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Santiago Plata fala de sua aventura continental em busca da arte rupestre
´O homem atual tem televisão, o homem ancestreal tem cosmovisão´
A exposição América do Sul Rupestre, do artista plástico colombiano Santiago Plata, foi inaugurada na noite do dia 16 de setembro, com a presença do cônsul da Colômbia em São Paulo, Edwin Ostos, de colombianos e de brasileiros interessados em arte.
O presidente do Memorial da América Latina, Fernando Leça, destacou a singularidade desta exposição. “É a primeira vez que a Galeria Marta Traba expõe obras como estas, que remetem ao nosso passado ancestral”, disse o presidente.
Edwin Ostos, cônsul da Colômbia, lembrou ao público que Santiago Plata representa o lado bom da Colômbia, que, infelizmente é pouco divulgado. “Seu espírito de aventura, de solidariedade e a iniciativa de trazer estas preciosidades para a apreciação pública são louváveis”, disse.
A mostra é o resultado de um projeto de criação e investigação artístico-cultural, cujo objetivo foi realizar registros para a divulgação da arte rupestre sul-americana, especificamente de petróglifos, utilizando-se a técnica de gravura chamada frottage (decalque e/ou cópia de texturas e baixo relevo em tamanho real).
A exposição, que vai até 12 de outubro, contará com oficinas e vivências sobre arte rupestre e frottage, ministradas pelo próprio artista. A exposição conta também com material explicativo, fotos e textos didáticos que apresentam a metodologia do trabalho e questões históricas e geográficas dos petróglifos.
Santiago Plata vem ganhando destaque no meio artístico graças ao seu singular trabalho de registro e mapeamento de gravuras rupestres em todo o continente latino-americano. Desde 2002, o artista tem percorrido de bicicleta mais de 32.000 km, realizando os registros da arte rupestre utilizando apenas entretela, TNT, sementes de abacate, carvão e PVC. “Quero ajudar a resgatar a identidade do nosso povo”, disse.
O artista visitou diversos sítios arqueológicos espalhados pela América Latina, coletando inscrições, gravuras e marcas deixadas pelas antigas civilizações na paisagem do local. O trabalho que começou na Colômbia, já conta com mais seis países percorridos: Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina e Uruguai. Ele já recolheu cerca de 90 gravuras em mais de 300 metros de tecido. No momento, o artista explora o interior do Brasil.
Paralelamente a esse seu trabalho de coleta, Plata realiza um projeto com crianças, por onde passa, coordena oficinas e palestras para ensinar a técnica de frottage e ressaltar a importância da conservação dos petróglifos. “A bagagem que carrego chegou a pesar 120kg, mas não tem jeito, tenho que levar comigo todos os trabalhos que vou coletando, não tenho como deixá-los durante a viagem”, conta o artista, que conclui: “por outro lado isso é muito bom, sempre tenho material suficiente para organizar exposições por onde passo”.
Graça ao seu esforço, o artista conseguiu reunir o maior acervo de gravuras rupestres de toda a América Latina. O colombiano já expôs em várias capitais de países vizinhos como Buenos Aires, Santiago, Montevidéu e Assunção. No Brasil, a exposição já passou pela Universidade Federal do Paraná e o Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. O colombiano ainda assina o painel de concreto com réplicas de inscrições em petróglifos, produzido especialmente para o Museu de História do Pantanal, em Corumbá (MS). Esta será a sua primeira exposição em São Paulo.
O que não falta a Santiago são histórias para contar: “cada região tem características particulares, porém um traço muito marcante em comum é a hospitalidade dos povos”. A linguagem artística é o elo. “Lembro do que aconteceu no Paraguai, quando acampei durante um tempo em uma gruta, perto de uma tribo indígena que só falava guarani. A comunicação era muito difícil, eu sentia que eles queriam se aproximar, mas não nos entendíamos. A conversa só foi estabelecida através dos petróglifos”, conta o colombiano.
Plata busca a compreensão da origem do homem por meio de seus resquícios pictóricos: “esses desenhos nos contam a história do nosso povo, observando-os é possível entender como se relacionavam, seus costumes, crenças e até como lidavam com os fenômenos naturais, como eclipses e tempestades”. O artista ainda ressalta a importância da preservação desses sítios arqueológicos: “é triste perceber que mais de 30% das gravuras registradas há 30 anos já se perderam, tenho consciência de que muito do que registrei já foi destruído”.
Santiago Plata fala de sua aventura continental em busca da arte rupestre
´O homem atual tem televisão, o homem ancestreal tem cosmovisão´
América do Sul Rupestre – Santiago Plata
Período da exposição:
de 17/09 a 12/10, de terça a domingo, das 9h às 18h.
Entrada franca
Memorial da América Latina
Galeria Marta Traba (portões 1, 5 e 6)
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda
Tel.: (11) 3823-4605
Oficinas:
I – Atelier de Arte Rupestre e frottage: quatro encontros nos dias 19 e 26/09 e 3 e 10/10/2008 das 14h às 17h, são 10 vagas para estudantes de arte, artistas e interessados em geral.
II – Arte Rupestre – Oficina de frottage: dias 20 e 21 de setembro das 10h às 12h, são 10 vagas por turma direcionadas ao público em geral como parte da Programação da Primavera dos Museus.
III – Vivências em Arte Rupestre: dias 23 e 30 /09 das 10h às 12h, e dias 25/09 e 2/10 das 14h às 16h; são 30 vagas por dia para turmas de estudantes do ensino fundamental e médio. A oficina será composta por uma visita monitorada pelo artista à exposição e posterior atividade prática em frottage, gravura e estampa.
IV – Semana da Criança: Brincando com Arte Rupestre: dias 7, 9, 11 e 12 de outubro, das 10h às 12h, e dias 8, 11 e 12 de outubro, das 14h30 às 16h30; são 15 vagas por turma direcionadas às crianças como comemoração da Semana da Criança
Inscrições gratuitas por e-mail: alicequadrado@gmail.com ou angelabarbour@memorial.sp.gov.br ou por telefone: (0xx11) 3823 4704
1a. e 2a. fotos: Fábio Pagan
3a. e 4a. fotos: Santiago Plata