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A jornada cultural gratuita do III Festival Ibero – Americano de Teatro de São Paulo terminou no 14 de março de 2010, com intensa movimentação nos palcos e nas duas platéias do auditório Simón Bolívar e sob a lona do Circo-Teatro Tubinho. Segundo um balanço preliminar do coordenador geral do Festival, Fernando Calvozo, “pelo menos nove mil pessoas assistiram os vários espetáculos apresentados no Festibero desde o início”. Isso sem contar o público dos debates, da oficina e dos lançamentos de livros .
Foi um Festival para quem tem “teatro na veia”. É Calvozo (na foto acima, encerrando o Festibero, ao lado dos atores portugueses de “Lost in Space”) quem explica: “Estiveram aqui quem realmente ama as artes cênicas sem preconceitos. Foi um acerto trazer peças que são sucessos, como “A Alma Boa de Setsuan” e “O Homem das Cavernas”, que aqui alcançaram um público ávido por teatro, mas sem condições de pagar para assisti-lo.” Calvozo destaca a unidade e coesão desta 3ª edição do Festibero: “Todas as peças primaram pela qualidade e mostraram que no Brasil se faz bom teatro fora do eixo Rio-São Paulo e que temos muito a dialogar com a cena teatral ibero-americana”.
Após assistir quase todas montagens teatrais, Fernando Leça (à esquerda, na foto, ao lado do escritor Oswaldo Mendes, que lançou um livro sobre Plinio Marcos), presidente do Memorial, confirmou que esta 3ª edição consolidou o Festibero, de tal forma que daqui pra frente ele tende a ganhar forças e se ampliar. “Estou muito satisfeito com a qualidade dos espetáculos e com o impacto no público. Todos os dias tivemos casa cheia. Sem dúvida, faz sentido organizarmos um festival desses no Memorial. O Festibero é uma boa forma de integrar a América Latina por meio da Cultura. Ora, essa é a missão do Memorial”.
Uma atração paralela ingênua também mereceu destaque no Festibero. Trata-se do Circo de Teatro Tubinho, que armou sua lona em frente ao auditório Simóm Bolívar. Muito popular nas primeiras décadas do século XX, o circo-teatro é uma arte em instinção. A troupe do palhaço Tubinho é a última família a levar o circo-teatro como antigamente. Eles fazem isso há mais de 50 anos, com pequena interrupção nos anos 80. Pereira França Neto, o Tubinho, chegou às lágrimas ao agradecer o convite para participar do Festibero. Afinal, foi a primeira vez que o ele pode levar seu circo-teatro para São Paulo.
As atividades do Festibero de domingo começaram às 18h com o circo-teatro Tubinho Baita Macho (Ah, se o Anacleto soubesse). Inspirado em comédia de Paulo Orlando, o espetáculo é uma divertida confusão aos moldes tradicionais do circo-teatro de antigamente, que continua vivo pela arte da trupe do Circo de Teatro Tubinho. Anacleto, homem submisso e dominado pela mulher, resolve cair na farra. A coisa começou a ir mal quando a sua amante resolve visitá-lo na sua casa…
Saiba como foram os primeiros dias do Festival
Sinopses e fichas técnicas das peças da mostra principal do III Festibero
A história do Circo de Teatro Tubinho e as sinopses de seus espetáculos
Plínio Marcos
Para lembrar os 10 anos sem Plínio Marcos houve uma sessão de autógrafos do livro Bendito Maldito – Uma Biografia de Plínio Marcos, de Oswaldo Mendes. A homenagem a Plínio Marcos continuou na Mostra Principal, às 18h00, com a encenação de Balada de um palhaço, da Cia Artes & Fatos, de Goiânia. De excelente qualidade, a montagem é dirigida por Danilo Alencar e tem no elenco Bruno Peixoto (Menelão) e Edson de Oliveira (Bobo Plin).
Escrito em 1986 por Plínio Marcos no leito do hospital em que se recuperava de enfarte, o texto desenvolvido pelos personagens Menelão e Bobo Plin (alter ego do dramaturgo) traz à tona os conflitos que impulsionam as relações humanas. Quando estreou, em 2006, a peça conquistou o Prêmio Mirian Muniz de Teatro da Funarte.
Organizado pelo Memorial da América Latina, o Festibero visou mapear a produção teatral contemporânea e traçar certos paralelos entre a produção dos países da América Latina, de Portugal e da Espanha. Esses temas foram discutidos nas concorridas mesas de debates. Com isso se pôde fazer uma ponte cultural que possibilitou a troca de experiências entre artistas e companhias para discutir a evolução do fazer teatral dentro da realidade desses países, não esquecendo a realidade cultural de cada um, suas origens e a ligação do teatro com suas comunidades, descobrindo semelhanças e dificuldades comuns ou específicas de cada grupo.
A Mostra Principal apresentou às 19h00, na platéia B do Auditório Simon Bolívar, o espetáculo brasileiro O Homem das Cavernas, com o ator premiado Norival Rizzo. O texto do americano Rob Becker estreou em 1991 nos EUA, em San Francisco, e desde então não saiu de cartaz, pois se espalhou pelo mundo: ganhou versões em 16 idiomas e em 35 países, conquistou prêmios e foi vista por mais de 8 milhões. Também é o espetáculo solo que ficou mais tempo na Broadway.
A fórmula de sucesso da peça é o binômio sinergia/competência de diretor e ator. No Brasil, o premiado ator Norival Rizzo é dirigido por Alexandre Reinecke – quarta parceria da dupla. A temática do texto são as históricas divergências e os eternos mal-entendidos entre os sexos. O Homem das Cavernas conta tudo isso com pitadas de humor e grifa as diferenças entre universos tão próximos e tão distantes.
A terceira peça do dia foi a portuguesa Lost in Space, baseada na obra Alto Mar, do polonês Slawomir Mrozek, conhecido por usar ao limite a paródia trágica e a sátira amarga. A adaptação da companhia Kind of Black Box retratou com muito humor o momento mais trágico de três astronautas portugueses à deriva no espaço, sem provisões e sem comunicação com a Terra. A narrativa conduz para uma só questão: qual o final dessa epopéia? A direção de: Yuri Kurkotchensky traz no elenco João Craveiro, Paulo Duarte Ribeiro e Tobias Monteiro. No final, um dos personagens anuncia que fará uma ode à liberdade e, com as mãos carregadas de cravos vermelhos, declama a letra de “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Ao mesmo tempo, joga as flores para o público. Uma boa forma de encerrar o festival, não?
Fotos Fábio Pagan