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O bandoneonista argentino Martin Mirol se “conecta” à gaita-ponto gaúcha/universal de Renato Borghetti, na Fundação Memorial da América Latina, neste mês. O show faz parte da série Conexão Latina, que visa estimular o diálogo musical entre diferentes vertentes da música latino-americana. Para quem gosta de ritmos diversificados e vibrantes, como milonga, tango, xotis, polca, rancheira, samba, ciranda, vanerão e chamamé, é imperdível. Radicado em São Paulo, Martin é o propulsor do movimento “El Arrastre” de tango instrumental “brasileño”. Já as composições de Borghettinho mesclam ritmos do sul, nordestinos e outros, sempre com uma esperteza jazzística. O espetáculo acontece nesta sexta, 28 de outubro, às 21h, no Auditório Simón Bolívar, com ingressos subsidiados.
O argentino Martín Mirol , acompanhado por Juan Pablo Ferrero (violonista), Rafael Zacchi (clarineta) e Paulo Brucoli (contrabaixo e piano), abre a noite com o tango “La ultima curda”, de Aníbal Troilo. Neste número, Martin faz um solo de bandoneon. Na sequência, apresenta “Alfonsina y el mar”, de Ariel Ramirez, e “Romance de Barrio”, de Aníbal Troilio. Depois, apresenta “Jasmines San Juaninhos”, de Agostín Cornejo, e “Nocturno a mi Barrio”, de Aníbal Troilo, entre outras. Junto com Renato Borghetti, interpretará a milonga “Nocturna”, de J.Plaza, e “Libertango”, tango de Astor Piazolla.
Borghetti prossegue o show e mostra porque conquistou o mundo com seu estilo instrumental, que costuma entrar nos arquivos de etnomusic, world music e jazz fusion, mesmo tendo na essência ritmos como vanerão, chote, milonga. Para o Conexão Latina, selecionou um repertório de sua autoria como “Mal dormido”, “Gritedo”, “Telmo de Lima Freitas”, “Armando”, “Emily”, “Ninando”, “Pedro no Sapato” e “Esbarrando”.
Martin Mirol:Raízes Modernizantes
Martin Mirol nasceu em 1975, em Buenos Aires. Menino ainda (8 anos), começou estudar música (bombo criollo e violão) na Associação Folclórica “Martín Fierro”. Aos 15 anos, já no Brasil, continuou seus estudos de violão no Centro Livre de Aprendizagem Musical (CLAM). Ao mesmo tempo, iniciou-se no bandoneón com César Cantero. Era uma forma de não perder a ligação com suas raízes. Estudou com Rodolfo Daluisio e Joaquim Amenábar e integrou diferentes grupos de tango.
Decidido a completar sua formação clássica, Mirol cursou Composição e Regência na Faculdade de Artes Alcântara Machado (FAAM). Foi nessa instituição que formou a orquestra típica de tango De Puro Guapos. Com ela, Mirol participou de concertos com a Orquestra Jovem Tom Jobim e a Orquestra Experimental de Repertório, além de participação em discos de vários autores, desde a Oficina de Cordas de Campinas até o último CD de Caubi Peixoto. No Memorial, executa alguns clássicos do gênero, como “Romance de Barrio” e “Nocturno a mi Barrio”, de Aníbal Troilo, “Alfonsina y el Mar”, de Ariel Ramirez e Felix Luna, e “Jasmines San Juaninos”, de Agostin Cornejo. Martín Mirol toca acompanhado de Juan Pablo, na guitarra, e, como convidado, o clarinetista Rafael Zacchi.
Borghetti: Do Rio Grande para o mundo
Renato Borghetti sempre rompeu fronteiras para levar sua irreverente música para o cenário mundial. E o Conexão Latina vem ao encontro dos seus objetivos, pois tem como foco a troca de informações e experiências, fortalecendo a integração cultural entre os países latino-mericanos, mostrando a cultura musical latino-americana popular, instrumental, erudita e, até, os movimentos de dança. “Muito antes de se falar em Mercosul, O Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai já praticavam espontaneamente este intercâmbio por meio da arte, costumes e tradições”, explica Borghetti.
Poucos sabem que Borghetti é hoje um dos artistas brasileiros de mais sólida carreira internacional. O inicio desta trajetória promissora foi em 1990, quando estreou seus shows no S.O.B.´s, em Nova York. Aí não parou mais e viajou o mundo com sua arte, passando por Viena, Innsbruck, Linz, Paris, Toulon, Berlin, Munique, Bremen, Budapeste, Lisboa, Praga, Florença, Padova, Lubliana, entre outras cidades. Na Áustria, por exemplo, onde se apresenta regularmente desde 2000, Renato se sente em casa, pois não há cidade em que não tenha tocado. “Lá tenho até um fã clube, as pessoas vão a tudo que é show, saem de Viena para assistir em cidades do interior e vice-versa, sempre lotando os lugares”, conta. No verão europeu, as apresentações são na maioria ao ar livre, para milhares de pessoas; mas também teatros, clubes de jazz, casas noturnas e centros culturais. “A sonoridade do acordeon é familiar para o público europeu, e como partimos de nossas raízes para uma música mais elaborada, uma coisa mais jazzística, a aceitação é total. São normalmente shows longos, não saímos sem fazer três a quatro bis, temos que voltar para o palco sem os instrumentos, se não nos pedem para tocar mais”, explica com simplicidade o nosso Borghettinho.
Renato e seu grupo participaram de diversos festivais. Entre eles o “Festival de Verão de Bolonha”, “Festival do Acordeon de San Antonio”, no Texas, “Festival da Croácia”, “Festival da Republica Tcheca”, “Festival da Áustria” e “Festival da Alemanha”. Em 2008, lançou na Europa o disco “Fandango” com turnê mundial, que comemorou 10 anos de shows no continente. O músico já tocou ao lado de estrelas do cenário internacional, como o italiano Ricardo Tesi, o irlandês Martin O´Connor, o português Artur Fernandes e o espanhol Kepa Junqueira, entre outros.
Renato Borghetti também começou na música cedo (aos 10 anos) e igualmente ligado a uma associação tradicional, o Centro de Tradições Gaúchas, comandado por seu pai. O orgulho desse pai não deve ter tamanho, pois bastou ele dar uma gaita-ponto ao filho, para ele ganhar o mundo. A gaita-ponto é similar ao acordeom, mas tem botão no lugar de teclas. É um instrumento tradicional de difícil execução e são raros os que o fazem bem. Borghettinho chamou seu disco de lançamento justamente “Gaita-ponto”, como que para apresentar o instrumento folclórico da sua terra, isso em 1984. Ele vendeu mais de 100 mil exemplares. Antes dele, nenhum instrumental tinha ganhado o disco de ouro.
Renato mescla música folclórica e modernidade em suas composições, tendo um estilo inconfundível. Borghetti tem revisitado, adaptado e modernizado diversas e importantes “standarts” no folclore do RS. Com sua música, Borghetti obteve desde o início da sua carreira, um êxito popular surpreendente para um músico que permanece fiel as suas raízes folclóricas. Não é a toa que demonstra não se intimidar com influências de outras formas e estilos brasileiros e do mundo em seu trabalho, como o pop, samba, jazz, tango… os quais adapta e agrega ao seu jeito único de tocar acordeom.
Serviço:
Série Conexão Latina
Martin Mirol (Argentina) & Renato Borghetti (Brasil)
Auditório Simon Bolívar.
Dia 28 de Outubro, sexta-feira, 21h
Ingressos: R$ 15,00 e meia entrada.
Bilheteria: dias 27, das 14h às 19h, e 28, a partir das 14h.