07/02/2025
07/02/2025
América Latina: vislumbre distante, palavra de prosa para tanta poesia. Humilde colcha cerzida em fios de ouro, com seus lados desiguais. Lavada a sangue, ainda perece em despropósito. Quarada em cumes de vento forte, reluz prata do rio que cega os olhos – outra esquina, de secura faz calor. Mas falta. E como falta! Tanta terra, tanta gente. Riqueza que quase não converte alegria. E ainda assim: tanta alegria! Hoy és mi dia! Me voy al Pueblo!
Mas há um lamento silencioso. A jovem mais formosa padece calada em vilipêndios. E nossos doutores? – esses não dizem nada. Do alto do sul da América brotava um diadema que coroava todo o reino – onde regeu Emilio Sojo e guitarreou de creollo, Antonio Lauro. Densas trevas cobriram o lume de seu passado. E nem se pode lamentar – o canto das mulheres comuns foi proibido. Em seu lugar, as longas filas Maduras de governo. Pobre jovem em dores. Pobres jovens que de lá migraram – sejam todos bem vindos a nuestra cuna esplendida. Cartola os saúda na alvorada de suas novas vidas! Aqui se abraça o inimigo como se fosse irmão – e vocês são irmãos – sean bien-venidos.
E o tal de Drummond deu um dia de sentir a náusea – a flor já estava lá. E era mesmo uma flor. É dela que latinoamerianos somos feitos – beleza insuspeita, doçura dos lagos altiplanos. Mares povos de indivíduos lindos e represados, que aos olhos dos outros parecemos todos iguais – daí brota Ataualpa. Nunca o ví, mas seu canto me corroi pois sinto saudades de Tucumã y su Luna. Dos fios do meu ralo cabelo, passado por meus ombros latinos, tudo me dói. De Piazzola a Los Panchos, passando por Manoel Ponce, tudo é latinoamérica. Nem gordas e dissimulados Boteros – o mexicanos dos nos de 1940, me convencem que estoy perdiendo el tempo, piensando em latinoamérica.
Penso já em me despedir destas letras y entreisso, a culpa de tantas omissões que cometi me incomoda. E é assim Latinoamérica – corroída de beleza e omissão, guarda no bolso seu futuro mais carinhoso e ilumina o mundo com nosso ouro! (Melhor sorte tem quem dá do que quem recebe). E viva o sonho latinoamericao, escrito na água, por seus poetas, e tecido em letras por cantores – imagem perdida de nossos velhos pintores… Salve Pedro Américo – Salve Paraíba, Salve velho rei barbudo – saudades de você! Viva Asturias, prêmio Nobel da pequena Guatemala.
Antes, colonizadores e colonizados, bandeirantes selvagens, indígenas astutos e africanos obrigados. Agora, todos latino-americanos! Dentre tantas, uma memória me alenta: nosso Memorial – e ainda luzerá! Seja nosso passado dolorido, com suas cores e sua arte, nosso orgulho e inspiração – não decolone!