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Quem chegar ao Memorial pela entrada principal vai se surpreender: na passagem de nível de 50 metros que liga o metro ao conjunto arquitetônico o visitante encontra o painel “Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil”, a mais nova criação de Maria Bonomi. Nesse corredor espelhos em toda a extensão das duas paredes e uma iluminação cenográfica emolduram painéis que recontam de forma estilizada a história do índio brasileiro. No dia 22 de agosto, quarta-feira, será inaugurada a primeira etapa da obra, prevista para terminar em dezembro.
“Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil” é composto por alto e baixo relevos em cerâmica, bronze e alumínio. Os painéis em argila de alto cozimento remetem à época anterior à chegada dos europeus. Neles estão evocadas as origens, a mata, cavernas, pinturas rupestres, padrões indígenas, instrumentos rituais, armas, animais e as primeiras habitações. Os painéis em bronze remetem à chegado dos colonizadores. Lá estão as caravelas, os personagens, as armas de fogo, os sinos, as fortalezas, as missões; por fim, os painéis de alumínio investigam a presença indígena na contemporaneidade, como na construção de Brasília, por exemplo.
Tal qual uma linha do tempo, ela dividiu o percurso de "Etnias" nessas três fases. O primeiro, “arqueológico”, é feito totalmente em barro; o segundo, já abordando o primado da técnica, é cunhado em bronze; e o terceiro, em alumínio, pois esse material, segundo Bonomi, remete aos tempos atuais. Na verdade, a matéria plástica trabalhada por Maria Bonomi é o tempo. Assim é que há 17 anos construiu no próprio Memorial um outro painel em relevo denominado "Futura Memória" e recentemente fez para a Estação da Luz a "Epopéia Paulista".
Mais do que ser apenas uma experiência contemplativa, ao passar entre as placas maciças e, por meio do jogo de espelhos, as pessoas se integram à obra. E passeiam através de uma série de "fotogramas" gigantes e penetráveis, que formam uma espécie de “espetáculo” em alto e baixo relevo. O corredor de entrada do Memorial se transforma assim num espaço interativo, no qual o público se integra fisicamente com a História.
Para a execução desse projeto, Maria Bonomi instalou um ateliê no subsolo da Galeria Marta Traba do Memorial, no ano passado, onde foram utilizadas mais de 10 toneladas de matéria-prima, trabalhada por artistas nacionais e internacionais qualificados e índios da Aldeia Krukutu. Ao todo aproximadamente 30 pessoas participaram do projeto, entre as quais, além de Bonomi, o artista venezuelano Carlos Pedreañez, o argentino Leonardo Ceolin, e os brasileiros Cláudia Maria Braga Ribeiro, Lourdes Sakotami, Suzette Salvetti e Talita Zaragoza. Ainda trabalharam, entre outros: na coordenação geral, Maria Helena Peres Oliveira, assistida por Alexandre Martins; no projeto Arte Educação, Alberto da Silva; na consultoria antropológica, Cláudia Andujar e Cildo Oliveira; na arquitetura e montagem, Rodrigo Velasco e o ceramista Antônio Nóbrega. Altos fornos e uma fundição estão concluindo as peças de arte.
"Etnias: Do Primeiro e Sempre Brasil" foi orçado em R$ 1.731.820,00, mas não custará nada ao Memorial ou aos cofres públicos. Aprovado pelo Ministério da Cultura, o projeto tem o nº Pronac 05 5764. Até o momento, o grande patrocinador é o Banco Itaú, que entrou com um milhão de reais. O restante, o Ateliê Maria Bonomi espera captar até o final do ano.
Maria Bonomi é uma das mais respeitadas artistas plásticas do País: engajada, libertária e multimidiática. Seu empenho em defesa da autenticidade e da qualidade da obra lhe conferem reconhecimento explicitado nas extensas coleções que figuram nos mais renomados museus e coleções particulares nacionais e internacionais. Faz trabalhos de arte pública desde a década de 1970, com painéis em diversas cidades brasileiras e no exterior, e mais de 50 obras já instaladas. Destacam-se: Ascensão, Igreja da Cruz Torta, São Paulo, 1974; Arrozal de Bengüet, Hotel Maksoud Plaza, São Paulo, 1979; Futura Memória, Memorial da América Latina, São Paulo, 1989; Construção de São Paulo, Estação Jardim, São Paulo, 1998; Epopéia Paulista, Estação da Luz, São Paulo, 2005. Recebeu diversos prêmios: Melhor Gravador Nacional, na VIII Bienal de São Paulo (1965); Prêmio Theadoron, na V Bienal de Paris (1967); Prêmio do Júri Internacional na XV Bienal Internacional de Gravura de Liubliana (1983); 42º Prêmio Santista – Gravura, pela Fundação Bunge (1997). Tem doutorado em Arte Pública pela Universidade de São Paulo, concluído em 1999. Atua como gravadora, figurinista, cenógrafa e pesquisadora. Nascida em Meina, Itália, em 1935, de mãe brasileira. Maiores informações no site: www.mariabonomi.com.br
Inauguração da 1ª fase da obra "Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil" – Portão 1, ao lado da estação Barra Funda do Metrô. Dia 22, quarta-feira, às 19h30.