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Debate Produção independente e televisão pública – sabia como foi
Colombiano expõe na parede entre as Salas de cinema 1 e 2 do Memorial
Veja como foi a primeira mesa de debates, que discutiu a internacionalização do cinema
São Paulo, 12 de julho de 2009.
Da terceira mesa (foto acima) de debates do 4º Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, que abordou o tema “Produção Independente e TV Pública”, participaram a produtora argentina Angeles Anchou, da Unidade Técnica do DOCTVIB II LATINOAMERICA, o cineasta argentino Sergio Iglesias, diretor de “Argentina e sua Fábrica de Futebol”, e o cineasta brasileiro Newton Cannito (foto abaixo), diretor de “Jesus no Mundo Maravilha”. Eles foram mediados por Max Eluard, coordenador executivo do DOCTV Brasil.
O debate, que na verdade foi um bata-papo, girou principalmente em torno do DOCTV, já que todos os debatedores participam do programa como produtores ou realizadores. O DOCTV é um Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro e nasceu em 2003 como uma política da Secretaria do Audiovisual voltada à produção de documentários e à TV Pública. Já houve quatro edições no Brasil.
Todos os Estados brasileiros participam do Programa por meio de suas TVs ou Instituições Públicas em associação com a produção independente, formando a Rede DOCTV. Em 2006, o Programa DOCTV tornou-se modelo de política pública e foi inspiração para a criação do DOCTV Ibero-América, que implantou sua sistemática de co-produção e teledifusão em 14 países latino-americanos, além de Portugal e Espanha e já está em sua segunda edição. Neste festival, o DOCTV Ibero-América foi responsável por uma categoria em que foram exibidos 12 filmes realizados pelo programa.
Uma das primeiras questões a que tiveram que responder foi sobre as diferenças entre programas para TVs públicas e privadas. Para Sergio Iglesias (foto), na TV privada há uma só mensagem já pré-estabelecida para todo o mercado. A TV pública seria o único espaço onde é possível a experimentação dos produtores independentes. Ele acha que a função da TV pública é resgatar os valores culturais do país. Ele acredita ser possível haver uma TV pública com conteúdo e entretenimento, termo geralmente associado aos canais privados.
Newton Cannito questionou o termo produção independente, já que, segundo ele, as TVs que compram o programa têm controle sobre o conteúdo exibido. Para ele, a identidade do canal é o que vem primeiro e os produtores têm de se adequar a ela na hora de realizarem seus produtos. Cannito disse que a TV pública deve atuar corrigindo o mercado, apontando novos rumos. Ele não vê identidade nas TVs públicas brasileiras e não acha que a TV pública tem de ser educativa por definição.
Angeles Anchou (foto à esquerda), que representa o INCAA (Instituto Nacional de Cine Y Artes Audiovisuales, da Argentina) pensa o contrário. Para ela, a TV pública tem de ser educativa e programas como o DOCTV também. Tudo depende do que se entende por educativo. Se for para formação de público, é educativo. Para ela, a TV pública deve produzir conteúdo inteligente e com valores. O mediador Max Eluard lembrou que a TV no Brasil nasceu privada e a primeira TV pública foi criada na época da Ditadura e era uma TV governamental, ao contrário da Europa, em que a TV nasceu pública e depois abriu concessões para canais privados. Ele lembra que a discussão sobre TV pública no Brasil é bastante recente e atribui a isso a suposta falta de identidade de que fala Cannito.
Eluard disse que vê a TV pública como um espaço de experimentação de linguagem, de criação de novos formatos (o DOCTV não impõe temas, mas os projetos são selecionados por uma comissão mista). Ele atribui ao programa um profundo e acelerado amadurecimento do produtor independente, que aprende a dialogar com a experiência social que é ver televisão, muito diferente da do espectador de cinema.
Angeles Anchou, por fim, lembra que a convocatória para o II DOCTV IB vai até 7 de agosto. Os documentaristas ibero-americanos podem se informar pelo site da tv pública de seu país sobre como participar desta segunda edição. Afinal, como diz a frase publicitária do programa, “quando a realidade parece ficção, é hora de fazer documentários”.
Por Paloma Varon
Fotos Fábio Pagan