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São Paulo, 1º de outubro de 2009.
Foi aberto nessa quarta, 30, o II Congresso de Cultura Ibero-Americana, com a participação de ministros da cultura de vários países, entre eles os do Brasil, Espanha e Argentina, embaixadores ibero-americanos, secretários de cultura e gestores da área cultural, como o presidente da Fundação Memorial da América Latina, Fernando Leça. O evento, que se estende até 3 de outubro, ocorre no Sesc Vila Mariana, São Paulo, e tem como tema aglutinador o lema “Cultura e Transformação Social”.
O Congresso de Cultura Ibero-Americana foi proposto pela Espanha, por ocasião da X Conferência Ibero-Americana de Ministros de Cultura, realizada em 2007, na cidade de Valparaíso, no Chile. A primeira edição do evento ocorreu em 2008, no México, e teve como tema central O Cinema Ibero-Americano e sua relação com o Audiovisual. A iniciativa objetiva a elaboração de estratégias e a promoção de ações conjuntas destinadas ao desenvolvimento de políticas culturais – dentro e fora da Ibero-América -, em especial as relativas à implementação plena da Convenção da Diversidade Cultural da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Conforme Enrique Iglezias (na foto acima, ao lado de Fernando Leça), secretário-geral da Segib (Secretaria Ibero-americana), declarou na solenidade de abertura, “tivemos a idéia de reunir os ministros de cultura ibero-americanos para um período de reflexão em busca do incremento da coesão social, que é uma das funções das atividades artísticas”. Segundo Iglezias, “o mundo precisa cada vez mais da criatividade dos gestores culturais”. Ele citou a rede Sesc (“precisa ser copiada por outros países”), os pontos de cultura federais e o projeto que cria o “vale cultura”, que está para ser votada pelo congresso brasileiro, como bons exemplos.
A Ministra da Cultura de Espanha, a cineasta González-Sinde (foto ao lado), lembrou que somos uma comunidade de 500 milhões de pessoas que compartilha a mesma cultura. "É por meio dela que nos inserimos no mundo globalizado", disse. Na atualidade, a atividade cultural é um dos principais motores econômicos de uma nação. “Devemos transformar nossas cidades em capitais da criatividade”, destacou. Para ela, “a cultura deve estar no coração do nosso modelo produtivo”, que, com certeza, "mais do que o tradicional, facilita a luta contra a desigualdade e exclusão social”, complementou.
Para o ministro Edson Santos de Souza (foto ao lado), titular da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a região com a qual a cúpula ibero-americana quer dialogar – que inclui, além da América Latina, o caribe e os países de língua portuguesa da África e Ásia – é a no mundo que mais coloca a questão da identidade cultural. Em sua fala, Santos de Souza deixou claro que “há uma tentativa de incluir as minorias ou maiorias, como em alguns casos, que tradicionalmente foram excluídas”. Segundo ele, esse Congresso de Cultura Ibero-Americana é mais um mecanismo de acompanhamento dessas medidas de inclusão cultural.
O ministro da cultura Juca Ferreira deu um tom político atual à sua fala. “Quero lembrar a crise política na América Central que neste momento traz fantasmas do passado”, disse. E, citando Karl Marx, analisa que “a história se repete como farsa”, pois “Honduras comunga conosco da mesma cultura que não tolera mais quarteladas.” Ferreira também fez questão de afirmar que não entende o bloqueio econômico à Cuba, uma afronta aos laços de solidariedade latino-americanos.
Por fim, o presidente da Funarte, Sérgio Mamberti, com emoção contida, homenageou o diretor teatral, dramaturgo e ensaista Augusto Boal (falecido em maio deste ano). Pode-se dizer que Boal (foto), por meio do desenvolvimento teórico e prático do que ficou conhecido como “teatro do oprimido”, demonstrou toda a potencialidade revolucionária da “arte-vida”. Os conceitos e técnicas criados por ele hoje são estudados e adotados no mundo todo, não só na área teatral, mas também na Educação, na Saúde Mental e até no Sistema Prisional. A vida e a obra de Augusto Boal é, portanto, exemplo e norte para o II Congresso de Cultura Latino-Americana.
