Segundo dia da Oficina de Elaboração de Histórias em Quadrinhos com José Alberto Lovetro (JAL) teve dinâmica com escolas e Luiz Carlos Fernandes como convidado.
O segundo dia do projeto de oficinas de quadrinhos com o JAL teve convidados especiais. Estudantes, de 12 a 15 anos, vindos da Brasilândia e da Nova Cachoeirinha tiveram a oportunidade de aprender muito sobre desenho e quadrinhos com dois renomados nomes do humor gráfico brasileiro.
Luiz Carlos Fernandes é um ilustrador, quadrinista, chargista, cartunista e escultor renomado. Entre os diversos prêmios que recebeu, foi considerado o melhor cartunista do Brasil em 2009, no prêmio HQMIX. Em entrevista ao Memorial da América Latina, ele falou sobre como começou sua relação com a arte. “Eu me descobri como artista com 8 anos de idade, quando mostrei para minha professora um desenho livre de uma pêra. Achei a pêra mais linda do mundo, mas a professora começou a criticar o desenho. Acho que ali nasceu o artista. Eu sou o primeiro crítico da minha arte. Exijo muito de mim. Não importa o que os outros vão pensar do meu desenho”, diz Fernandes.
O cartunista também falou um pouco sobre como começar no mundo artístico. “Nunca desistir, não ter medo de desenhar e não ter medo de arriscar. Acho que é o Chico Caruso quem falava que toda criança desenha, mas que tem umas que não param, o que é meu caso”, explicou o artista. Confira a entrevista completa:
Fernandes, sua paixão pela arte começou ainda na adolescência, quando teve contato com livros, gibis, revistas e jornais, na banca em que trabalhava. Qual é a sua dica para aqueles que também amam a arte, têm interesse em seguir nessa área como carreira profissional, mas não sabem por onde começar?
Nunca desistir, não ter medo de desenhar e não ter medo de arriscar. Acho que é o Chico Caruso quem falava que toda criança desenha, mas que tem umas que não param, o que é meu caso. Eu era muito tímido, um garoto pobre do interior que tinha vergonha de tudo, mas me descobri artista com 8 anos de idade, quando mostrei para minha professora um desenho livre de uma pêra. Eu achei a pêra mais linda do mundo. A professora mostrou o desenho no final da aula, achei que ela fosse elogiar, fiquei todo feliz, mas ela começou a criticar o desenho, disse que a pêra não tinha um chão. Acho que ali nasceu o artista.
Às vezes eu penso: “Será que eu vivi isso mesmo?” Isso teve um impacto muito grande em mim. Pensei que ela não tinha entendido, mas, segundo ela, a fruta não podia estar caindo, tinha que ter um chão, e não tinha sombra. Até hoje, quando eu faço um desenho, eu lembro da [fala sobre a] sombra. Poderia ter parado de desenhar, porque a criança desenha sem medo, mas passei a ser o maior crítico da minha arte, exijo muito de mim. Não importa o que os outros vão pensar do meu desenho.
Eu adoro desenho de criança, porque é livre, é solto, como Picasso e Miró, então a dica é essa: não ter medo de arriscar, porque a criança não para de desenhar. A grande dica é acreditar em si mesmo e, se você estiver feliz com o que está fazendo, continue assim.
Há pessoas que se inspiram em você ou em outros artistas que também são renomados. Você acredita que essa inspiração é benéfica?
Quando comecei, o “Google da época” eram os jornais e gibis da banca em que eu trabalhava. Nos anos 1970, estávamos no Regime Militar, e eu passava o dia inteiro na banca lendo coisas como Ken Parker, que tenho até hoje. Gostar de alguém não significa que você deve ficar na sombra e desenhar igual a pessoa. Uma vez, um professor de arte me viu na banca desenhando e falou assim: “Nossa! Você é a reencarnação do J. Carlos”. Eu falei: “quem é J. Carlos?”. Só depois eu fui descobrir quem era.
Gosto de fazer caricaturas como se a pessoa estivesse pensativa, com o queixo apoiado na mão. Reproduzem isso no mundo inteiro: em Portugal, na Índia, na China… As pessoas copiam esse estilo de mão olhando meu desenho. Acho isso um problema. Digamos que você vai fazer o Tiririca, por que você faria ele como O Pensador? Fica sem personalidade. Assim você fica na sombra do artista, você tem que ir além. O desenho é toda uma construção. É o conjunto geral da arte.
Quais exposições marcaram a sua vida?
Eu acho que a exposição do Memorial, que ficou um ano em cartaz, foi a melhor exposição que eu fiz. Tem três que são especiais: a minha primeira exposição individual, que foi no Piauí, a da França, e a do Memorial. São essas três exposições que eu nunca vou esquecer, pois foram muito importantes para mim.
Acabei de fazer uma exposição na França, em Saint-Just. Fiquei 15 dias no encontro de cartunistas do mundo todo. Fiz cerca de 80 trabalhos, foi um sucesso. Acabei ganhando o prêmio de revelação aos 65 anos.
O que me chamou muita atenção lá na França foi a inversão de papéis em relação ao que ocorreu na Semana de Arte Moderna de 1922. Lá, os desenhos são muito estéticos e bonitos. Eles são educados assim, com um desenho muito certinho. Apesar de ser exagerado, é elegante, traços como o do Batistão são elegantes. Já eu chuto o pau da barraca, exagero mesmo. Lá na França foi invertido. Fui eu, um brasileiro, quem mostrou uma coisa diferente. Já na Semana de 22, foi o europeu mostrando.