O legado da vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foi discutido no Memorial no “Colóquio 1808 – D. João VI e o segundo descobrimento do Brasil”, realizado no Anexo dos Congressistas no dia 26 de novembro de 2007, com a presença de intelectuais do Brasil e de Portugal, além do público inscrito.
O colóquio se dá nesta data porque neste mês de novembro completa 200 anos que a família real saiu de Portugal em direção primeiro a Salvador e logo depois ao Rio de Janeiro. A coordenação do colóquio foi dos historiadores Carlos Guilherme Mota, brasileiro, e António Pedro Vicente, português.
O colóquio teve como objetivo analisar e discutir o significado da transmigração do governo português e da Corte para o Brasil em 1807/1808, em suas dimensões internacional, jurídico-política, estratégico-militar, sócio-política, artística, científica e cultural.
As diferentes visões apresentadas pelos palestrantes (ver abaixo o quadro completo) alimentou uma discussão entusiasmada – e por vezes inflamada – que foi além da historiografia convencional. “Este colóquio não é para comemorar a vinda da corte portuguesa, porque uma fuga não se celebra”, disse o Prof. Dr. Carlos Guilherme Mota. Para ele, a história oficial suaviza as palavras quando se refere a este período histórico. “Eu diria que é uma fuga, sim, a crônica de uma derrota anunciada”, diz, referindo-se às tropas napoleônicas que ocupavam a Península Ibérica à época.
Para o jurista Dalmo Dallari, a vinda da Corte foi o que possibilitou a unidade territorial brasileira. “Desde que chegou aqui, em 1808, D. João VI criou órgãos centralizadores, o que garantiu a integração jurídico-administrativa do Brasil”, disse. Segundo ele, 1815, ano em que o Brasil é elevado à condição de Reino Unido de Portugal e Algarves, é o ano da independência do Brasil – e não 1822. “Do ponto de vista jurídico, 1815 é mais importante que 1822”, afirmou.
O professor Francisco Alambert relativizou o papel da missão francesa, trazida por D. João VI logo após a queda de Napoleão, na construção de uma cultura nacional. “Foi uma iniciativa fora do lugar: representantes da alta cultura de um país derrotado vão para a corte de um dos países vencedores implantar idéias e conceitos artísticos Neo-clássicos quando este movimento já perdia sua atualidade na Europa”. Em seu lugar, era o Romantismo que começava a dominar as mentes e os corações dos europeus.
Participantes:
Eugénio dos Santos – Professor Titular da Universidade do Porto
Nestor Goulart Reis – Ex-Diretor e Professor Catedrático da FAU – USP
Karen M. Lisboa – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Maria Elena Merege Vieira – arquiteta, FAU – Mackenzie
Francisco Alambert – Departamento de História (FFLCH – USP)
Wilma Peres Costa – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Jaime Rodrigues – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
João Paulo Pimenta – Departamento de História (FFLCH – USP)
José Geraldo Simões Jr. – Coord. Pós-Graduação da FAU – Mackenzie
Ana Vicente – Pesquisadora (Portugal)
Ricardo Medrano – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Mackenzie)
Laurentino Gomes – Jornalista e Historiador
Dalmo de Abreu Dallari – Jurista, Professor Titular e ex-Diretor da
Faculdade de Direito da USP
Coordenação:
Carlos Guilherme Mota – Professor Titular da USP e da FAU –
Mackenzie. Ex-Diretor (fundador) do Instituto de Estudos Avançados da USP e Pesquisador Sênior da Escola de Direito da FGV
António Pedro Vicente – Professor Titular da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia Portuguesa da História
Programa:
Painel da manhã
Coordenação: Prof. Dr. Adolpho José Melfi, ex-Reitor da USP e Diretor do Centro Brasileiro de Estudos América Latina
Prof. Dr. António Pedro Vicente: Aspectos geopolíticos da transmigração da família real portuguesa e da Corte ao Brasil
Prof. Dr. Dalmo de Abreu Dallari: A questão jurídico-política
Prof. Dr. João Paulo Pimenta: O Brasil e a América Espanhola
Profª. Drª. Wilma Peres Costa: 1808 – centro político e projeção territorial
Prof. Dr. Jaime Rodrigues: A questão do tráfico de africanos
Painel da tarde
Coordenação: Prof. Dr. Carlos Guilherme Mota
Prof. Dr. Nestor Goulart Reis: Rio, capital do Império português
Prof. Dr. José Geraldo Simões Jr.: A Imperial Academia de Belas Artes e a Missão Francesa
Prof. Dr. Ricardo Medrano: 1808, na perspectiva de Buenos Aires
Prof. Dr. Eugénio dos Santos: O jovem Pedro, sucessor de D. João VI
Prof. Dr. Francisco Alambert: Cultura: de luso-brasileira a brasileira?
Profª Drª Karen M. Lisboa: Olhares estrangeiros: Brasil, 1808
Drª Ana Vicente: Olhares de portuguesas sobre a mulher brasileira
Profª Drª Maria Elena M. Vieira: Paisagismo e Ciência: o Jardim Botânico
Laurentino Gomes: D. João VI: uma outra perspectiva
Apoio Institucional:
USP – UNIFESP – Mackenzie – Direito FGV
Apoio:
Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo
Casa de Portugal
Banco Banif
Realização:
Fundação Memorial da América Latina
Secretaria de Relações Institucionais
Governo do Estado de São Paulo