Dentre as atividades programadas para os três dias de evento, estão a Conferência de Abertura Cultura e Transformação Social; a Mesa-Redonda Perspectivas da Cultura na Ibero-América; e os seguintes painéis: Cultura, Educação e Desenvolvimento Sustentável; Arte e Transformação Social; Migrações, Fronteiras e Novos Territórios Culturais; Pontos de Cultura, Casas de Cultura, Missões Culturais e outras experiências de protagonismo sociocultural; Povos, Diálogos, Apropriações e Mestiçagem Intercultural; Mapeamento, Indicadores e Observatórios de Políticas Socioculturais; Carta Cultural Ibero-Americana e Ações de Identidade e Diversidade Cultural; Propriedade Intelectual, Direitos do Autor e Acesso à Cultura; O Audiovisual e a Identidade; Mecenato Privado; Economia da Cultura e Indústrias Criativas; Cultura e Transformação Urbana e Social; Cooperação Cultural Ibero-Americana como fator de coesão social. No encerramento, será promovida Reunião Extraordinária de Ministros da Cultura dos Países Ibero-Americanos.
A noite foi encerrada com concerto da Orquestra Heliópolis e de show do cantor João Bosco. Durante as falas, eram projetadas imagens de obras do muralista mexicano Diego Rivera, da pintora brasileira Tarsila do Amaral e do colombiano Fernando Botero. Nas caixas de som, tivemos um passeio pela obra erudita de Tom Jobim. A direção cênica da cerimônia de abertura do Congresso foi de Sérgio Ferrara.
O evento conta ainda com uma programação artística que envolve artes visuais, artes cênicas e audiovisual. As atividades se dão principalmente no Sesc Vila Mariana, mas também no Sesc Pompéia:
Praça de Eventos – Sesc Vila Mariana
Dia 1º
Apresentações artísticas gratuitas, às 13h
Cia. Experimental Dança Vida.
A companhia é uma das ações profissionalizantes do Programa Dança Vida, dirigido pela psicóloga e bailarina Paula Vital Reis, cujo objetivo é propiciar a profissionalização e a inclusão sociocultural por meio da dança, da arte e da cultura. Neste espetáculo, o grupo apresenta a coreografia "Corpos de Luz", inspirada no livro "A Terra dos Mil Povos", de Kaká Werá Jecupé, com trilha sonora assinada por Naná Vasconcelos e cenário criado por Marcelo Rosenbaum.
Dia 2
Bola de Meia
Espetáculo musical inspirado na vida do santeiro e tropeiro Dito Pituba, escultor de santos e figuras populares em madeira. Músicos atores apresentam ritmos que remetem às manifestações culturais do interior paulista, como Congada, Folia de Reis, Catira, Jongo e Moçambique, com uma pitada da música contemporânea brasileira. Direção geral e vocal de Jacqueline Baumgratz.
A partir de 1º de outubro
Transformar com Arte, de Bené Fonteles
A exposição apresenta a cultura brasileira, por meio de fotografias e objetos, liberta de conceitos que distinguem cultura popular de cultura erudita, embora permanentemente vinculada à consolidação da identidade nacional brasileira.
Texto de abertura – Bené Fonteles
Sesc Pompéia
Lançamento da Rede Latino-Americana de Teatro Comunitário e apresentação do espetáculo El Quijote
A Rede Latino-Americana de Teatro Comunitário é uma organização criada por coletivos teatrais de diversos países da América Latina que compartilham experiências de transformação social e humana por meio do teatro em comunidade. O espetáculo El Quijote é uma adaptação do clássico de Miguel de Cervantes, escrita por Santiago Garcia. Produzido pelo Grupo Pombas Urbanas em conjunto com artistas de 13 países da Ibero-América, constitui um marco pelo desafio em si de encenar Cervantes sob os princípios do teatro comunitário.
SESC Pompéia
Rua Clélia, 93 – Pompéia – São Paulo
Telefone: (11) 3871-7700
Dia 2 de outubro, às 20h30
Confira a programação completa associada ao II Congresso Ibero-Americano de Cultura no site congressoiberoamericano.com.br
Texto e fotos: Eduardo Rascov