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O último espetáculo do ano promovido pela Fundação Memorial da América Latina, no dia 17 de dezembro, também foi um dos mais inusitados e interessantes. Denominado "Rodada Dupla”, subiram ao palco os grupos Barbatuques e Raies de Dança Flamenca. O contemporâneo e o tradicional ali lado a lado. Cada um apresentou seu show separadamente. Mas no final compartilharam a ribalta em um pulsante “duo”, diálogo surpreendente de duas formas diferentes mas complementares de usar o corpo para marcar o ritmo e fazer a percussão. Enquanto os Barbatuques usavam as mãos e o corpo para criar sons inusitadores, harmonizando-os em músicas "instrumentais" ou cantadas, as dançarinas flamencas utilisavam os pés para ditar a coreografia ritmica. Vejam as fotos.
Este show foi uma despedida das séries fixas do Memorial, Conexão Latina e Adoniran, em 2009. Antes dele começar, Fernando Calvozo, Diretor de Atividades Culturais, subiu ao palco e fez uma espécie de balanço. Após agradecer ao público que prestigiou o Memorial neste período em que ele comemorou seus primeiros 20 anos de vida, Calvozo explicou que para "essa noite pensamos em um momento brasileiro e em um momento latino, para que a fusão de nossos dois projetos – o Adoniran e o Conexão – pudessem expressar o nosso muito obrigado a todos os artistas que aqui passaram, a todos os amigos que aqui vieram nos prestigiar, e a todos nós que ficamos pelos bastidores, para que o show aconteça".
Em seguida, Calvozo ressaltou que "a crise mundial não nos permitiu uma programação conforme havíamos imaginado; no entanto, depois de um balanço, observamos que por aqui passaram neste ano nomes como Elba Ramalho, Ed Motta, Tetê e Alzira Espíndola, Margareth Menezes, Fabiana Cozza, Almir Satter, Bocatto, Paulo Vanzolini e Ana Bernado, Ângela Rô Rô, Ataulfo Alves Jr, Guinga, Vânia Abreu, Juan Cancio Barreto e Pena Branca, Jorge Vercillo, Grupo América Contemporânea, Passoca, Beto Guedes, Hermeto Paschoal & Orquestra Tom Jobim, Jane Duboc, Diego Figueiredo, Toninho Ferragutti, Teatro Mágico, Marina de La Riva, Trovadores Urbanos, Trio Boa Vista & André Abujamra, Orquestra Paulistana de Viola Caipira, Raíces de América, Miriam Mirah, Irmãs Galvão, Vanessa Jackson, Los Morales (México)… E os espetáculos "Tangos e Boleros", "A noite dos palhaços mudos", premiada peça da Cia. La Mínima, "O homem Inesperado", com Paulo Goulart e Nicete Bruno, e os circos Roda Brasil e Zanni. Nesse resumo percebi que foi uma agenda respeitável, não tão longe do ideal de uma agenda de aniversariante."
Em 2010 as séries fixas do Memorial continuam: Conexão Latina, que "conecta" músicos brasileiros e latino-americanos; Projeto Adoniran, que apresenta grandes nomes da MPB; e a Série Villa Lobos, que promove novos talentos instrumentais e busca a formação de platéia para a música erudita. Além dessas, o Memorial lança uma nova série musical: "América Jazz Band e Convidados". A "América Jazz Band" é o nome da Jazz Big Band para esse projeto que – inspirado no maestro, compositor e arranjador Luiz Arruda Paes – almeja conquistar o coração dos amantes da boa música e ocupar o lugar deixado vago pela Orquestra Jazz Sinfônica.
A América Jazz Band sempre convidará um importante instrumentista e um cantor. Convidados internacionais do mundo do jazz também estão previstos. O lançamento do projeto se dará em março, com um grande artista brasileiro. A idéia é convidar Ivan Lins, que no caso faria vocal e piano. Depois, viria Cesar Camargo Mariano e Léo Jaime, Guinga e as Cantoras do Rádio, Egberto Gismonti e Fabiana Cozza… e assim por diante, com algumas duplas inusitadas.
4.Pode-se dizer que a América Jazz Band – com sede em Santos, na Associação dos Artistas do Litoral Paulista – faz parte do legado deixado pelo maestro, arranjador e compositor Luiz Arruda Paes. Pois foi a partir de encontros com músicos de todo o país, organizados informalmente em sua casa na Baixada Santista, que surgiu a idéia de se formar uma orquestra que executasse os arranjos sofisticados do maestro.
Após a morte de Arruda Paes, em 1999, seus discípulos perceberam que guardavam um tesouro: os inigualáveis arranjos cultivados por Arruda Paes durante uma vida dedicada à música. Não deu outra, resgataram as partituras e puseram pé na estrada, primeiro como Martim Afonso Big Band , depois como Jazz Big Band e agora também como América Jazz Band. São 22 músicos entre sax, trompetes, trombones, baixo, bateria, piano, guitarra, tímpanos e vocalista, com a regência do maestro Mário Tirolli.
Por Eduardo Rascov
Fotos de Fábio Pagan