ARTIGO

Diversidade e encontro: as cores do arco-íris

Crédito: Acervo pessoal

Por Diego Oliveira

Diretor cultural e captador de recursos e parcerias para a ParadaSP

É com imenso orgulho que compartilho uma perspectiva bastante pessoal: a de um homem cisgênero preto e de origem periférica que, há quase 30 anos, passava próximo à Fundação Memorial da América Latina. Naquela época, ainda criança, eu imaginava os inúmeros eventos que ali aconteciam, sonhando um dia em fazer parte daquele universo cultural e efervescente. Hoje, esse sonho se concretizou: sou parte ativa da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo-APOLGBT-SP e tive a honra de contribuir na produção da Feira Cultural da Diversidade LGBT+, além do Prêmio Parada SP, ambos realizados na própria Fundação.

A América Latina é um continente pulsante, um verdadeiro mosaico de culturas e expressões. Dentro dessa riqueza, a comunidade LGBT+ encontra diferentes formas de se manifestar e celebrar suas identidades em cada país. No Brasil, essa manifestação atinge uma dimensão singular: somos a nação que realiza o maior número de Paradas do Orgulho no mundo. A quantidade de eventos aqui supera, inclusive, a soma de todas as Paradas realizadas nos demais países da América Latina. Isso não apenas demonstra a força e a visibilidade do movimento, mas também se traduz na profusão de cultura e memória criadas em torno da diversidade. A Feira Cultural da Diversidade, acolhida pelo Memorial da América Latina, é um exemplo. Nela, diversos artistas se apresentam gratuitamente para a população ao longo de um dia, promovendo um rico intercâmbio cultural e contribuindo para a formação de público.

Por meio dos eventos que nossa ONG realiza, conseguimos trabalhar a formação de público e levar informação, educação, direitos humanos e cultura, criando boas memórias para as pessoas. Ajudamos a alicerçar uma base de indivíduos críticos e conscientes de seu lugar no mundo. Para a população LGBT+, esse lugar muitas vezes envolve vulnerabilidades, mas é através da arte e da cultura que conseguimos nos fortalecer, expressar momentos das nossas vivências e, principalmente, de superação. Desse modo, a cultura se torna um instrumento vital para salvar vidas.

O Memorial desempenha esse papel fundamental de promover a convivência com a diferença, independentemente das origens. Gosto sempre de usar o exemplo de um jardim bonito, repleto apenas de rosas vermelhas. Mas quando esse jardim ostenta rosas vermelhas, amarelas, brancas, orquídeas, margaridas e outras tantas cores e espécies, ele se torna infinitamente mais belo, pois tem a diversidade.

Quando falamos de América Latina, falamos de idiomas diferentes; quando falamos de Brasil, falamos de sotaques diferentes. Tudo isso é riqueza, é diversidade humana. Muitas vezes, não entendemos perfeitamente o espanhol ou o portunhol, mas conseguimos sorrir com a cultura e a arte apresentadas. A distância física entre nossos países ou estados pode ser um desafio, mas por meio das redes sociais ou de veículos de literatura como este, conseguimos apreciar o diferente.

A diversidade humana, assim como no exemplo do jardim, não sobrevive se reduzida a uma única cor, forma ou fragrância. É dos marcos históricos e dos gestos artísticos que nasce a renovação cultural. E a população LGBT+ floresce nesse solo fértil, como símbolo vivo da multiplicidade que nos move.