
Foto: William Aguiar
O Memorial da América Latina e o Instituto Bibi Ferreira firmam uma parceria com foco na preservação e difusão da memória de uma das maiores artistas brasileiras, além de promover a ampliação da pesquisa sobre o teatro latino-americano.
A primeira ação entra em vigor a partir do dia 1 de setembro com o acolhimento do acervo de Bibi Ferreira, que passa a ser preservado pela instituição. São mais de 23 mil itens que contam a trajetória de uma das artistas mais marcantes do país e que incluem figurinos, prêmios, cartazes, partituras, programas de peças, fotografias, documentos, objetos pessoais, além de registros em áudio e vídeo.
“Receber no Memorial da América Latina o Museu Bibi Ferreira é uma honra imensurável. Estamos falando da maior atriz que o Brasil já produziu, uma artista cuja trajetória transformou não apenas as artes cênicas, mas também a comunicação e a educação, com iniciativas pioneiras como o programa Mão Amiga, que alfabetizou milhares de crianças pela televisão. Ao lado do acervo de Procópio Ferreira, esse patrimônio cultural passa a integrar a missão do Memorial: ser um espaço vivo de memória, reflexão e identidade latino-americana”, afirma Dr. Pedro Mastrobuono, Diretor-presidente da Fundação do Memorial da América Latina. “Como pós-doutor em Antropologia Social e com uma longa trajetória dedicada à gestão cultural, sei que este é um passo decisivo para fortalecer a consciência coletiva do nosso povo, mostrando como a arte, em diálogo com o Estado, pode gerar políticas públicas capazes de enfrentar as mazelas sociais, não se limitando aos problemas exclusivamente nacionais. Este novo aparelho cultural que nasce dentro do Memorial nos enche de orgulho e esperança.”

Bibi com o pai, Procópio Ferreira | Foto: Acervo/CEDOC/Rede Globo
Atriz, cantora e diretora, Bibi Ferreira foi um dos nomes mais emblemáticos da cultura nacional. Sua contribuição para a arte brasileira atravessou palcos, linguagens e fronteiras. Nos anos 1970, rompeu barreiras ao desafiar o machismo que predominava no meio artístico. Tornou-se uma das primeiras mulheres a dirigir peças de teatro no Brasil, em um cenário em que as mulheres eram aceitas apenas como atrizes, mas não em posições de comando. Já em 1952, conquistou o prêmio de Melhor Direção da Associação de Críticos do Rio de Janeiro pela peça A Herdeira, de Henry James, um feito que antecipava sua trajetória pioneira.
Sua relevância também foi reconhecida em sua cidade natal. Em 2015, recebeu o título de uma das dez mulheres que marcaram a história do Rio de Janeiro por sua contribuição artística. Fora do Brasil, alcançou reconhecimento internacional ao se apresentar em Nova York, em shows de ingressos esgotados, feitos que culminaram em uma reportagem do The New York Times em 2016.
A parceria entre o Memorial e o Instituto Bibi Ferreira reforça a preservação da memória da artista e também a possibilidade de fomentar novas pesquisas e reflexões sobre o teatro da América Latina. O acervo, que ficará abrigado pelo Memorial, servirá de fonte para estudos acadêmicos, exposições e ações educativas que ampliam o entendimento da arte como instrumento de transformação cultural e social.
“A parceria com o Memorial da América Latina é fundamental para o Instituto Bibi Ferreira. Nosso objetivo é ser referência na preservação da memória das artes cênicas na América Latina. Além do legado de Bibi, vamos pesquisar e difundir histórias de artistas marginalizados, valorizando um vasto patrimônio cultural”, conta Leonardo Góis, Presidente do Instituto Bibi Ferreira. “Manter a chama de Bibi acesa inspira gerações. Estamos digitalizando o seu acervo, com cerca de 23 mil itens, para uma plataforma virtual, democratizando o acesso. Importante dizer que essa iniciativa é viabilizada em parceria com o Google e patrocínio da Vale, este último através da Lei Nacional de Incentivo à Cultura”.
Com esse passo, o Memorial da América Latina reafirma seu papel como guardião da memória cultural e como espaço de produção de conhecimento, ao mesmo tempo em que celebra a trajetória de uma artista que redefiniu o lugar da mulher no palco e na direção teatral no Brasil.