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No ano em que chegou à maioridade – fez 21 no dia 18 de março de 2010 – o Memorial da América Latina retomou uma tradição interrompida há uma década, com a visita, no início de setembro, do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.
A vinda do recém-empossado governante latino-americano teve significados de relevância para a história do Memorial – lembra o presidente Fernando Leça. “Não bastasse o tom diplomático da visita ao país, a passagem dele por aqui colocou em destaque a missão integradora do Memorial da América Latina”. Na foto ao lado, o presidente Santos lê placa no busto de Simón Bolívar.
O que Fernando Leça resume a propósito da visita do presidente da Colômbia, se amplifica como um sentimento do dever cumprido ao longo de um ano fervilhante em ofertas de espetáculos artísticos e eventos culturais que ‘inundaram’ São Paulo como há muito não se via.
Por isso mesmo, e sem falsa modéstia – o saldo qualitativo de realizações, ao apagar das luzes de 2010 deve ser comemorado e, ao mesmo tempo, servir de espelho para melhorar a perfomance no ano que se inicia. Nessa relação custo-benefício ganha o paulistano e os milhares de visitantes que aqui aportam – quase 600 mil este ano.
E há um dado subliminar que não se contabiliza nos chamados relatórios que medem a visibilidade de imagem: o Memorial vem se consolidando cada vez mais como referência para cenários de novelas e produções jornalísticas da mídia impressa e televisiva na mesma proporção em que cresce a procura pela locação de espaços para megaeventos como os que se realizaram durante a Copa do Mundo de Futebol, a Semana Nacional de Conciliação e o Fura Dels Baús.
A esse plus indireto de audiência somam-se eventos de repercussão internacional, como os já consolidados festivais de cinema, (foto ao lado do filme "A falta que me faz") teatro e as festas nacionais dos países latino-americanos – Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, a Expo Peru e O Dia do Espanhol. “São realizações como essas que atestam a vocação da missão integradora do Memorial”, observa o presidente Fernando Leça.
Pela prancheta da Diretoria de Atividades Culturais (DAC), pilotada por Fernando Calvozo, responsável pela programação artística (shows, exposições de artes plásticas e afins), passaram nomes consagrados da MPB como Toquinho, Cauby Peixoto, Jair Rodrigues, Zélia Duncan, Moraes Moreira, Paula Lima, Demônios da Garoa, Paulinho Tapajós, Maria Odete, Leila Pinheiro, Hamilton de Holanda, Fernanda Porto.
Com eles, um elenco respeitável de artistas e grupos estrangeiros (México, Argentina, Venezuela, Cuba, Uruguai, Paraguai) enriqueceu os dois eventos mensais fixos produzidos pela DAC – o Projeto Adoniran e a Série Conexão Latina. As exposições da Galeria Marta Traba – especialmente as de Braun-Vega e Pierre Verger – e as produções no bojo do São Paulo Polo de Arte Contemporânea, conectado à Bienal 2010, exigiram profissionalismo e dedicação vigilante da equipe pilotada pelo diretor da DAC.
– Foi um ano produtivo e gratificante, que nos motiva a encarar 2011 com muito mais disposição para acertar na escolha de bons eventos e continuar oferecendo espetáculos de qualidade -, resume Fernando Calvozo.
Mas não é só isso. O leque de atividades do Memorial também contempla a vertente que pensa, debate e reflete os grandes temas nacionais e latino-americanos. Respondendo por essa agenda, o Centro Brasileiro de Estudos da América Latina – sob a batuta do professor Adolpho José Melfi – promoveu palestras, cursos de extensão e seminários que deram ênfase a temas antenados com o momento político do país e do subcontinente. Os debates acerca da Liberdade de Imprensa e da Democracia na América Latina foram, não por acaso, os que mais repercutiram na mídia.
A íntegra desses conteúdos foi transformada em livro, que teve coordenação editorial da pesquisadora Cremilda Medina. Não é a única obra lançada pelo Memorial em 2010. A história da fundação foi contada no livro “Memorial, 21 anos”, do historiador Shozo Motoyama. Outros lançamentos: “O Mercosul e a Integração Regional” (de autoria do embaixador Rubens Barbosa), “A Escrita Flusser” e “Padre Vieira 400 anos, Imperador da Língua Portuguesa”. Ainda na área de publicações, a revista trimestral Nossa América dedica-se a pautas convergentes desses eventos e temas correlatos.
Em um dos vértices dessa mescla de acadêmicos, cientistas políticos, antropólogos e jornalistas, destaca-se a Cátedra Unesco-Memorial da América Latina, parceria com as três universidades públicas paulista – USP, UNICAMP e UNESP. O programa da quinta edição, desenvolvida no primeiro semestre do ano, focalizou o agronegócio na América Latina e teve a coordenação do catedrático Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura.
No âmbito da Cátedra também foi lançado o Foro Permanente de Reflexão sobre a América Latina. A cada mês, pesquisadores e pós graduados da USP trazem para o público as teses defendidas nos bancos universitários, especialmente aquelas que abordam temas sintonizados com as políticas públicas dos países da América Latina.
A divulgação de conhecimento para um eclético público de visitantes diários tem sua base na Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, que teve seu acervo ampliado. Quem passou por lá também pode conferir várias exposições – “Caravana do Cordel”, com xilogravuras, e a mostra dedicada ao Nobel de Literatura, Mario Vargas Lhosa, foram duas delas.
Política cultural, Virada Esportiva, Cine Tela Brasil, Circo Roda, corais, eventos beneficentes, concurso de Miss Brasil, O Aprendiz e outros programas de grande audiência da TV – a demanda por locação tem sido uma roda-viva na área comercial do Memorial, que também começa a se expandir e levar know-how para fora de São Paulo, como no 7º Festival América do Sul, realizado no primeiro semestre em Corumbá/MS.
Se a demanda cresce, a casa precisa estar bem-arrumada para oferecer conforto e condições de acesso fácil. Assim, o auditório Simon Bolívar, o Pavilhão da Criatividade, a passarela, e o prédio da administração ganharam impermeabilização e pintura nova por dentro e por fora, os sanitários também.
Mas, a melhor notícia para quem sempre quis vir ao Memorial e ainda encontrava alguma dificuldade, fica reservada às pessoas com deficiência visual. Ano que vem – logo, logo – começam as obras de execução do piso tátil e de totens em Braille em toda área do Memorial. Quem vier pelo portão 1, poderá utilizar a plataforma inclinada nas escadarias de acesso da entrada principal, onde está instalada a exposição permanente Etnias, da artista plástica Maria Bonomi.
Por Daniel Pereira
Fotos: Daniela Agostini