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A obra e influência do genial compositor de “Ai que saudades da Amélia”, em parceria com Mário Lago, entre tantos outros sucessos, continuam vivas no imaginário musical brasileiro. Evidência disso é o show programado pelo Memorial para esta quinta-feira, 15 de abril, que marca o lançamento de CD em homenagem ao centenário do nascimento de Ataulfo Alves, um dos autores mais populares do Brasil de todos os tempos. A atração faz parte do Projeto Adoniran de Abril.
Participam do espetáculo seu filho, Ataulfo Alves Jr.(última foto), e as cantoras Milena (à direita) e Zezé Motta (à esquerda). Eles se apresentam acompanhados de banda de 5 componentes. Também faz parte do show Alaíde Costa, que canta acompanhada pelo pianista André Mehnari. No final, todos sobem ao palco e cantam em conjunto.
O CD duplo “100 Anos Ataulfo Alves”, ora lançado pela Lua Music, apresenta um volume com gravações exclusivas de artistas consagrados e outro com novos talentos. Além de Alaíde Costa (à esquerda), André Mehnari (à direita), Ataulfo Alves Jr, Milena e Zezé Motta, que fazem o show no Memorial, participam do CD Beth Carvalho, Elza Soares, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Ângela Ro Ro, Luiz Melodia, Germano Mathias, Ná Ozetti, Virgínia Rosa, Simoninha e Fabiana Cozza, entre outros. O CD estará à venda no foyer do auditório Simón Bolívar, no dia do show.
Talento puro e elegância
Filho do sanfoneiro Severino, Ataulfo Alves (à esquerda no traço do caricaturista Amorim) nasceu em 2 de maio de 1909 em uma fazenda da Zona da Mata mineira. Aos 10 anos, perdeu o pai, deixou a fazenda e foi para a pequena cidade de Mirai-MG. Lá foi obrigado a apelar a expedientes para sobreviver, comuns aos meninos pobres da época: trabalhou como leiteiro, condutor de bois, apanhador de malas na estação, menino de recados, engraxate, plantador de café, arroz e milho, entre outras ocupações precárias e provisórias. Mas Ataulfo Alves (na foto abaixo, com suas Pastoras) chegou ao Rio de Janeiro aos 17 anos e logo deu um jeito de engatilhar a carreira de sambista, ao mesmo tempo em que trabalhava numa farmácia. O músico sempre encontrou apoio em sua mulher, dona Judith (a três fotos abaixo, com casal anônimo).
Veja como o site www.ataulfoalvescemanos.com.br define o compositor, sob o título “Morre o homem fica a fama”:
“O mundo é mesmo assim/ O tempo voa/ A nossa vida/ Vai por uma coisa à toa/ No dia em que minha vez chegar/ Tristeza não vai adiantar/ Meu samba tem que continuar” cantou um dia, visionariamente, o menino de Miraí que se fez famoso no Rio de Janeiro. (…) Aos 17 anos, chega ao Rio de Janeiro levado por Afrânio Moreira Resende, médico de Miraí. Trabalha no consultório, entrega recados e receitas. À noite, faz limpeza e outros serviços domésticos na casa do médico. Logo consegue vaga de lavador de vidros na Farmácia e Drogaria do Povo e torna-se prático de farmácia.
Já sabendo tocar violão, cavaquinho e bandolim, ele freqüenta rodas de samba e torna-se diretor de harmonia do bloco “Fale quem quiser", no bairro do Catumbi. Pouco depois Ataulfo Alves já desponta em meio às fileiras dos grandes sambistas de sua época. Ele pertence à elite de uma geração de compositores que fixou o samba como gênero musical, liberando-o da herança do maxixe. Dessa geração, que sucedeu aos pioneiros Sinhô, Caninha e Donga, fazem parte figuras como Ismael Silva, Wilson Batista, a dupla Bide e Marçal e outros bambas.
A diferença entre o samba de Ataulfo (à esquerda, ao lado da mãe, dona Matilde Rita de Jesus) e o desses compositores é que – oriundo da Zona da Mata Mineira e descendente de um violeiro cantador – ele incorporou à sua música influências da toada rural, daí resultando a cadência arrastada e um certo jeito dolente e melancólico. Integrante da constelação dos principais compositores nacionais surgidos na década de 1930, uma geração fundamental para a formação do que depois veio a ser a moderna música popular brasileira, Ataulfo se destaca entre esses criadores como o autor de uma das canções de maior popularidade jamais compostas no Brasil: "Ai Que Saudades da Amélia" (1942), em parceria com Mário Lago.
Daí a “Você passa, eu acho graça” (1968), a trilha sonora da vida de Ataulfo Alves só fez enriquecer-se e inflar num suceder de sucessos. Antes da Amélia houvera “Sexta-feira”, “Tempo Perdido” (na voz de Carmen Miranda)/1933, “Saudades do meu barracão”/1935, “A você”/1936 e “Saudade dela”/1936. E, ainda, “Você”, Quanta Tristeza” e “Boêmio”/1937, “Sei que é covardia, mas”/1938, “Errei, erramos” (na voz de Orlando Silva)/1938, “Oh! Seu Oscar”/1939, “O Bonde São Januário”/1940 e “Leva meu samba” (quando Ataulfo começa também a atuar como intérprete, junto com suas Pastoras) e “Alegria na casa de pobre”/1941. Depois da Amélia, “Atire a primeira pedra”/1943, “Infelicidade”/1947, “Errei sim”/1950, “Fim de comédia”/1952, “Pois é”/1954, “Meus tempos de criança” e “Mulata Assanhada”/1956, “Vai, mas vai mesmo”/1958, “Corda e caçamba”/1962, “Na cadência do samba”/1962, “Laranja madura”/1966.
Um enfileirar-se de músicas memoráveis que enriqueceram como nunca o nosso cancioneiro, batidas de bamba que estruturaram um samba com um quê carioca, mas com um pé sempre cadenciado pelos sons de antanho, surgidos das matas mineiríssimas de sua Miraí. Daí (re) começa a caminhada para a fama, aquela que fica “depois que morre o homem”: num 20 de abril de 1969, vencido por uma úlcera no duodeno. Não sem antes afirmar num daqueles sambas definitivos: “Querem apanhar café/ Numa roça de arroz/O samba que eu faço agora/Viverá amanhã e depois”.
Serviço:
Dia 15 de abril, quinta, 20h30
Projeto Adoniran: Centenário de Ataulfo Alves
Show de Ataulfo Alves Jr, Zezé Motta, Milena, Alaíde Costa e André Mehmari.
Auditório Simón Bolívar. Ingressos: R$ 15,00 (meia R$ 7,50)
Bilheteria: dias 14 (14h – 18h) e 15 (a partir das 14h).