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Metafísica dos Planos e o caráter experimental de Mario Gruber
O gravurista e pintor Mario Gruber participou de palestra sobre a sua trajetória no dia 23 de maio, no Memorial. O bate-papo com o público fez parte da exposição Mario Gruber e a Metafísica dos Planos, que fica na Galeria Marta Traba até o dia 4 de junho. Com curadoria de Saulo di Tarso, que selecionou 70 gravuras de Gruber, a mostra conta com a participação de outros artistas, que dialogam com a obra do mestre.
O bate-papo começou com a leitura de um texto sobre Gruber e sua forma de trabalho; lido por Ulysses Bôscolo, um dos artistas convidados. Às vésperas de completar 80 anos, o santista, influência para toda uma geração de gravuristas, contou que, quando pôs-se a gravar em metal, a técnica ainda não era conhecida entre os colecionadores de arte de São Paulo, que desistiam da compra quando sabiam que o material era reproduzível.
Mario divagou sobre seu interesse pela gravura, iniciado na infância em Santos, quando, por acaso, viu um livro com gravuras do mestre holandês Rembrandt (1606-1669), produtor de cerca de 290 gravuras. Ele, que não tinha nenhum artista na família, resolveu também se tornar gravurista. Após algumas experiências, iniciou seu trabalho com metal e mudou-se para São Paulo, onde intensificou sua produção e começou a viver, com dificuldades, exclusivamente através dela.
Como seu público era principalmente acadêmico, Gruber entrou em contato com intelectuais como Antonio Candido e Roger Bastide. Este lhe arranjou uma bolsa de estudos na França, onde teve sua formação acadêmica e artística.
Para uma platéia de alunos de Belas Artes e artistas plásticos de todas as idades, Gruber falou das dificuldades em sobreviver com a profissão, principalmente no início da carreira. Mas disse que nunca pensou em desistir ou conseguir um outro emprego, que, para ele, seria um caminho sem volta. Disse que rejeita o título de artista, título de reconhecimento – e merecimento – que muitas vezes só se pode atribuir postumamente. Segundo ele, Rembrandt ficou obscuro durante 300 anos. “Quantos não foram ignorados?”, indagou.
Ainda sobre Rembrandt, Gruber contou que, quando morava na França, houve uma exposição do artista no Petit Palais. Aficionado, não dormiu à noite e às 5h da manhã já estava na fila do museu. Foi o primeiro a chegar e, ao ver uma obra excepcional de seu ídolo, deu um grito, que teve que ser disfarçado diante da impaciência do público presente. “Eu era o mais estranho entre os estranhos – porque os aficionados são figuras muito estranhas”, divertiu-se.
Gruber considera-se, ainda hoje, um entusiasta das artes plásticas e do trabalho como gravurista em particular. Respondeu às perguntas do público e usou muitas das obras expostas como exemplos do que falava. Foi uma verdadeira lição de artes plásticas e de vida.
Metafísica dos Planos e o caráter experimental de Mario Gruber