Saint-Saëns
figurinos: Jorge Gallardo
iluminação: Jean Claude Asquié
intérpretes: Laura Missiroli, Silvia Moretti, Roberta Noto
L`Aprés-midi d`un Faune
Trata-se de uma peça completamente masculina que evoca o espírito animalesco e o erotismo latente presente na coreografia original de Nijinsky. Em L’aprés-midi d’un faune Scigliano, exalta a masculinidade através de formas sinuosas e sensuais, mas ao mesmo tempo fortes e terrenas, em harmoniosa contraposição com a célebre música de Debussy. O coreógrafo baseia-se no poema de Mallarmé para fazer uma reflexão sobre a natureza do ser humano: em uma atmosfera visionária e onírica, o fauno é o instrumento para um jovem, adormecido no meio da natureza, entender sua sexualidade e construir o próprio ser.
coreografia e criação cênica: Eugenio Scigliano
música: Claude Debussy
iluminação: Claudio Cerri
intérpretes: Davide Di Giovanni, Davide Valrosso
Os quatro temperamentos
Paul Hindemith compôs, em 1940, a peça Os quatro temperamentos, que se tornou, em 1946, uma das maiores obras-primas de George Balanchine. Esta peça musical é inspirada na teoria grega e mais tarde medieval dos “temperamentos”, dos quatro humores principais: melancólico, sanguíneo, fleumático e colérico. A releitura de Paolo Mohovich pretende ser uma homenagem ao grande coreógrafo: o balé explora de maneira mais visceral e menos abstrata a essência dos quatro temperamentos, criando movimentos coreográficos que se inspiram nas afinidades e contraposições entre corpo masculino e corpo feminino.
coreografia: Paolo Mohovich
música: Paul Hindemith
figurinos: Jorge Gallardo
iluminação: Carlo Cerri, Paolo Mohovich
intérpretes: Davide Di Giovanni, Gonzalo Fernández, Laura Missiroli, Silvia Moretti, Roberta Noto, Davide Valrosso
Leia a seguir comentário escrito por Silvia Poletti:
O Trittico apresentado pelo Balletto dell’Esperia apóia-se em duas vertentes. O espetáculo mostra três peças que entraram com razão para a literatura coreo-musical moderna, seja em virtude dos compositores envolvidos (Saint-Saëns, Debussy e Hindemith), seja porque são exemplos da obra dos três principais inovadores da dança de matriz clássica do século XX: o pioneiro Mikhail Fokine, o radical Vaslav Nijinsky e o reformador George Balanchine.
Apesar deste Tríttico ser uma declaração de ‘pertencimento cultural’ à tradição do balé moderno – pois conservam bem claros alguns princípios estéticos, compositivos e poéticos fundamentais dessa linhagem – é inegável a absoluta independência conceitual e criativa de seus três autores.
Ao abordar as três peças em questão, Thierry Malandain, Eugenio Scigliano e Paolo Mohovich demonstram-se bem conscientes de se defrontar com os arquétipos do repertório do balé moderno, mas inteligentemente utilizam esse precioso material linguístico e estilístico como sedimento de seu próprio trabalho.
Assim, Malandain retoma A Morte do Cisne, que em 1904 revelava toda a força inovadora de Fokine, pronto a subverter as leis formais da academia para restituir à dança sua verdade expressiva. Malandain varia a estrutura solística original construindo uma partitura para três bailarinas. O tema é sempre o da morte, mas aqui o lirismo lânguido do início do século XX torna-se mais pesado, o corpo se eleva por poucos instantes e quase sempre tende à terra, mais selvagem do que elegíaco, mesmo se os gestos nervosos e atléticos das intérpretes se entremeiem a citações explícitas, braços alados, arabescos ‘cantantes’ que remetem ao ícone do ‘cisne’.
