/governosp
São Paulo, 26 de maio de 2011
A mostra “Arte Lusófona Contemporânea” foi aberta nessa quinta, 26, com a performance do artista de São Tomé e Príncipe, Eduardo Malé. Ele revestiu com tiras de fibra de caule de bananeira a escultura que havia feito naquela tarde com arame. O material orgânico veio da sua terra natal. O homem de metal construído por Malé está com os braços abertos e presos, como que por forças das quais ele não consegue se libertar (saiba mais).
A vitalidade da arte africana, aliás, salta aos olhos na Galeria Marta Traba. Ela dialoga muito bem com a arte contemporânea brasileira. Por exemplo, assim como Eduardo Malé parte do passado de seu continente – a escravidão – para criticar a situação atual, o artista baiano, Ayrson Heráclito, usa o óleo de dendê como alegoria desse mesmo passado (saiba mais).
A exposição parte de um ponto comum – o idioma português – para reunir em uma mesma exposição artistas dos países lusófonos. A ideia é que eles iniciem ou aprofundem um diálogo com a expressão artística latino-americana. Participam da mostra artistas já consagrados e jovens emergentes, que produzem uma arte contemporânea sintonizada ao mesmo tempo no que está acontecendo em sua região de origem e no mundo. Eles são de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
Para se compreender a América Latina, além de se aprofundar na herança hispânica, é fundamental conhecer a língua e a cultura de origem portuguesa. A exposição “Arte Lusófona Contemporânea” é uma expressão mundial dessa cultura e propicia a oportunidade de intercâmbio e propagação de um fazer artístico geograficamente tão disperso, mas espiritualmente tão próximo.
Vastas áreas do planeta foram conquistadas e colonizadas por portugueses e espanhóis. Esses levaram às colônias suas línguas, escravos africanos e a religião católica, elementos que forjaram nos povos colonizados uma identidade aparentemente comum. Como se sabe, línguas latinas, como o Português e o Espanhol, são aquelas derivadas do Latim Vulgar, o idioma falado pelo povão no Império Romano. O Francês, o Italiano, o Romeno e o Catalão também são línguas neolatinas.
Quem somos? O que há entre nós? O que nos une? O que nos separa? Certamente essas são questões que perpassam a reflexão e a obra de artistas de países como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Todos são povos que conquistaram a independência política a menos de 50 anos e desde então vivem uma fase de procura e consolidação da identidade. Em todos eles, a língua portuguesa é apenas uma das possibilidades.
No entanto, cada povo de língua portuguesa carrega sua história e é único. Com a ascensão econômica e geopolítica do Brasil nos últimos anos novas questões no campo da identidade cultural são colocadas. A padronização ortográfica promovida pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa, que aos poucos vai sendo aceita pelos oito países que têm o português como língua oficial, coloca outras questões.
A fim de fomentar novos subsídios para se pensar plasticamente os diversos temas da lusofonia, a Biblioteca do Memorial organizou ao mesmo tempo a exposição “Encontro da Imagem com a Palavra”, para a qual foi pedido que artistas criassem em papel obras a partir de autores de ficção dos oito países lusófonos.
Artistas participantes da Mostra:
Délio Jasse, Ihosvanny, Kiluanji Kia Henda, Nástio Mosquito, Yonamine – Angola
Ana Elisa Egreja, Anderson AC, Ayrson Heráclito, Denise Agassi, Estela Sokol, Evandro Carlos Jardim, Gaio de Matos – Brasil
Alberto Tavares – Cabo Verde
Flaviano Mindela, Nù Barreto – Guiné-Bissau
Luis Basto e Berry Bicle, Hilário Pompílio – Moçambique
André Cepeda, Joana Bastos, Rita Dellile, Teolinda Semedo – Portugal
Eduardo Malé – São Tomé e Príncipe
Maria Madeira, Chris Perkinson (Austrália) e Arte Moris: Alfeo Sanchez Pereira, Etson Arintes, Zito Soraes da Silva – Timor Leste
Veja também: Artista Baiano traz Azeite de Dendê para mostra “Arte Lusófona Contemporânea” e um pouco também, sobre o artista Eduardo Malé.
Serviço:
“Arte Lusófona Contemporânea”
Abertura 26 de maio
Exposição de 27 de maio a 10 de julho de 2011
Terça a domingo, das 9 às 18h.
Local: Galeria Marta Traba
ENTRADA FRANCA