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Os presentes na abertura da mostra poderão ser fotografados em estúdio montado no local
ao lado da Rainha do Carnaval de São Paulo 2011, Luana Campos
Um pouco antes do início do Carnaval, o Memorial da América Latina inaugura uma exposição de fotografias para celebrar a festa mais popular do Brasil, com fotos oriundas de vários países do continente americano. As imagens são do fotógrafo americano radicado em São Paulo, David Wolf. Elas imortalizam cenas, fantasias, rostos, detalhes de personagens anônimos e emblemáticos de uma humanidade enfim feliz. A mostra, denominada “Carnaval for all”, será inaugurada em 24 de fevereiro na Biblioteca Latino-americana Victor Civita.
A festa de abertura contará com integrantes da Escola de Samba Camisa Verde e Branco. São ritmistas e passistas, que não só se apresentarão como – novidade – posarão para fotos ao lado de quem queira em pequeno estúdio montado no local pelo próprio David Wolf. As fotos serão enviados aos convidados por e-mail. A recém eleita Rainha do Carnaval de São Paulo, Luana Campos (foto à direita), será uma das passistas. Este ano ela também é a Rainha da Bateria da Escola de Samba Arco-íris, a primeira escola de samba gay de São Paulo.
Outras presenças confirmadas são de Joice, Rainha da Bateria da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, Mestre Gabi, Cidadão Samba de São Paulo, a Porta Bandeira e o Mestre Sala da Camisa Verde e Branco, bem como baianas e outros integrantes da escola, que virão diretamente do ensaio na sede situada nas proximidades do Memorial. Carlos Roberto dos Santos, o Kaká, também conhecido por Amaral (pseudônimo artístico), diretor cultural da Camisa Verde e Branco, calcula que mais de 100 integrandes da agremiação virão na abertura, afinal, é "Carnaval for All".
“Por que fotografo o Carnaval? Ora, porque é fácil e simples: acontece todo ano, as pessoas estão predispostas a serem fotografadas, o cenário e o figurino estão prontos e tem movimento”, responde David, não sem um traço de ironia, como se bastasse estar lá e clicar, sem se importar com a sensibilidade artística, a composição, a luz… Mas o Carnaval não é seu único tema. Em 2004, expôs “Povos de São Paulo”, na Galeria Olido.
Nascido e criado
David nunca mais parou de fazer isso. Um resumo da carreira fotográfica de Maurice Wolf pode ser conferida no site do jornal The Washington Post de 6 de janeiro de 2008 (http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/01/05/AR2008010502586.html)
Antes de se radicar
Como seu pai, apesar de amar a fotografia, David não se dedica a ela profissionalmente. Prefere ser amador. Formado em Filosofia pelo Williams College de Massachussets, em 1985, ingressou na carreira financeira logo
Leia a apresentação de David Wolf de “Carnaval for all”:
“The images that stuck in my mind are few. Like the forms and colors of cards being shuffled, they flit and flutter and meld into undecipherable flashes.” (Entry in the diary of the photographer, April 2, 2004, after returning from the Oruru, Bolivia Carnaval)
(“As imagens que se fixaram na minha mente são poucas. Como as formas e as cores de cartas sendo embaralhadas, elas palpitam e flutuam até virar clarões indistinguíveis.” (Extrato do diário do fotógrafo, 2 de Abril, 2004, depois de voltar do Carnaval de Oruru, Bolívia).
“Quando cheguei dos Estados Unidos para trabalhar e morar no Brasil em 1995, naturalmente eu tinha expectativas altas para desfrutar do Carnaval do Rio, a festa mais famosa do mundo. Quatorze anos depois, eu ainda não conheci este Carnaval. No entanto, o Carnaval virou meu interesse fotográfico principal.
O Carnaval não é exclusivamente carioca. Não é exclusivamente brasileiro. Nem é exclusivamente da América Latina. Não chega a ser universal, mas certamente é global. Se eu fotografasse um Carnaval por ano até o fim dos meus dias, estatisticamente, eu deixaria de fotografar os Carnavais de milhares de lugares.
A proposta de “Carnaval for All” para a o Memorial da América Latina visa mostrar o resultado do meu trabalho fotografando entre 2001 e 2010, os Carnavais da Bolívia, Equador, Colômbia, Estados Unidos, e, no Brasil, São Paulo, Olinda, e Diamantina. Meu desejo é poder voltar em dez anos com fotos de mais dez carnavais do mundo para compartilhar com o Memorial.
Centenas de milhões de pessoas participam das festividades durante os quatro dias de Carnaval que precedem a Quarta-feira de Cinzas, o dia cristão de arrependimento. Em Latim, as palavras ‘carne vale’ significam ‘adeus a carne’, e o Carnaval de New Orleans se chama ‘Mardi Gras’, que significa em francês ‘terça-feira gorda’. As duas expressões sucintas descrevem o espírito do excesso que antecede a sobriedade da Quaresma iniciada na Quarta-feira de Cinzas.
É uma infelicidade que facilmente esquecemos que cinquenta milhões de indígenas habitavam as Américas antes da chegada de Colombo e Cabral e que os europeus trouxeram africanos para serem escravos. Os indígenas que não foram massacrados e os africanos que sobreviveram foram perseguidos e convertidos para o cristianismo, mas os dias logo antes do começo da sagrada época pascal, abriram uma janela de tolerância no qual os nativos e os escravos poderiam praticar suas tradições pré-cristãs. Assim, o Carnaval evoluiu até o Carnaval de hoje: um cabaré de rituais e revelias misturadas, com raízes européias, nativas americanas e africanas, que é repetido a cada ano, com o planejamento para a próxima festa começando logo que termina as festividades deste ano.
O Carnaval é uma prole acidental. A colonização e o reflexo contra a penitência exigida pelos colonizadores cristãos é seu parentesco. A celebração épica que se repete ano após ano nas grandes cidades e nos pequenos vilarejos quase pelo mundo todo contrasta com o sofrimento de centenas de anos de opressão.
Durante o Carnaval de qualquer lugar, existem dois tipos de pessoas: os que estão lá para se exibir e os que estão lá para ver os exibidos. Os exibicionistas e os voyeurs. Esta exposição seria a oportunidade de exibir meu próprio voyeurismo, e minha intenção é que através destas fotos feitas ao longo de nove anos, seja possível ver tanto a alegria, a beleza, e as esperanças das celebrações atuais, quanto os rastros e raízes da história do Carnaval.”
SERVIÇO:
Carnaval for all
Exposição de David Wolf
24 de fevereiro a 26 de março
Biblioteca Latinoamericana Victor Civita.
Portões 1, 5 e 6
Horário: 2ª a 6ª, das 9h às 18h, sábados, das 9h às 15h
ENTRADA FRANCA