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“O Brasil e a América Latina têm capacidade para encontrar saídas no campo da bio-energia. Temos recursos hídricos, sol e uma pesquisa agronômica e biológica de classe internacional”, declarou o intelectual europeu Ignacy Sachs, em visita à Fundação, na quinta, 26 de outubro de 2006, abordando o primeiro tema de estudos da Cátedra Memorial da América Latina. Professor de Altos Estudos em Ciências Sociais na Universidade de Paris desde 1968, Sachs foi recebido pelo presidente do Memorial, Fernando Leça.
Ignacy Sachs se interessou em acompanhar o desenvolvimento da Cátedra Memorial da América Latina. Instituída em parceria com as três universidades públicas paulistas – USP, Unicamp e Unesp – a Cátedra Memorial da América Latina é um projeto acadêmico que visa trazer ao Memorial renomados pesquisadores para cumprir um intenso programa acadêmico, que inclui orientação a bolsistas, seminários e publicação de textos.
“Eco-sócio-economista”, o professor Sachs conhece muito bem as questões brasileiras pois é um dos diretores do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, da Universidade de Paris. “Acompanhei as preocupações do governador Montoro em inserir o Brasil no âmbito do Mercosul, do Pacto de Integração Amazônica e do Pacto Andino. Vejo agora que o Memorial está ajudando o país a desempenhar esse papel de integração. Fico contente em constatar que o Memorial da América Latina toma a iniciativa de criar uma Cátedra para discutir esse e outros problemas de vital importância para o Continente”.
Nascido na Polônia e naturalizado francês, Sachs é um intelectual cosmopolita que desenvolveu estudos no Brasil, Índia e Polônia. Escreveu mais de 20 livros. Por isso ele ficou satisfeito em saber que a Cátedra Memorial da América Latina se debruçará primeiramente sobre as questões energéticas na América Latina, orientada pelo catedrático Luiz Augusto Horta Nogueira, também presente no encontro. “A única maneira que nos resta de atuar para diminuir o impacto negativo da mudança climática está na capacidade de sair da dependência do petróleo”, diz.
A Cátedra Memorial da América Latina é coordenada pelo professor Eliézer Rizzo de Oliveira, diretor do Centro Brasileiro de Estudos da América Latina (CBEAL). Fernando Leça e Oliveira informaram ao professor Sachs que o próximo tema de pesquisa da Cátedra será justamente o meio-ambiente, naturalmente relacionado às questões energéticas. Ele celebrou a oportunidade da escolha: “O mercado é míope na questão social e ambiental. Precisamos encontrar solução para sair do panorama atual e encontrar condições que assegurem uma vida decente para milhões de trabalhadores do setor. Não se pode permitir que a produção de bio-energia se faça às expensas da segurança alimentar e da destruição das florestas nativas”.
Para Sachs, para enfrentar uma crise do petróleo que só tende a se agravar – pois, além das maiores reservas se concentrarem em áreas de conflitos, é uma fonte de energia não renovável – o Brasil tem vantagens e problemas importantes: “Os trinta anos de experiências positivas e negativas do Proálcool tornam o etanol imbatível no mercado internacional. O lado negativo é representado pela enorme concentração de riquezas e de terras, além do gasto energético da distribuição desse produto em um país da dimensão do Brasil”.
Embora o Brasil tenha diante de si uma oportunidade ímpar de inserção na economia mundial, não basta incrementar a produção do etanol e de outros bio-combustíveis, conforme concluiu o professor Sachs: “A bioenergia é apenas uma parte de um conceito mais amplo do que se chama desenvolvimento sustentado, um conceito que se baseia no tripé biodiversidade, biomassa e biotecnologia e que pode servir de alavanca para o lugar que a biomassa poderá representar nas próximas décadas. É alentador saber que há uma iniciativa do Memorial para discutir essa temática”.
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