Também no L´Apres-midi d’un Faune, Eugenio Scigliano recorda, em algumas referências coreográficas, o Fauno de Nijinsky, mas principalmente traduz a implícita carga erótica do original em uma interpretação não metafórica, mesmo se delicadamente imersa em uma atmosfera onírica. Aqui, um jovem toma consciência da própria sexualidade através do encontro simbólico com uma figura mítica, o Fauno, cuja ambivalência humano-ferina consente ao autor explorar a fisicalidade masculina dando-lhe, ao mesmo tempo, uma dinâmica atlética e sensual, vigorosa, mas lânguida.
Ao final, Mohovich, em Os quatro temperamentos, inventa uma dança concertante para todo o conjunto, onde o aparecimento das pontas e algumas posições inconfundíveis homenageiam Balanchine, que com esta peça imprimiu uma inovação irreversível à linguagem do balé. O novo autor pensa na lição de Balanchine, na densa dialética com a inconstante partitura de Hindemith, chamada para delinear os quatro humores da filosofia medieval: melancólico, sanguíneo, fleumático e colérico. A dança se anima de tensões, contrastes, maciezas e langores, mas conserva limpidez de linhas e união, e sobretudo de atenção à beleza tranquilizante do movimento. O frescor e a delicadeza, típicas do estilo de Mohovich, colorem-se aqui e ali de inflexões mais ríspidas e agudas, mas tudo encontra por fim o perfeito equilíbrio de formas e sons, herança indelével da tradição."
Saiba mais sobre os três coreógrafos contemporâneos:
Thierry Malandain
Após uma carreira de bailarino na Ópera de Paris, Ballet du Rhin e Ballet Théâtre Français de Nancy terminada em 1986, Malandain dedica-se à coreografia vencendo concursos como o Prix Volinine em 1984, Prix du Concours International de Lyon em 1984 e 1985. Funda, ainda em 1986, a companhia Temps Présent, que dirige por 12 anos. Em 1998, é nomeado diretor do Centre Chorégraphique National – Ballet Biarritz. Malandain é autor de cerca de sessenta coreografias, algumas das quais entraram no repertório de outras companhias, entre as quais Ballet Florida, Singapore Dance Theatre, Royal Ballet of Flanders, Ballet Royal de Wallonie, Ballet du Rhin, Ballet National de Nancy, Opéra di Bordeaux, Ópera de Paris.
Eugenio Scigliano
Eugenio Scigliano debuta como bailarino em 1986 no Balletto di Toscana, tornando-se elemento de destaque. Em 1992-93, deixa temporariamente o BdT para uma importante experiência como solista no English National Ballet. Voltando ao BdT, lá permanece até 2001, ano em que entra como bailarino no Aterballetto. Concluída sua experiência de bailarino, desde 2004 dedica-se à coreografia e ao ensino como ‘free lance’, particularmente empenhado na Escola do BdT em Florença. Criou balés para várias companhias entre as quais o BdT, o Aterballetto, o Balletto dell’Esperia, o Junior Balletto di Toscana, Versilia Danza. Sua última criação é ‘Casanova’ para o Aterballetto.
Paolo Mohovich
Paolo Mohovich dançou em companhias como o Ballet de Victor Ullate em Madri, o Balletto di Toscana e o Ballet de Zaragoza. No Ballet de Zaragoza começa a se interessar pela coreografia em 1994 e vence dois “Prix Volinine di Coreografia” em Paris, em 1995 e 1997. Em 1999, funda, na Itália, o Balletto dell’Esperia, juntamente com seus colegas, quase todos bailarinos espanhóis, remanescentes de outras experiências em prestigiadas companhias europeias. Até hoje, criou mais de 40 coreografias tanto para o Balletto dell’Esperia, quanto para outras companhias como a Maximum Dance Company de Miami, o Balletto di Toscana, o Ballet de Zaragoza, o Centre Coreografic de la Comunitat Valenciana, a Miami Contemporary Dance Company e o Centro Dramatico de Aragón.
Serviço:
Trittico – Balletto Dell´Esperia
13 de abril, terça, às 20h30
Auditório Simón Bolívar
Retirada de ingressos:
dia 12, das 14h às 19h
dia 13, a partir das 14h
ENTRADA FRANCA